Sonza: 'Ser chamada de vagabunda e interesseira há 6 anos deixa sequelas'
Quem escuta o novo álbum da cantora Luísa Sonza, "Doce 22", lançado em 18 de julho, toma um tranco logo de cara: as três primeiras palavras que ela canta são "puta, vagabunda e interesseira", parte da música de abertura do disco, "Interesseira".
"Durante seis anos, desde que comecei minha carreira, essas foram as três palavras que mais escutei", conta a cantora de 23 anos em entrevista por telefone a Universa. "Não vou dizer que não me machucam. Para uma menina de 17 anos e vinda do interior, escutar isso deixa sequela, mas espero que não para a vida inteira."
Natural de Tuparendi, cidade do interior do Rio Grande do Sul com 8.000 habitantes, Luísa despontou na carreira musical ao criar um canal no YouTube onde fazia covers, em 2016. Na mesma época, começou a namorar o humorista Whindersson Nunes, então já com milhões de seguidores em suas redes.
A escolha pelas três palavras, conclui ela, foi um recado. "Usá-las no começo do álbum foi importante porque me apodero delas. Enquanto estava escrevendo, algumas pessoas que trabalharam comigo disseram para usar 'burra'. Falei que 'não'. Não me chamam de 'puta' de maneira tão fácil, sem me conhecer, com muita dicção? Farei o mesmo."
O álbum já integra a lista global dos dez mais ouvidos no Spotify. Foi lançado quando a cantora voltou para as redes sociais depois de um tempo fora. O motivo da ausência foi se recuperar após ter sido duramente atacada quando o filho do ex-marido, Whindersson, de quem se separou em 2020, morreu após o nascimento.
"Minhas músicas sobre sexo são as que mais têm mensagem"
Muitas dos ataques que Luísa conta receber vêm, justamente, pelo fato de explorar o sexo nas letras e nos clipes, com pouca roupa e muitas reboladas. De novo, ela vira o jogo e usa isso para mostrar seu poder. "Nossa sexualidade é nossa maior força, quando temos controle do corpo, podemos controlar tudo", afirma.
E analisa por que as mulheres são muito mais questionadas que os homens ao fazerem a mesma coisa.
Homens cantam sobre sexo, sobre o corpo feminino, e está tudo bem. Quando a gente faz isso, parece que temos que sentir vergonha.
"Na verdade, mulheres são criadas para terem vergonha do próprio corpo. As escolhas sobre ele são tiradas de nós desde muito cedo. Acho que isso vem do poder da nossa sexualidade, de gerar uma vida", diz.
Já escutei muito que tenho que dar um filho para o meu marido. Oi? O filho vai ser meu, crescer no meu corpo.
Por isso, diz ela, quando criticam suas músicas que falam sobre sexo as chamando de vulgares, ela responde na lata: "Tem mensagem nelas e é a que mais amo passar, de como é importante se sentir poderosa, gostosa e se apoderar de quem é".
"Não dá para ser braba o tempo todo"
Com 100 milhões de streamings no Spotify até janeiro de 2021 e 142 milhões de visualizações no YouTube atualmente, a música "Braba", um dos grandes hits de 2020, falava de uma parte da personalidade da cantora. "A personagem já é dona da p*** toda", disse ela a Universa na época do lançamento.
Agora, mostra outro lado dessa moeda. "Tenho muitas fraquezas, não dá para ser 'braba' o tempo todo", diz ela, sobre as letras em que fala de suas fragilidades e de tristezas.
Sofri muito com todos os ataques, só que tive que me mostrar forte. Diziam que eu era forte, não tinha outra opção. Pensava que, me mostrando forte, as pessoas iriam parar de me machucar. Mas isso não aconteceu, e eu fui colocando as dores para escanteio. Até que esse meu outro lado transbordou, meu lado B.
Em "Doce 22", ela fala, por exemplo, sobre uma separação dolorosa, o que fez surgir rumores de que teria sido escrita para Whindersson, de quem se divorciou em 2020. "Meu Deus, eu pedi tanto para não ir embora, mas tenho que seguir o meu caminho agora", diz em "Penhasco".
"Vou sempre falar para toda mulher que encontrar que ela é foda"
Falar sobre poder feminino, feminismo, sororidade, o apoio mútuo entre mulheres, e outros temas desse universo é, segundo Luísa, algo que ela "não consegue não fazer". Não só nas músicas, mas também em suas redes sociais e apresentações.
"Quando eu vejo a quantidade de mulher se identificando com o que eu dizia sobre machismo, me toca de maneira muito forte. Estou falando das minhas vivências, acredito na força feminina, mas nossa força é o tempo todo silenciada. A gente é tachada de um monte de coisa, mas eu vou, a vida inteira, falar para cada mulher que eu encontrar que ela é foda. Não sei se é uma missão. Se for, aceito com prazer", diz.
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