Chemsex: elas gostam de transar quando bebem álcool ou fumam maconha
Você ouviu falar em "Chemsex"? O termo vem do inglês, da expressão chemical sex (sexo químico, em inglês), que se refere ao sexo sob influência de drogas psicoativas. Algumas pessoas têm recorrido ao uso recreativo de substâncias para "animar" um pouco o dia a dia.
Desinibição é um dos motivos mais citados pelas mulheres que buscam o uso de substâncias estimulantes durante o sexo. A psicóloga e especialista em relacionamentos e sexualidade Lucia Pesca explica o porquê. "As mulheres são reprimidas sexualmente muito por conta de uma vivência social de preconceito que diz que se ela é soltinha demais ou sabe fazer muita coisa "é p*ta"", afirma.
Lucia afirma que o estímulo pode ser interessante, mas é preciso limites. "Eu sugiro usar cuidando a quantidade e a frequência, só o suficiente para terem consciência de tudo que tão vivendo, porque pode ser gostoso". Importante destacar que quando se fala de sexo a primeira coisa a dizer é que nada deve ser feito sem o consentimento dos envolvidos e envolvidas, e você não deve fazer nada que não tenha vontade. Tendo isso em vista, Universa conversou com três mulheres que têm usado as bebidas alcoólicas e a maconha para intensificar seus momentos de prazer.
Sentidos aguçados no sexo
Jheine Sieben, 24 anos, gerente de contas de Florianópolis (SC), diz que apesar de ter mais relações sexuais sóbria, vive os momentos mais gostosos quando fuma maconha e fica chapada.
"Quando fico chapada geralmente consigo sentir muito mais, e quando transo eu gosto de aguçar os sentidos e gosto de usar muitos brinquedos pra isso"
Ela, que se diz mística, alega que quando tem uma relação sexual gosta de se conectar de forma mais profunda com a pessoa, e aponta esse como mais um benefício do uso da maconha durante o sexo. "Eu sou bissexual, gosto de transar mais com mulheres porque eu sinto que elas curtem muito o toque, o tato, na hora de gemer, tudo é muito mais profundo. Com homens, em geral, é muito mais a satisfação corporal, e como sou bem mística quando transo gosto de sentir que estamos na mesma energia. Quando fico chapada, tenho essa sensação de sintonia.
Quem também se sente com a sensibilidade aflorada após o uso da maconha é a social media de 26 anos, Julia D'Ávila, Porto Alegre (RS).
"A maconha me traz uma sensação mais gostosa, o orgasmo é mais prazeroso, ele dura mais. Tanto é que tem no mercado uma gama de coisas a base de canabis, como lubrificantes, com comprovação científica de que faz o sexo ficar melhor".
Júlia, que é usuária de maconha há cerca de 6 anos, acredita que apesar de demorar mais para chegar ao orgasmo quando está chapada, o sexo fica consideravelmente melhor. "Maconha é um vasodilatador, vai, de certa forma, te ajudar a sentir mais as coisas, tanto é que não se aconselha ninguém a se chapar e fazer tatuagem, porque a pessoa estará com o sangue bombeando muito mais rápido - ao fazer tatuagem, isso gera mais dor, no sexo vai te gerar muito mais prazer."
Já para Stephanie Goulart, 24 anos, estudante de design de Lajeado (RS), a melhor forma de ter relações sexuais, atualmente com o parceiro com quem namora há mais de 3 anos, é bêbada. Contudo, ela enfatiza que é bêbada, mas sem perder a consciência.
"O momento em que eu consigo ficar alegre e extrovertida é o meu máximo, bêbada, mas com consciência sobre os meus atos"
Stéphanie relata preferir fazer sexo levemente alcoolizada para fazer coisas que já tinha vontade, mas que não se sentia livre o suficiente para fazer. Segundo ela, quando está sob efeito de algum tipo de droga, ainda mais o álcool, consegue se libertar de um personagem mais "certinho" e agir mais cruamente, sem tantas amarras. "Dá uma liberdade que às vezes eu não tenho, de passar um pouquinho do limite do que eu sempre faço", afirma.
Especialista recomenda uso esporádico e controlado
As três mulheres ouvidas nessa reportagem enfatizam que não condicionam a prática sexual ao uso de drogas, ou seja, não deixam de fazer sexo por não ter bebido ou fumado, apesar da preferência por realizar o ato com o uso desses estimulantes. É isso que recomenda a psicóloga e especialista em relacionamentos e sexualidade Lucia Pesca. Que se use o álcool e a maconha para intensificar o prazer em alguns momentos, mas de forma esporádica e controlada. "No limite em que te livra de conceitos pré-concebidos, baixa a ansiedade e a pessoa pode se soltar um pouco mais e pode dar certo, e dar certo não é chegar ao orgasmo, mas sim ter muito prazer durante a relação".
Lucia confirma o que a Júlia e a Jheine sentem, realmente o corpo fica mais sensível. "A pessoa quando usa essas substâncias fica não só com os sentidos, mas também o corpo mais aguçado. Sente uma sensibilidade que aumenta o desejo, aumentam os níveis de testosterona e estrógeno, e nas mulheres isso gera tesão" explica a médica.
Uma pesquisa publicada no The Journal of Sexual Medicine realizada por pesquisadores e pesquisadoras italianos, intitulada "A ingestão regular moderada de vinho tinto está associada a uma melhor saúde sexual feminina" aponta a quantidade ideal de consumo de vinho para intensificar o prazer sexual. "O estudo fala em 3 cálices de vinho branco, se for tinto é menos. Porque no momento que passa disso o corpo fica adormecido, como se fosse anestesiado, e a partir daí elas não conseguem entrar na coisa da testosterona e do estrógeno e sentem sono" comenta a psicóloga.
Identificar seus limites também é importante para se proteger. A possibilidade de violência sexual e física assombra a Stephanie, que faz questão de manter um controle maior sobre a própria consciência com medo de possíveis agressões. "A gente vê muitos abusos de caras com meninas desacordadas bêbadas e que as amigas saíram um momento de perto delas e eles foram pra cima... É por isso que eu me controlo tanto, não gosto de perder a lucidez num lugar onde eu não consigo controlar" relata.
Abusadores podem sim se valer de mulheres em estados alterados de consciência. Drogar a bebida das vítimas e forçá-las a fazer coisas que não desejam, são algumas as táticas e possibilidades de violência física e sexual. Mas é importante destacar essas substâncias por si só não estupram, não ferem, não agridem e, principalmente, não são convite ou permissão para que nenhum homem toque o corpo de uma mulher sem o consentimento dela.