'Tirar máscara é quase como tirar lingerie': elas voltaram aos dates
Máscara, ambientes abertos e culpa. Esses são alguns dos elementos presentes nos dates das mulheres que se arriscaram a voltar a sair depois do início da pandemia, especialmente depois de vacinadas. Se primeiros encontros já não são tarefa fácil, a ansiedade é ainda maior em tempos de pandemia.
"Quando nos relacionamos com pessoas que nos sentimos bem e criamos vínculos significativos, nosso cérebro libera ocitocina, o hormônio do bem-estar. Já quando nos deparamos com relações que geram hostilidade e desconfiança, como o que tem acontecido nas incertezas da pandemia, nosso cérebro libera cortisol, o hormônio do estresse", explica a psicóloga e psicanalista Silvana Moscato, de São Paulo (SP). Universa conversou com três mulheres que tiveram recentemente seus primeiros encontros desde o início da pandemia para saber, na prática, como lidaram com a situação.
"Foi bom, mas bateu uma aflição"
"Estou solteira desde que me conheço por gente e lidava bem com isso, até que o coronavírus baixou no mundo e acabou com minha vida afetiva. Em março desse ano, depois de meses sem beijar, nem transar, acabei tendo um date.
O encontro aconteceu de última hora. O rapaz não era de São Paulo e estava de passagem pela cidade. Combinamos de nos encontrar em uma praça perto da minha casa. Papo vai, papo vem, acabou rolando um beijo. E realmente foi muito gostoso. Mas logo depois, bateu uma aflição, um medo.
Além disso, fiquei morrendo de culpa. Moro com uma amiga e fiquei com uma enorme insegurança de voltar para casa e acabar prejudicando quem eu amo e divido a vida. Imagina você mandar alguém pro hospital por conta de um beijo?
Tirar a máscara se tornou meio que a mesma coisa que tirar a lingerie. A gente se sente pelada sem ela e percebi isso justamente nesse encontro, pouco antes de nos beijarmos.
É uma vulnerabilidade que assusta. Desde então, tenho me resguardado. Senti que não valeu a pena ter vivido isso. Pra mim as consequências não foram as mais positivas". Carolina Moraes, 25 anos, DJ e produtora musical, de São Paulo (SP)
"Já cancelei encontros por medo"
"Terminei meu relacionamento no começo da pandemia e logo depois decidi focar em outras áreas da minha vida. Estava trabalhando muito e prezando minha saúde mental nesse período tão instável.
Mas, em certo momento, comecei a me sentir meio sozinha. Entrei no Tinder e em outros aplicativos para conversar com outras pessoas. Fiz vários dates virtuais, do tipo: sábado à noite, tomar um vinho juntos pelo computador. Foram encontros legais!
Depois de um tempo, decidi ter um date presencial com uma pessoa que já conhecia. Na primeira vez, percebi que seria tenso e bem diferente do que era antes. Optamos por continuar nos vendo, mas sempre rola uma conversa bem sincera sobre estar ficando com outra pessoa ou estar se expondo de alguma forma, pra que esses encontros sejam mais seguros.
Em vários momentos escolhi não ver essa pessoa porque ela estava fazendo algo que eu sentia que me colocaria em risco. Já cancelei vários encontros por insegurança e medo.
É muito difícil conciliar e pensar que essa pessoa pode te ajudar a se sentir melhor na pandemia, mas também pode te passar o vírus. Sempre que me sinto segura, saio com esse mesmo parceiro, sob esses acordos de sinceridade. Mas, quando vejo que não estou confortável e sei que posso não me sentir bem, opto pelos dates virtuais que tem sido uma ótima saída". Marina Monteiro, 31, gerente de Comunicação, de Campinas (SP)
"Sair com qualquer cara só por sair não faz mais sentido"
"Estou solteira desde julho de 2019 e sinto que desde então muita coisa mudou na minha forma de me relacionar. O término do relacionamento foi difícil e fiquei alguns meses me recuperando. Quando senti que estava pronta, veio a pandemia.
Decidi tirar esse tempo pra focar em mim e nas mudanças que queria fazer na minha vida. Teve momentos que nem lembrava de homem. Mas com o passar do tempo, fui ficando com mais desejo de encontrar alguém e sentir aquele friozinho na barriga de novo.
Resolvi tentar. Reativei um contato do passado e combinamos de nos encontrar em um lugar aberto - outra preocupação que a pandemia trouxe. Fomos a um parque. Levamos um vinho e a ideia era curtir uma tarde juntos. Confesso que já a caminho do encontro, comecei e me sentir estranha.
Quando o vi, lá de longe, me deu o tal frio na barriga, mas não foi dos bons. No primeiro contato, não sabia o que fazer. Tirava a máscara? Dava um beijo na bochecha? Ficou aquela sensação de 'vai não vai', sabe?
Durante todo o tempo que ficamos conversando, minha cabeça estava em outro lugar. Acabamos nos beijando e como não beijava ninguém fazia meses, no momento só imaginava: 'será que ainda sei beijar? [risos]'. Mas logo quando paramos, fiquei bem preocupada e pensava que iria ficar longe de qualquer pessoa que mora comigo pelos próximos dias.
A partir disso, decidi dar um tempo. Na prática, tive a certeza de que era hora de parar para raciocinar e entendi que, para mim, não valia a pena ir a dates nesse momento. O que antes da pandemia fazia total sentido - sair com um cara que tenho uma mínima conexão - agora já não faz mais.
Nesse processo todo de pandemia, descobri facetas minhas que não conhecia e, atualmente, só sexo e atração física não bastam." Luana Perez*, 28 anos, pedagoga, de São Paulo (SP)
*O nome citado neste depoimento foi trocado a pedido da entrevistada
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.