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Ex-mulher de vice-governador de MT relata pânico e "olhares julgadores"

A influencer digital Viviane Kawamoto acusa de agressão o ex-marido, o vice-governador de Mato Grosso, Otaviano Pivetta - Reprodução/Instagram @viviane_kawamoto
A influencer digital Viviane Kawamoto acusa de agressão o ex-marido, o vice-governador de Mato Grosso, Otaviano Pivetta Imagem: Reprodução/Instagram @viviane_kawamoto

Luiza Souto

De Universa

23/08/2021 17h48

Um dia após dar detalhes da agressão que sofreu do ex-marido, o vice-governador do Mato Grosso, Otaviano Pivetta, do PDT, em entrevista ao "Fantástico", a influenciadora digital Viviane Kawamoto disse, que ainda não conseguiu voltar a sua rotina e tem sido muito julgada pelas revelações que fez.

"A única vez que tentei sair de casa para levar os meus filhos à escola e ir ao supermercado, voltei para casa chorando em pânico. Infelizmente, há os olhares julgadores da sociedade hipócrita", escreveu ela, por meio de rede social ao Universa. Ela é mãe de um casal, do primeiro casamento.

Na entrevista ao "Fantástico", Viviane, de 36 anos, relatou que, no dia 7 de julho, foi até a casa de Pivetta, de 62, em Itapema, litoral norte de Santa Catarina, para buscar pertences pessoais após ter decidido se separar, e acabou sendo enforcada e agredida.

Já ele, para a mesma reportagem, contou que Viviane chegou na casa exaltada e que se defendeu das agressões dela. Ele chegou a ser preso em flagrante, pagou fiança e responde por lesão corporal em liberdade. O vice-governador também deve manter uma distância de 500 metros de sua ex-mulher, por determinação da Justiça como medida protetiva.

Viviane também voltou a afirmar que foi coagida pela equipe do ex-companheiro a gravar um vídeo em que nega qualquer agressão. A imagem foi postada em seu Instagram, mas apagada logo depois. No vídeo, ela fala:

"Está tudo bem. Nós tivemos uma discussão de casal. Não foi agressão. Nunca houve agressão. Meu marido nunca foi um agressor."

E ainda finaliza o vídeo informando que os dois continuavam casados e pediu que as pessoas não passassem para frente "coisas que não são verdadeiras."

Na foto, Viviane e Otaviano Pivetta; ela afirma ter sido pressionada a inocentá-lo de agressão - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Na foto, Viviane e Otaviano Pivetta; ela afirma ter sido pressionada a inocentá-lo de agressão
Imagem: Reprodução/Instagram

Por que vítima mudar depoimento é comum

Por coação ou não, é comum vítimas de violência mudarem seu depoimento e até retirar acusação de agressão contra o ex-companheiro. Entre os motivos está o medo de perder a guarda de um filho, se houver, ficar sem pensão a que tem direito ou mesmo por não se identificar como vítima, conforme apontam especialistas ouvidas por Universa.

"Do ponto de vista psicológico, a mulher não pode imaginar ser vítima de agressão no lugar onde ela dorme, no local onde ela relaxa e se sente acolhida. Como ela contará para si e para os filhos que seu grande amor está respondendo por agressão? E esse dano emocional causado pelo trauma da violência doméstica pode aparecer até dois anos depois das práticas da violência", afirma Ana Lucia Sabadelli, que é a professora titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Especialista em direito da família, a advogada Mariana Régis conta que lida frequentemente com casos em que a vítima é ameaçada ao prosseguir com a denúncia, e ainda é desestimulada pelo próprio Judiciário. "Infelizmente, há juízes que orientam, nessas audiências, que as mulheres abram mão da medida protetiva para que se compartilhe a guarda do filho", denuncia.

Outra situação que acontece na mesma proporção, atenta Mariana, é a agressão acontecer justamente no momento em que a vítima anuncia o divórcio, como relatou Viviane. A especialista fala que muitas de suas clientes foram agredidas no encontro para falar da separação. Ela ensina como pode-se evitar a violência neste caso:

"A gente observa vários tipos de violência justo nesse momento, como a física, a moral, a psicológica e até mesmo patrimonial. O homem esconde documentos, rasga roupas, quebra computador. O melhor a fazer é estar sempre acompanhada, e se tiver que pegar seus pertences, que seja sem a outra parte estar presente", ela ensina.

Saiba como denunciar

O 190 é o número de emergência indicado para quem estiver presenciando uma situação de agressão. A Polícia Militar poderá agir imediatamente e levar o agressor a uma delegacia.

Já o Ligue 180 é o canal criado para mulheres que estão passando por situações de violência. A Central de Atendimento à Mulher funciona em todo
o país e também no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita. O Ligue 180 recebe denúncias, dá orientação de especialistas e encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. Também é possível acionar esse serviço pelo Whatsapp. Nesse caso, acesse o (61) 99656-5008.

Também é possível realizar denúncias de violência contra a mulher pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil e na página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). No site está disponível o atendimento por chat e com
acessibilidade para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Se preferir, é possível fazer a denúncia por meio do Telegram: basta acessar o aplicativo, digitar na busca "DireitosHumanosBrasil" e mandar mensagem para a equipe da Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180.

Caso a mulher não queira procurar imediatamente uma delegacia, pode buscar outras formas de apoio nos núcleos de Atendimento à Mulher nas Defensorias Públicas, Centros de Referência em Assistência Social, Centros de Referência de Assistência em Saúde ou nas Casas da Mulher Brasileira. Lá, poderá ser encaminhada para uma casa-abrigo ou para serviços psicológicos ou jurídicos.

Mulheres vítimas de estupro podem buscar os hospitais de referência em atendimento para violência sexual para tomar medicação de prevenção de ISTs, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente.