Terminar uma amizade pode ser tão dolorido quanto um namoro?
No início da semana, uma atitude de Anitta chamou a atenção: a cantora deixou de seguir, nas redes sociais, artistas dos quais costumava ser muito próxima, tais como a funkeira Jojo Todynho e os influencers Gui Araújo e Lary Bottino. Lary, inclusive, usou os stories do Instagram para fazer um desabafo sobre términos de amizades, pedindo que as pessoas considerassem esse tipo de afastamento natural, tal como os rompimentos de namoros ou casamentos.
De fato, encerrar uma relação amorosa é quase um ritual — que pode envolver lágrimas, músicas tristes e um pote de doce do lado, para se consolar. Mas, na opinião da psicóloga Marineiva Bonin, os términos de amizade podem ser tão doloridos quanto e nem sempre recebem a devida atenção.
"Recebo no consultório queixas de pessoas que brigaram ou parar de falar com amigos. A situação costuma gerar muito incômodo, mas recebe pouca importância da sociedade, que tende a achar que ficar triste por causa disso é uma bobagem", aponta.
Término motivado por briga
Uma das formas mais comuns de desfazer uma amizade é através de um desentendimento. Um dos lados não concorda com a atitude do outro e os ânimos ficam à flor da pele. "Em geral, esse tipo de rompimento pode deixar mágoas, já que a situação se encaminha para um ponto sem solução, no qual o melhor caminho é a ruptura. Por se tratar de uma mudança abrupta, é o jeito mais dolorido de se encerrar uma amizade, pois é necessário se acostumar com a falta do outro", afirma Marineiva.
Foi o caso de Thaila Santiago, de 20 anos, que mora em Sapucaia (RJ). Ela desfez uma amizade de um ano em função de uma divergência. "Geralmente, demoro para responder no Whatsapp. Faço isso porque sinto a necessidade de passar um tempo sem falar com outras pessoas. No entanto, um amigo não entendia isso. Ele me chamava para conversar, mesmo sem assuntos importantes, e dificilmente eu retornava na mesma hora", diz. Interpretando como um sinal de desinteresse, ele e a amiga tiveram diversas discussões.
"O problema é que nenhum dos dois deu o braço a torcer e, na cabeça dele, a ausência de diálogo frequente significava descaso. Era como se eu não valorizasse nosso tempo juntos. Por causa disso, depois de várias conversas, decidimos que nosso conceito de amizade não era compatível. Não nos falamos desde janeiro", relembra.
Término por afastamento
A outra opção, que costuma ser menos desafiadora, é o afastamento. "Ele acontece porque as amizades são vínculos que se estabelecem de acordo com a fase da vida. Se uma das partes começa a tomar um caminho diferente, surge um distanciamento natural", detalha a psicóloga.
Viviane Caroline Oliveira tem 24 anos, mora em São Gabriel (RS) e já passou por situações assim. "Acredito que o que alimenta esse tipo de relacionamento são as conversas, o modo de pensar. Se o outro lado se torna muito diferente, a vontade de estar por perto esfria", diz
É como convidar uma amiga para jantar e perceber que vocês não têm mais assuntos em comum. Da próxima vez, você vai chamar outra pessoa. Não por maldade, mas porque prefere estar perto de alguém com interesses mais parecidos".
Ela percebeu isso depois de acabar o ensino médio, quando se afastou de alguns amigos, e confirmou a teoria recentemente. "Faço mestrado em engenharia civil, por isso passo a maior parte do tempo estudando. Por causa do meu estilo de vida, posso continuar frequentando festas, não tenho a preocupação de manter uma casa. E já aconteceu de me encontrar com amigos da mesma idade, mas que estão casados, com filhos. Fica difícil manter uma troca de igual para igual", reflete.
Então toda amizade estaria fadada a acabar? Para a estudante, não é bem assim. Ela acredita que certas relações podem ultrapassar essa barreira. "Se existe uma intimidade grande e se os dois já passaram por muitas coisas juntos, sempre existirá uma troca. É como se aquela pessoa fosse da sua família e, mesmo sem conversar sempre, a sensação é de vocês se viram há pouco tempo. Mas poucas interações conseguem chegar a esse nível", opina.
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