Confinada, com prazer: como usar a masturbação a seu favor na pandemia
"Não critique a masturbação. É sexo com alguém que eu amo". Se o cineasta americano Woody Allen foi cancelado por muita gente, a frase de seu clássico "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", de 1977, segue fazendo sentido como nunca. Em tempos de pandemia de covid-19, buscar o prazer a sós se tornou não apenas um ato de amor próprio, mas também de empatia. Não é à toa que organizações médicas e governos de países como Argentina e Austrália apoiaram explicitamente a prática da masturbação como opção de sexo seguro para evitar o avanço do coronavírus.
Mesmo com a vacinação avançando, especialistas garantem que ainda não é hora de relaxar os cuidados. Diante da falta de perspectiva para os solteiros de retomar com alguma normalidade e segurança os encontros e as relações presenciais, a masturbação se mantém como a melhor alternativa para quem não quer deixar a vida sexual de quarentena total. Não à toa, o mercado de sex toys e produtos voltados para o bem-estar íntimo cresceu exponencialmente durante a pandemia —ganhou o nome de sexual wellness e status de autocuidado.
Para muitas, o celibato forçado pelo isolamento social teve consequências positivas: acabou se tornando uma oportunidade para explorar novas possibilidades de erotismo e ganhar mais intimidade com o seu corpo e com a sua sexualidade. Para quem já era adepta da prática, a adaptação foi ainda mais tranquila. "Sempre foi muito normal para mim me masturbar umas duas vezes por dia", diz a modelo e influencer Ana Otani. A frequência aumentou no começo da pandemia, depois que ela terminou um namoro. "Prefiro a masturbação a transar com um cara ruim de cama."
A sexóloga e fisioterapeuta Mônica Moura, de Belém, reforça a importância da queda dos tabus que historicamente envolvem a masturbação para que cada um exerça melhor a sua sexualidade. "Quando a gente se isola, nesse processo de descoberta de si mesma, a gente começa a perceber o que é bom e o que não é bom."
Segundo ela, o confinamento não deixa de ser uma chance para explorar pontos eróticos que muitas vezes o parceiro ou a parceira não conhece e experimentar o corpo de outras formas. "A gente se dá conta de que é possível transar sem penetração, e que isso é muito bom", diz Mônica.
Além disso, a masturbação também pode complementar outras formas de interação possíveis nesses tempos. "Para algumas pessoas, formas alternativas de ter prazer, como falar ao telefone, trocar mensagens e fazer chamadas de vídeo, para tentar compensar essa falta de encontro, devem necessariamente ter a masturbação junto para a pessoa sentir tesão", diz o urologista e sexólogo Danilo Galante, de São Paulo.
Por onde eu começo?
Mas, mesmo com tesão, não é todo mundo que consegue relaxar para se masturbar até atingir o orgasmo. Segundo a ginecologista Lorena Baldotto, de Vitória, o primeiro passo para chegar lá é aproveitar o momento, ter calma e focar no prazer. "Isso é difícil para muitas mulheres. Aspectos psicológicos e até ansiedade têm muito a ver com essa dificuldade", explica.
É aí que entram os sex toys, como vibradores, sugadores ou cremes que estimulam a região do clitóris, um dos principais truques para quebrar o gelo com você mesma.
Para a sexóloga Mônica Moura, a pornografia também pode ser uma ferramenta positiva, desde que seja usada como referência, e não como modelo a ser seguido. "O perigo é quando você consome a imagem pronta e não cria em cima da sua própria fantasia", diz.
Masturbação garante imunidade?
Os tabus que envolvem a masturbação há séculos já privaram muita gente de uma prática extremamente saudável. "A masturbação só é ruim a partir do momento em que começa a alterar o dia a dia da pessoa ou em que ela passa a não querer mais se relacionar com as pessoas para ficar sozinha", explica Danilo Galante.
Na prática habitual, no entanto, o orgasmo provocado pela masturbação só traz benefícios: libera hormônios responsáveis pelo prazer, que melhoram o humor, combatem a ansiedade e aumentam a sensação de bem-estar.
Se muita gente ao redor do mundo se viu obrigada a encarar o isolamento social e a optar pela masturbação como forma de sexo seguro, não é de se estranhar que a principal pergunta relacionada ao tema feita no Google nesse período tenha sido se a masturbação afeta a imunidade.
"Há indícios de que a prática fortaleça o sistema imunológico, mas não recomendamos a utilização apenas para essa finalidade", diz a ginecologista Lorena Baldotto. Mas não é por isso que a prática não deve ser incorporada à rotina —de solteiros e também de quem tem um companheiro. "A masturbação ajuda na intimidade da mulher com ela mesma e também com o parceiro, pois facilita as fantasias sexuais e a imaginação, aumentando o prazer nas relações."
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