"Aos 76, comecei a correr, por engano; hoje tenho 94 anos e corro 12 km"
"O esporte entrou na minha vida de repente. Eu estava participando de um grupo de convivência da boa idade e lá fomos convidados para fazer uma caminhada no aniversário daqui de Cachoeiro de Itapemirim (ES) [cidade a 133 km de Vitória].
Tinha uma corrida, mas nós iríamos fazer uma pequena caminhada. O que aconteceu? Simplesmente, quando eu ouvi o barulho da largada da corrida, saí em disparada e fiz 10 km mesmo as pessoas me chamando e dizendo que não era para mim. Comecei no esporte por engano e hoje participo de corridas aos 94 anos.
Essa história teve início dois anos depois da morte do meu esposo. Eu tinha 74 anos quando ele faleceu. Ele nunca praticou esporte algum. Talvez nem se permitiria, pois sempre foi um homem de trabalho e só tinha olhos para o futebol.
Quando ele se foi, eu não estava muito motivada a fazer qualquer coisa. Aos 76 anos, depois que ingressei no meu grupo, encontrei na corrida a motivação para não ficar com a mente pesada. Vendo que aquilo me fazia muito bem, amei e não parei mais.
Minha família é de lavoura. Sempre trabalhei em casa de família como cozinheira e também em uma usina antiga, por isso jamais tinha tempo para a prática de esportes anteriormente. Me sinto agora como se tivesse nascendo novamente.
'É claro que causa espanto ver uma mulher de 90 anos correndo'
Já me perguntaram se eu sofro algum tipo de preconceito por causa da minha idade. Pelo contrário, tenho recebido muito carinho e admiração por onde passo.
É claro que causo espanto. Uma senhora com mais de 90 anos, que poderia estar aproveitando a sua aposentadoria em casa, mas em vez disso está fazendo de 5,7 km até 12 km não é para qualquer um. A corrida realmente me dá prazer.
Vejo as pessoas se exercitando, e eu passo ao lado delas. Elas, a princípio, olham com surpresa. Mas, em seguida, fica uma torcida. E quando sabem minha idade, então, viram torcedores, e me dão força. Elogiam minha disposição, que ainda tenho muita, graças a Deus.
"O problema é o deslocamento para as provas sem ter patrocínio"
Não é fácil se deslocar de uma cidade para outra ou de um estado para outro sem gastar.
Não somos patrocinados por ninguém, e isso gera um custo. Às vezes, alguns amigos de corrida nos conseguem um hotel para que possamos ficar à noite. Meu neto David Adão, que sempre está comigo, é quem me leva no seu carro onde tem corrida.
Para dizer a verdade, essa é única dificuldade. O resto a gente tira de letra.
Posso falar com toda certeza que a corrida é um grande amor. Conhecer outros lugares e correr em outros estados é muito legal.
Quem dera se eu tivesse condições para ir além. Mas eu vou aonde posso ir. Não existe uma obrigação ou algo planejado.
Inspiração
Meus coleguinhas corredores dizem que eu inspiro eles. Fico muito feliz com isso. Poder ajudar alguém a se superar em alguma coisa é revigorante.
A minha inspiração é a vontade de não parar, de seguir em frente. De simplesmente correr e chegar naquela linha que é viciante para todo corredor.
Fico feliz por inspirar outras pessoas. Para ser sincera, nem esperava por isso tudo. Só acho que nós temos que fazer mais por nós mesmo.
'Faça sua vida valer a pena'
Eu sempre digo àquelas pessoas que não se acham capazes: a idade chega para todo mundo, mas você é quem pode escolher se vai envelhecer de forma ativa ou não.
Antes eu tinha 15, 20, 30 anos... Mas atualmente, com 94 anos, é que me sinto mais viva. E enquanto estiver viva vou viver tudo que quero.
Faça sua vida valer a pena e quando chegar o momento de descansar, basta saber respeitar o corpo.
Não me importo com o pensamento dos outros, sigo vivendo e sendo feliz. E se me faz feliz, fico bem".
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