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Preso em investigação de abuso sexual, cirurgião é suspeito de erro médico

Klaus Wietzke Brodbeck - Reprodução/Instagram
Klaus Wietzke Brodbeck Imagem: Reprodução/Instagram

Franceli Stefani

Colaboração para Universa

17/07/2021 04h00

Preso preventivamente na noite de sexta-feira (16), em Gramado, na Serra Gaúcha, acusado de diversos crimes sexuais por 86 mulheres, o cirurgião plástico Klaus Wietzke Brodbeck também é suspeito de ter cometido erros médicos e, no passado, chegou a ser condenado pela Justiça por danos que causou a uma paciente.

Nas redes sociais, diretamente na Justiça e na Polícia Civil, mulheres relatam maus resultados em procedimentos estéticos realizados com o médico. Uma delas é Laura Stenzel, de 25 anos, influenciadora e empresária de Viamão, região metropolitana de Porto Alegre. Há três anos, ela se submeteu a uma bioplastia nos glúteos — técnica de preenchimento para aumentar o volume da região com polimetilmetacrilato (PMMA). Laura afirma que não sofreu assédio ou abuso por sempre estar acompanhada nas consultas, mas que um erro médico lhe deixou sequelas físicas e emocionais.

Segundo a empresária, Brodbeck não solicitou exames prévios antes de lhe aplicar a substância. "Foram 150 ml de PMMA em cada lado dos meus glúteos. Num primeiro momento, tudo ocorreu bem", diz. Os problemas teriam começado após três meses, quando Laura marcou um retorno ao consultório para fazer uma manutenção pós-operatória.

Quando cheguei em casa depois da consulta havia nódulos enormes nos meus glúteos. Fiz contato com o cirurgião e ele me garantiu que era uma reação normal. Me disse para começar a massagear a região

Como o quadro de Laura não melhorava, Brodbeck pediu a ela que fosse até seu consultório para aplicação de corticoides. "Apliquei algumas vezes e não adiantou nada. Uma estria branca começou a surgir no meu glúteo, que ficou quente e arroxeado. Mesmo assim, Klaus dizia que era normal".

Sem se ver livre das dores dois anos depois da cirurgia, a empresária diz que ficou traumatizada e depressiva. "Ano passado, a dor era tanta que não conseguia nem caminhar. A sensação era de que os nódulos aumentavam". Foi quando ela decidiu procurar outro profissional.

Segundo Laura, um médico de São Paulo, que atende vários casos de bioplastias malsucedidas, informou que ela havia sofrido uma reação ao PMMA e estava com uma inflamação. "Ele me receitou medicamentos e pediu que fosse feita uma ressonância para detectar como a substância estava no meu corpo. Em maio passado, quando voltei para buscar o resultado dos exames, descobri que seria necessário me submeter a um procedimento caríssimo, de cerca de R$ 40 mil, para a retirada parcial do PMMA".

"Há três anos, desde a cirurgia, chego a chorar de dor"

Sem condições de pagar pelo novo procedimento, Laura pegou o orçamento que recebeu do médico paulista, procurou uma advogada e pretende entrar na Justiça para cobrar uma indenização de Brodbeck. "Desde a cirurgia que fiz com ele tenho dores para dormir, para ficar sentada e quando bato o glúteo chego a chorar de dor. Jamais faria isso novamente, é o maior arrependimento da minha vida. Acredito que muitas pessoas fazem porque não têm informação."

Laura também expôs sua situação através de Stories no Instagram, onde divide com seus seguidores o drama que tem enfrentado. "Recebi muitas mensagens sobre outras situações de erros médicos e assédios. Foi quando comecei a me posicionar, falar sobre o que aconteceu comigo".

Diferentemente de Laura, outras influenciadoras seguem defendendo Brodback. O cirurgião plástico é famoso entre algumas celebridades e em sua conta no Instagram, onde tem cerca de 97,5 mil seguidores, há fotos dele com pacientes famosas, como a advogada Deolane Bezerra, viúva de MC Kevin, e da apresentadora Jaque Khury.

Condenação por causar "defeitos estéticos"

Bem antes de Laura, Brodbeck já havia sido condenando no início dos anos 2000 por causar "defeitos estéticos" em outra paciente, após um procedimento facial. O cirurgião precisou pagar indenização de 200 salários mínimos à vítima.

Logo no primeiro dia após a cirurgia, a paciente percebeu diferença de abertura nos olhos e paralisia na parte frontal. Uma perícia constatou "queda do supercílio e pálpebra superior esquerda, além de ocultamento parcial da porção superior da esclerótica (branco) do mesmo olho". Brodback chegou a recorrer ao processo, mas não teve o pedido acatado pela Justiça.

Em 2008, o Cremers penalizou o cirurgião com uma medida "disciplinar de censura pública". Alegando sigilo legal, o conselho não deu detalhes sobre o caso, mas afirma que não se trata de assédio ou abuso sexual. No caso, Brodbeck teria infringido os artigos 32 e 56 do Código de Ética Médica. Isso significa "isentar-se de responsabilidade de qualquer ato profissional que tenha praticado ou indicado, ainda que este tenha sido solicitado ou consentido pelo paciente ou seu responsável legal; e, ainda, desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente perigo de vida".

O que diz o médico

Antes de ter a prisão preventiva decretada, Brodbeck foi procurado pela reportagem, mas o médico não retornou aos contatos. Apenas o advogado Gustavo Nagelstein, que o defende, respondeu: "Nós não temos conhecimento de denúncias de erro médico até agora".

Ontem, Nagelstein divulgou uma carta aberta rebatendo quatro das acusações de abuso sexual."Infelizmente, apenas um lado da história tornou-se público, ferindo a dignidade pessoal e prejudicando a imagem profissional do Dr. Klaus Brodbeck, um dos maiores especialistas em procedimentos estéticos do país, com mais de 30 anos de trabalho honesto. Importante mencionar e agradecer aos diversos pacientes que têm se manifestado em redes sociais e se colocado à disposição do médico que, certamente, trará a verdade e voltará sua vida normal", afirma o comunicado.

Entenda as denúncias de crimes sexuais

Na última terça-feira, (13), a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Porto Alegre cumpriu dois mandados de busca e apreensão em endereços associados ao médico. Ele é investigado por abuso sexual e crime contra a dignidade sexual das mulheres — o que inclui assédio, importunação sexual e estupro.

A operação teve início com denúncias de 12 mulheres e, depois que o caso veio à tona, outras dezenas de vítimas foram à polícia. Até o início da tarde de ontem, segundo a delegada Jeiselure Rocha de Souza, que está a frente do caso, já havia 86 denúncias contra Brodbeck.

Como denunciar violência contra a mulher

Mulheres que passaram ou estejam passando por situação de violência, seja física, psicológica ou sexual, podem ligar para o número 180, a Central de Atendimento à Mulher. Funciona em todo o país e no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita. O serviço recebe denúncias, dá orientação de especialistas e faz encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico.

O contato também pode ser feito pelo Whatsapp no número (61) 99656-5008. Também é possível realizar denúncias de violência contra a mulher pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil e na página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH), do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH).

Mulheres vítimas de estupro podem buscar os hospitais de referência em atendimento para violência sexual, para tomar medicação de prevenção de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente.