Homem tem medo de mãe solo? Como fica a vida de solteira pós-maternidade
"Você vai arrumar dor de cabeça. Vai ter que pagar coisas para a criança, nunca vai ser prioridade na vida da mulher e sempre estará em segundo plano": as frases fazem parte de um vídeo com mais de 800 mil visualizações no TikTok, publicado no início deste mês, no qual um usuário da rede elenca, para outros homens, motivos para que eles evitem namorar "uma mãe solteira".
Apesar de ter sido considerada machista, a temática da gravação ganhou espaço nas redes sociais: mães solo de diferentes idades e regiões do Brasil passaram a falar sobre o quanto as suas vidas afetivas foram impactadas depois da maternidade. Enquanto algumas têm na bagagem envolvimentos positivos, de parceiros que souberam compreendê-las e respeitá-las, outras sentem de forma sutil ou explícita um preconceito pelo fato de já terem filhos.
O mito da "mulher interesseira"
No vídeo, o rapaz menciona que os homens que se envolvem com mulheres com filhos seriam obrigados a pagar uma pensão sócio-afetiva à criança caso o relacionamento não fosse para frente. Em entrevista a Universa, a advogada Aretha Cardoso esclarece que este tipo de pensão existe, mas só é aplicada em casos específicos, em que se estabelece uma relação mútua de afeto, no qual o(a) enteado(a) reconhece o padrasto como pai e o padrasto reconhece o(a) enteado(a) como filho(a).
De maneira alguma esta medida seria aplicada, por exemplo, a um namoro de poucos meses, em que o homem sequer vive na mesma casa que a parceira. "Além disso, na prática, é extremamente raro encontrar alguém que pague ou que usufrua deste benefício. A maior parte das mulheres sequer sabe que este é um direito delas", comenta a profissional.
Empolgação que evapora
Quem já "voltou à pista" depois da maternidade sabe bem dos desafios. Gabriela Cavalcanti tem 30 anos e é mãe há dois. A criadora de conteúdo, que mora em São Paulo (SP), encerrou o relacionamento com o pai da criança meses após o seu nascimento e passou a usar aplicativos para encontrar novos parceiros. "Algo que acontecia com frequência era começar uma conversa empolgada com alguém, mas o papo esfriar depois de mencionar que tenho um filho", relembra.
Por causa disso, percebeu que uma das melhores estratégias é deixar claro, desde o início, que seus horários para sair são restritos, porque dependem de uma programação. "Por essa razão, até considero mais fácil me relacionar com homens que já são pais. Em geral, são pessoas que entendem a logística de uma casa com crianças", conta.
Energia escassa
Nicole Perez tem 26 anos, é coordenadora de projetos, mora em São Paulo e também é mãe há dois anos. O pai da criança optou pelo término assim que soube da gestação, por isso está solteira desde então. "Existe uma questão hormonal que leva a libido embora depois do parto. Isso, somado a sobrecarga física, fez com que eu só me enxergasse de novo como mulher há pouco tempo", resume. Recentemente, decidiu voltar aos aplicativos de namoro, mas não teve uma experiência boa.
"Baixei o Tinder no sábado e deletei na quarta-feira seguinte. Achei o aplicativo inviável: as conversas eram muito rasas e em todas eu sentia que tinha que me esforçar puxando o papo ou elogiando os rapazes para que demonstrassem algum interesse por mim", conta. Ela sente que, desde o nascimento da filha, suas prioridades mudaram. "Hoje, com a energia escassa, priorizo tempo de qualidade. Às vezes, prefiro ficar com uma amiga, que entende e faz parte do meu mundo, do que sair ou flertar", opina.
Sair com pessoas do passado também deixou de ser uma opção. "Não é como se existisse uma procura, as mães são simplesmente excluídas. Antes eu cumpria um papel que a sociedade esperava: expunha meu corpo na internet e até me sujeitava a relações não tão satisfatórias assim para evitar ficar sozinha. Hoje minha cabeça está diferente", diz.
Se uma parte dos homens tem medo, a outra não tem
Rayza Oliveira tem 26 anos, é trancista, mora em Cataguases (MG) e faz parte de um time de mães solo que havia desistido de encontrar um parceiro. "Sou mãe há 1 ano e 5 meses. Namorava há três anos quando engravidei, mas o pai da criança embarcou em outro relacionamento e isso me deixou bastante criteriosa: tinha medo que, após o nascimento da minha filha, pudesse apresentá-la para alguém, assistir ao desenvolvimento de um vínculo afetivo, e depois a pessoa decidir ir embora", desabafa.
Ainda assim, baixou alguns aplicativos e não se sentiu a vontade: "Uma vez, contei que tinha uma filha e a pessoa desfez o match na mesma hora, sem dizer nada", diz. Ela acredita que uma maioria dos homens imagina que a mulher está em busca de uma substituição para o pai do seu filho e, por medo do compromisso, evita embarcar na relação. Também por isso, considerava quase impossível encontrar um parceiro.
Isso mudou há poucos meses, quando conheceu seu atual namorado. "No início, o diferencial dele foi compreender que não podia sair a qualquer momento do dia. Por estar interessado em mim, ele foi se adaptando conforme a rotina da minha filha", relembra. Depois, percebeu que ele apreciava sua companhia tanto quanto a da sua filha, o que a deixou empolgada.
"Hoje acho a relação entre eles muito bonita e percebi que se uma parte dos homens tem medo de algo que pode ser tão benéfico quanto conviver com uma criança, a outra não tem".
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