De repente grisalha: elas assumiram os fios brancos antes dos 30 anos
Cabelo branco é sinal de que a idade "está chegando"? Não para todos. Por questões genéticas, déficits alimentares ou fatores emocionais, os fios brancos podem aparecer desde cedo — inclusive, em crianças.
É o que explica a dermatologista Karla Lessa, médica pós-graduada em saúde capilar: "Os fios de cabelos brancos são mais comuns após os 35 anos, mas eles podem aparecer antes dos 30 devido a alterações genéticas no gene responsável por regular a produção de melanina", afirma. Doenças como vitiligo, alopecia areata, alterações na tireoide e falta de nutrientes, como a vitamina B12, também podem contribuir para o envelhecimento capilar. Além disso, outros fatores, como estresse e exposição excessiva ao sol, também aceleram esse processo.
Com a pandemia, a quantidade de mulheres que assumiram os fios grisalhos aumentou e atrizes famosas como Samara Felippo, Suzana Alves, Preta Gil e Andie Macdowell abraçaram o movimento de "libertação da tinta". Se para alguns o cabelo branco é sinal de desleixo, para outras é sinônimo de empoderamento e liberdade.
É o caso de Jéssica Aroucha, Jaíne Tavares, Eliádna Santana e Thamires Oliveira. Elas são quatro mulheres grisalhas com menos de 30 anos que, mesmo depois de receberem várias críticas sobre o visual, pararam de ouvir apelos à pressão estética e passaram a aceitar os fios como eles são: brancos e saudáveis.
"Eu tentava esconder a verdadeira Jéssica"
"Tenho fios brancos desde os 18 anos, mas parei de pintar o cabelo aos 23. Por causa da química, meus fios não paravam de cair. Então, fiz uma promessa religiosa e parei de tingi-los. Durante a transição, até meu cabeleireiro me criticou, dizia que eu era muito nova para isso.
O processo de transição durou 1 ano e 8 meses. Demorei para ficar satisfeita com o novo visual e, por causa disso, aprendi a me maquiar — atualmente, trabalho como designer de sobrancelhas e maquiadora.
Quando eu dizia que estava assumindo meu grisalho, minhas clientes me chamavam de maluca. No dia em que a transição se completou, elas celebraram, tiraram fotos comigo, ficaram felizes
Minha família foi quem mais me criticou. Diziam que estava horrível. Respondia: 'Vocês estão pagando minhas contas? Então me deixem'. A gente tem que se amar do que jeito que a gente é — antes eu tentava esconder a verdadeira Jéssica. Queria ser uma pessoa que eu não era. Minhas mechas nunca toleraram o loiro, mas eu continuava forçando, tingindo o cabelo — agora, ao natural, ele está muito mais saudável, sem comparações. Acho que quando você força algo por pressão estética, deixa de ser legal.
A gente tem que se aceitar do jeito que é. Não vale a pena mudar a aparência por causa do seu marido, dos seus familiares. Você precisa decidir por você mesma. O fato de ter aceitado o cabelo branco mudou o jeito como me vejo. Quando uma pessoa me critica - e a maioria é homem - eu rebato com educação e amor. Nas redes sociais também: todo mundo acha que é juiz e o jeito é driblar o ódio."
Jéssica Aroucha, 27 anos, designer de sobrancelha e maquiadora, Paraná.
"Sargento Vampira com muito orgulho"
"Meus familiares ficaram grisalhos muito novos. Meu pai tem uma mecha branca no mesmo lugar da minha. O meu cabelo começou a embranquecer quando eu tinha 8 anos; aos 12, esse processo acelerou. Passei a sofrer bullying na escola, ouvia piadas e comentários ofensivos, falavam que eu estava ficando velha, me apelidaram de 'idosa', diziam que eu era o vampiro do X-Men.
Nessa idade, procurei uma dermatologista e ela disse que não estava doente, não tinha vitiligo nem nada. Os fios eram apenas uma condição genética e que não havia tratamento para controlar o avanço do grisalho. Então passei a aceitá-los. Antes, eu tentava esconder essas mechas, cheguei a pintar o cabelo de vermelho, mas agora, aos 28 anos, estou feliz com a transição. Isso sem falar no dinheiro que estou economizando: chegava a gastar cerca de R$ 1 mil por semestre com salão de beleza para pintar meu cabelo, agora só invisto em hidratações e matização (processo para amenizar o efeito amarelado) às vezes.
Quando eu era criança, ficava com vergonha, mas hoje em dia não, eu gosto muito de ser diferente, combina até com o meu estilo
Sou sargento da Força Aérea e no trabalho, assim como era na escola, também escuto alguns comentários. Nas Forças Armadas, não é permitido ter um cabelo 'diferente' (cor fantasia, corte extravagante), mas logo que me alistei deixei claro que, independente do que eu fizesse, meu cabelo branco iria nascer de novo, além do que era muito difícil de fazer uma tinta se fixar nos fios. Então fiquei conhecida como a 'Sargento Vampira'. Onde eu estou o pessoal sabe que sou eu, mesma que eu esteja de máscara.
Ter o cabelo branco não me faz sentir que 'estou envelhecendo'.
Não acho que cabelo branco seja sinal de desleixo, pelo contrário, me acho mais bonita assim
Assumir o branco é assumir quem você é, não tem motivos para esconder isso. Eu nunca mais pinto meu cabelo na vida."
Jaíne Tavares, 28 anos, militar da Força Aérea, Distrito Federal.
"Não ligo mais para os comentários sobre o meu grisalho"
"Aos 12 anos, notei o meu primeiro fio branco. Na época, era apenas um ou outro. Lembro da minha mãe pentear o meu cabelo e falar: 'você tá com um fio branco aqui. É engraçado, porque você é nova'. Então ela arrancava. No começo, eu achava até interessante, comentava com as pessoas. Por volta dos 15 anos, eles começaram a aumentar em número e passei a me incomodar.
Aos 20, trabalhava em uma loja de cosméticos e gastava boa parte do meu salário lá. Muito do que eu comprava eram tintas e tonalizantes para o meu cabelo. Tingi por muitos anos. Na época, usava progressiva e a cabeleireira me disse que eu não poderia misturar mais tinta, deveria optar pelos tonalizantes. Só que esse tipo de produto sai com poucas lavagens. Então parei a pintura, mas seguia puxando os fios com pinça e disfarçando o máximo. Até que, há dois, em 2019, iniciei a transição grisalha. Decidi que não mais arrancaria os fios.
Sempre ouvi comentários. Antigamente, me incomodava um pouco. Lembro de ir ao salão e, ao mexerem no meu cabelo, falavam: 'nossa, quantos brancos você tem!'. Chegavam clientes, viam e sugeriam que eu pintasse, perguntavam a minha idade. Hoje em dia, não ligo mais.
Quando criança, a minha relação com meu cabelo não era boa. O crespo não era considerado bonito em meados dos anos 90, anos 2000. Aos 12, comecei a alisar. Eu gostava dele, cuidava bem, era hidratado e forte. Gostava de tê-lo longo e alisado. Em 2016, tentei passar pela transição para a textura natural, mas não foi para frente. Voltei a tentar há dois anos e, desta vez, consegui.
Hoje, eu me sinto melhor ainda. Não me arrependo do que já fiz, nem critico quem alisa ou pinta, mas atualmente me sinto muito bem.
As minhas inspirações estão na internet. No passado, encontrar meninas no Instagram me deu muita força para continuar e, até hoje, sigo acompanhando-as. São várias, mas destaco a Tina Vieira, brasileira, grisalha e cacheada"
Eliádna Santana de Paula Santos, 27 anos, administradora pública, Mato Grosso do Sul.
"Gosto do contraste de ser nova e ter cabelo grisalho"
"Tive os primeiros fios brancos aos 20 anos e, no começo, eu os arrancava com a pinça. Quando me mudei de país, aos 27, não sei se pelo estresse ou algo assim, surgiram mais grisalhos. Depois de um tempo, já estava com uma mecha inteira branca, bem na frente do cabelo. Eu odiava, passei um ano pintando a raiz.
Até que, há cerca de dois anos, comecei a pesquisar influencers que assumiram o cabelo branco e passei a me interessar pelo visual delas — apesar de não encontrar nenhuma referência de mulher com menos de 30 anos. Decidi começar a transição quando estava com 27.
Recebi criticas até da minha família. Lembro que desde criança via minha mãe pintando o cabelo. Foi um choque. Me dediquei não só a buscar referências, mas também tentei entender o tema, porque somos obrigadas a pintar o cabelo. Parei para refletir e cheguei a conclusão de que precisava me amar do jeito que eu era. Tudo bem ter cabelos brancos, ter espinhas, ter marcas, isso é parte de quem somos.
Tive momentos em que me senti mal, feia, mas também tive momentos em que ressignifiquei a aparência, me dei conta de que os grisalhos eram uma característica única, só minha
Depois que deixei meu cabelo natural, meus fios ficaram mais saudáveis. Uso um xampoo para desamarelar, outro para hidratação e outro para reconstrução. Máscaras também são necessárias, porque o fio grisalho é poroso demais. Cabelo branco em pessoas jovens é chocante, porque o grisalho é um sinal de idade avançanda. Apesar de ter 30 anos, tenho a fisionomia de uma pessoa mais nova - e eu gosto desse contraste."
Thamires Oliveira, 30 anos, mestranda em Ciência da Educação, Lisboa (Portugal).
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