"Venci o câncer de mama e hoje tatuo mulheres com histórias de superação"
"Cresci na zona leste de São Paulo, em Guaianazes. Quando concluí o ensino médio, consegui uma bolsa na universidade por meio de um curso pré-vestibular comunitário e, assim, me formei em administração de empresas.
Nessa época, eu tinha 18 anos, não trabalhava e nem tinha experiência. Até que comecei um estágio em um banco, onde vivi situações muito dolorosas. Além das dificuldades de um meio competitivo, eu tinha que manter o meu cabelo crespo sempre alisado, porque era o padrão da agência.
Depois de uns cinco anos, arranjei um emprego em uma ONG na comunidade em que morava. Na área social, trabalhei no centro de defesa com mulheres que sofriam violência doméstica e psicológica. Minha mãe teve três filhas sozinha e também se separou por conta de agressões que sofria do marido. Posso dizer que ela é meu maior exemplo e inspiração.
Apesar de realizar os trabalhos administrativos e sociais na ONG, sempre que podia, me envolvia também nas atividades culturais. Foi por meio do grafite, que conheci no ramo da tatuagem. Descobri que era o máximo desenhar na pele, me profissionalizei e a tatuagem acabou virando profissão. Eu trabalhava no RH de uma empresa e tatuava aos finais de semana.
Descoberta do câncer
Em 2015, um ano após começar a tatuar, descobri um nódulo maligno na mama. Foi difícil, eu tinha só 29 anos. Ele foi retirado logo no início e isso me tranquilizou. Durante a recuperação, a empresa em que trabalhava me demitiu quando ainda estava de licença.
Lembro que fiz exame demissional ainda com pontos da cirurgia. E ali me senti como um nada, além de um número
Foi aí que meu companheiro me disse que eu não deveria mais voltar para o mercado corporativo, ou me dividir em dois trabalhos. E sim fazer o que eu amava, que era a tatuagem. Então vi que a qualidade de vida e a satisfação pessoal não têm preço. E mergulhei.
Hoje eu trabalho com histórias especiais. As minhas clientes chegam com relatos de superação, conquistas, perdas de pessoas especiais, nascimentos, renascimentos e tudo isso se torna uma arte eternizada.
"Amo tatuar peles retintas"
Trabalho com a pele negra, amo tatuar as peles retintas. A pele negra é uma pele sensível, e que precisa de cuidados na hora da pigmentação para não machucar aplicando muita tinta e causando queloides. Procuro ter um olhar e cuidado especial durante o procedimento.
Já ouvi muito que a pele negra é ruim de tatuar e que a tatuagem não aparece, não destaca. Vejo muitas clientes chegando ao meu estúdio receosas e com medo, às vezes até com vergonha de se tatuarem, por terem a pele negra
Então mostro para elas meus trabalhos, as minhas tattoos. Faço um trabalho de desconstrução e empoderamento da tatuagem em pele negra e vejo a carinha de alegria delas e deles, a empolgação e alívio em poderem tatuar.
O que me inspirou pessoalmente foi o fato de não ter muitas referências femininas na tatuagem. Ver somente homens com nomes em destaques e pouquíssimas mulheres me fez querer ocupar também esse lugar. Sempre vou dizer que nós mulheres devemos ocupar o lugar que quisermos. Aqueles que quase não aparecemos, é lá que quero estar."
*Aline do Carmo, 36, é tatuadora e vive em São Paulo
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