Mentora de trisal: 'Ajudo mulheres que querem viver relações poliafetivas'
"Eu e o Júnior, meu marido, começamos a namorar ainda na adolescência. Vivemos durante 18 anos um relacionamento bastante tradicional: nos casamos e tivemos dois filhos. Apesar de sermos monogâmicos, ele às vezes demonstrava interesse em buscar mais uma parceira para fins sexuais. Eu sentia esse mesmo desejo, mas em razão de crenças, paradigmas e tabus, não era capaz de deixar isso acontecer. Resisti por bastante tempo, por volta de três ou quatro anos.
Em 2018, finalmente tomei coragem para tentar. Criamos um perfil no Tinder, deixando claro que éramos um casal, mas sem mostrar nossos rostos. Tivemos muita sorte: na mesma semana, demos match com a Joicy. Não estávamos procurando algo sério, mas nossa aproximação foi bastante natural. De cara, tivemos uma conexão boa. Depois de nos encontrarmos pela primeira vez, o que era para ter sido um envolvimento de uma noite foi se transformando em um sentimento mais profundo. Em menos de um mês, a paixão falou mais alto e pedimos ela em namoro.
"Naquela época, ninguém se assumia como trisal"
Tudo foi fluindo, mas eu não sabia muito sobre o universo do poliamor. Tive dificuldades no começo, por ciúmes e insegurança. Não existiam tantos trisais assumidos. Eu ficava procurando pelas redes sociais pessoas que pudessem ajudar a tirar minhas dúvidas, mas encontrava muito poucas.
Na época, minha filha tinha 7 anos e meu filho 2. Confesso que introduzi-la na vida das crianças foi a parte mais tranquila. Primeiro, apresentamos a Joicy como uma amiga, depois, quando a afinidade entre eles estava maior, dissemos que ela era nossa parceira. Quatro meses depois do primeiro encontro, ela veio morar na nossa casa. Com eles, não tivemos problemas e nem reações inesperadas.
No início, os maiores desafios eram de convivência: tínhamos ciúmes uns dos outros. Eu não gostava, por exemplo, que eles transassem quando eu não estivesse presente. Então precisamos fazer diversos acordos. Aos poucos, com a convivência, esses acordos foram caindo e hoje, com três anos juntos, eles não existem mais.
Nossa única regra é de termos uma relação fechada, ou seja, só nos relacionarmos entre os três. Apenas se uma das partes se envolvesse com alguém de fora isso seria considerado como uma traição.
"Por fazer parte de um trisal, não falo mais com a minha família"
De tudo o que enfrentamos, a parte mais complexa foi a convivência familiar. A família do meu esposo e a da Joicy aceitaram bem a novidade. Já a minha não lidou bem e, por causa disso, decidiu cortar relações comigo. Há dois anos e meio, me excluíram de tudo. Não aceitam que eu vá à casa deles, não conversam comigo e nem mesmo nas datas comemorativas, como aniversários, me enviam mensagens.
Esse foi um momento muito delicado, no qual eu quase entrei em depressão. No fim, acabei respeitando a vontade deles, por entender que não seria justo forçá-los a nada. Mantenho o coração aberto para reatar o contato um dia, caso eles desejem voltar a falar comigo.
"Hoje mostro que trisais podem se relacionar sem neura"
Atualmente, me defino como mentora de relações poliafetivas. Minha missão é ajudar mulheres a viverem a escolha de ingressar no poliamor de forma saudável, através de consultorias. Durante esse processo, apresento às mulheres, de acordo com as minhas experiências, um caminho mais simples do que aquele que eu tomei para alcançar a felicidade e a satisfação ao se relacionar com mais de uma pessoa. Passo adiante as ferramentas emocionais que aprendi, ao longo do tempo, para lidar com o ciúme e com o julgamento da família e da sociedade". * Lorena Rosa, 36 anos, é mentora de relacionamentos e vive em Divinópolis (MG)
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