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Ela filmou importunação sexual em ônibus. Agora, quer achar assediador

Mariana gravou assédio que sofreu em ônibus do Rio de Janeiro - Arquivo pessoal
Mariana gravou assédio que sofreu em ônibus do Rio de Janeiro Imagem: Arquivo pessoal

Júlia Flores

De Universa

14/08/2021 16h47

Era quase 18h da última sexta-feira (06) quando Mariana Muharre estava dentro de um ônibus que faz o trajeto Botafogo - Recreio (RJ) — transporte público que a vendedora pega diariamente para ir para casa — quando um homem desconhecido ocupou o assento ao seu lado e começou a se masturbar.

"Estava em um banco que sempre fico perto da janela. Um desconhecido chegou uns 15 minutos depois de mim, sentou-se do meu lado e usou um objeto para tampar os órgãos genitais. Comecei a desconfiar que ele estava agindo de má fé, porque reparei nos movimentos que ele fazia, mas sempre que olhava em sua direção, ele parava de se mexer", relembra Mariana em entrevista para Universa.

No momento em que teve certeza do que estava acontecendo, a jovem decidiu falar com o homem e gravar a sua reação. Aos gritos, ela expulsou o suspeito de dentro do ônibus, sem a ajuda de nenhum outro passageiro. Em seguida, enviou o vídeo para alguns familiares. Poucos dias depois, a publicação viralizou na internet.

"Tenho recebido desabafos de outras mulheres que também foram assediadas. Às vezes nem eu acredito no que passei e em como reagi. É surreal", conta Mariana, que agora está em busca de tentar identificar o autor do assédio.

"Nem eu acreditava que seria capaz de fazer aquilo"

Apesar de o episódio ter acontecido na semana passada, Mariana só compartilhou o vídeo em suas próprias redes sociais na última quarta-feira (11). "Acabou sendo uma reação muito além do que eu esperava. Nem eu mesma sabia que era capaz de fazer aquilo. Tenho amigas que são muito mais 'feministas' do que eu", diz Mariana.

O vídeo de Mariana expulsando o assediador do ônibus já possuiu mais de quase 1 milhão de visualições no Instagram. Ela lembra de detalhes do momento em que gravou a cena: "Fiz de conta que estava cochilando, fechei o olho e me apoiei na janela. Quando me mexia, ele tirava a mão de perto do pênis. Comecei a tentar tirar foto pelo reflexo do ônibus e percebi que não ia conseguir gravar, esperei ter certeza do que estava acontecendo (quando ele fez os movimentos de masturbação) e apontei a câmera na direção dele. Queria ter uma prova."

Não quis tomar nenhuma atitude sem ter certeza; não queria que ninguém apanhasse ou fosse linchado sem razão - Mariana Muharre

O homem deixou o ônibus e Mariana teve que continuar no veículo por mais tempo, até o seu destino final, por cerca de mais uma hora. "Foi um misto de raiva, angústia e tristeza - nessa ordem. Primeiro fiquei irritada com a situação; depois, como nenhum outro passageiro veio falar comigo, achava que eu tinha exagerado e que estava ficando louca. No final me dei conta de que não estava errada e fiquei triste por não ter recebido nenhum tipo de acolhimento. "

"Isso mexeu mais comigo do que o próprio abuso", desabafa Mariana, que ainda guarda sequelas do trauma vivido. "Achei que o susto já tinha passado, mas quando tive que entrar no ônibus na segunda-feira seguinte, todo aquele sentimento voltou à tona. Tive crise de ansiedade, estava com medo, qualquer sujeito de boné que entrava no veículo me deixava assustada. Continuo com medo."

O que fazer nesses casos

Após a publicação ter viralizado na internet, Mariana descobriu que outras mulheres já tinham sido vítimas de assédio pelo mesmo suspeito. "Descobri até que algumas outras vítimas tinham até mudado o horário de trabalho para não pegar o ônibus no mesmo momento que ele."

Ela não registrou boletim de ocorrência depois do episódio. "Estava cansada e me sentindo sozinha. Tudo o que queria era ir pra casa chorar", justifica. Agora, com a repercussão do vídeo, Mariana quer localizar o estranho que se masturbou ao seu lado. "Essa é minha missão."

Só gostaria de viver em paz — às vezes tenho a sensação de que tratam as mulheres como se elas não fossem ser humano - Mariana Muharre

A advogada de família Thayná Silveira orienta as vítimas de importunação sexual a juntarem testemunhas e provas para tentar identificar o agressor e, assim, registrar boletim de ocorrência dos fatos. A profissional pontua que a pena prevista para esse tipo de crime é de reclusão de um a cinco anos, se o ato não constitui crime mais grave. Para mais informações, acesse o Manual Universa de combate à violência doméstica.