Corpo real de mulher gorda inspira casal a produzir velas e arte
A designer Thais Soares, de 24 anos e a fotógrafa Isabela Catão, de 31, formam um casal que, como tantos outros, se deparou com a questão: como ganhar dinheiro na pandemia?
"Uma amiga da minha mãe faz velas. Eu sempre fui muito ligada à arte e essa moça tinha um ateliê dentro de casa e me ensinou. É uma coisa mágica e deliciosa de fazer. Isso ficou na minha lembrança. Nunca mais tinha feito, mas ficou guardado", relembrou a Isabela.
Foi assim que começou o projeto Bluèsi, da tradução do francês "azul-se", que produz velas decorativas criadas pelas duas.
As velas medem 10 cm e têm formato de corpos reais, de mulheres gordas, com o peito caído, a barriga grande e as coxas robustas. Em três meses, o perfil do Instagram (@bluesivelas) conseguiu cerca de 4.000 seguidores.
Como um casal lésbico, elas colocaram em prática o orgulho gay. Em junho, mês em que é celebrado, elas produziram a vela pride: toda colorida com as cores da bandeira LGBTQIA+, uma versão limitada pela dificuldade de fabricá-la.
Apesar da dificuldade de chegar no tom preto para a vela, elas deram um jeito. "Nem era questão de pensar, mas de obrigação", diz a designer. "A reação das meninas foi superlegal. É uma forma mais real de se sentir representada, ainda mais com mulheres gordas e pretas, que sofrem uma discriminação maior ainda."
Agora, elas estudam fazer o primeiro modelo da vela no formato de um corpo magro, mas inspirado nas mulheres reais, com dobrinhas e os peitos naturais.
Além das velas, elas produzem fotos e procuram modelos que tenham estrias, celulite e cicatrizes. "Isso importa para a gente e queremos mostrar", diz a fotógrafa. O casal escolhe as modelos vasculhando contas do Instagram, entram em contato e marcam um ensaio na casa da Isabela, onde também fabricam as velas. Após a sessão, dão de presente as fotografias e postam no Instagram da marca, sem mostrar o rosto.
"O nosso foco maior é o corpo. Muitas pessoas que aceitam ser fotografadas não querem mostrar o rosto. A gente preferiu que fosse tudo anônimo e inclusive evita pegar pessoas que sejam muito tatuadas para não ter a exposição", contou a Isabela.
Os feedbacks das modelos e das seguidoras deixam o coração das duas empreendedoras quentinho, por saberem estar fazendo bem o trabalho e no caminho certo. "Bom que conseguimos ajudar outra pessoa a se ver melhor no corpo."
A representação das mulheres gordas na arte como símbolo de beleza não aparece tanto se comparado a pessoas musculosas com definição de tanquinho. Esse padrão da estrutura física ideal prejudica a saúde emocional feminina ao tentar ser magra para ser linda. O casal querendo mostrar isso na arte, reconstruiu "A Criação de Adão", de Michelangelo.
"Existem pessoas magras que são ruins de saúde e as gordas também, mas isso não é um parâmetro. O corpo gordo sempre foi refém disso, se você é uma pessoa gorda: está doente, não tem amor-próprio, está passando por alguma situação que não está sabendo lidar ou é descontrolada e come muito e enfim", afirma Thais.
Nesse processo de ajudar muitas mulheres gordas a olharem beleza no seu corpo, as duas começaram a se ver de modo diferente ao amarem mais o que veem no espelho. Elas questionam as ideias passadas pela família e amigos sobre o quanto estar magra é bonito, como precisar parar de comer para ir à praia. Essas palavras machucam quem ouve ao invés de ajudar.
"Eu sempre fui uma pessoa magra e comecei a engordar agora na pandemia, para mim também é um processo de aceitação do meu corpo. Então, estou me aceitando junto com o nosso trabalho das velas. Eu faço as fotos das modelos e começo a ver que eu posso estar ali também, pois estou começando a aceitar mais o meu corpo", disse Isabela.
"É muito bom ter referências de corpos gordos perto da gente, ainda mais em relação à arte, pois é muito difícil de encontrar esse reconhecimento. Essa representatividade de mulheres gordas na arte", finaliza Thais.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.