'Tem date que não vale grana do Uber': livro reúne crônicas da solteirice
"Eu sou a mulher mais solteira do Brasil" e "Não me lembro de já ter estado tão solteira na minha vida" foram alguns entre dezenas de tuítes da influencer Krishna que viralizaram na rede — nas quais ela enfatiza, a quem interessar possa, que não está comprometida.
Krishna faz sucesso no Twitter contando histórias sobre tudo mas, principalmente, sobre as vantagens e os desafios de nunca ter namorado, mesmo estando com 26 anos. Muitas de suas experiências estão reunidas no livro "Os Dez (ou mais) mandamentos da solteira - Um guia de mesa de bar", que será lançado pela Editora Rocco no dia 24 de setembro, mas já está disponível para a pré-venda.
De tanto repetir a palavra, esta se tornou uma de suas marcas no ambiente digital. "Eu dizia que estava solteira nas festas, nos Stories do Instagram, em todo lugar. Acabou sendo um marketing pessoal", ela comenta, bem-humorada, em entrevista por telefone. Na conversa a seguir, ela relembra casos engraçados e faz reflexões sobre a vida amorosa:
Já se sentiu pressionada por ter 26 anos e nunca ter namorado?
Em cima da mulher essa pressão existe o tempo todo, mas é uma coisa anacrônica. Antes, a expectativa de vida feminina era menor, as nossas atividades eram muito diferentes. Hoje em dia, perto dos 30 anos, estamos fortalecendo a carreira, vivendo a vida, curtindo.
Antigamente um dos únicos caminhos de felicidade feminina era o casamento. Hoje temos várias opções para nos sentirmos bem e realizadas. Se olhar com atenção, essa pressão pelo relacionamento nem combina com o nosso estilo de vida, mas ela continua existindo.
Qual a principal dificuldade de ser uma mulher heterossexual e solteira em 2021?
Percebo que uma das maiores dificuldades é encontrar um parceiro que entenda esse novo lugar da mulher. Alguém que não está procurando uma mãe, uma psicóloga, alguém que vá limpar a casa para ele, mas sim uma companheira. Esse match é complicado porque muitos homens dessa geração não foram educados para lidar com as mudanças recentes que aconteceram no comportamento feminino. Preferem alguém que seja submissa, por questões sociais.
Além disso, na pandemia, a coisa ficou complicada. Antigamente, você podia desenrolar uma conversa e sair com a pessoa para saber se o envolvimento seria bom ou ruim. Agora, fomos obrigadas a virar praticamente roteiristas dos flertes.
Ficar alimentando aquela conversa por seis meses, um ano, até poder ver a pessoa. Vira quase um webnamoro.
Um dos capítulos do livro é dedicado ao amor-próprio. Para você, qual o melhor caminho para fortalecer a autoestima?
É até um pouco clichê, mas é o autoconhecimento. Vejo muitas meninas dizendo que estão com a autoestima baixa porque se acham feias, mas percebo que isso tem muito mais a ver com o interior do que o exterior.
Algumas pessoas pensam que a personalidade é uma coisa imutável, que se você nasceu de um jeito, vai continuar para sempre assim. Mas a verdade é que é possível se transformar em alguém que você admira, com traços de comportamento que você gosta. E se você se gosta por dentro, fica muito mais fácil se gostar por fora.
O amor-próprio é uma construção e passa pelo entendimento de que você pode sim mudar, não precisa ficar presa aos padrões antigos.
Eu, por exemplo, sei que não sou uma mulher padrão e que nem todo mundo vai me achar bonita. Mas se uma pessoa não me acha bonita, ela automaticamente deixa de ser interessante aos meus olhos, porque tem outro tipo de mentalidade, que não é compatível com a minha, uma mentalidade que eu já superei.
No livro você conta que já se viu como uma "colecionadora de matches": aquela mulher com várias combinações nos aplicativos de relacionamento, mas que não conversa com ninguém. Por que isso é tão comum?
Passa pela questão da falta de tempo. Desenvolver um flerte demanda energia, mas ao mesmo tempo somos seres humanos alimentados pelo ego, com muita necessidade de validação. Então, às vezes, só o fato de abrir o app no final do dia, cansada, dar matches e ver que têm pessoas interessadas, já supre essa necessidade -- a ponto de deixar o aprofundamento das relações para outro momento.
Algumas páginas do livro são dedicadas só aos primeiros encontros. Por quê?
O primeiro encontro é uma mistura de seminário com comercial de TV. Você tem que se vender para outra pessoa, mostrar como você é legal, interessante, habilidoso, como sua vida é incrível. Tem todo esse "quê" de provar para a outra pessoa que você é gostável. Fora todo o cuidado de pensar no lugar, na roupa.
Algo que eu não faço, por exemplo, é ter esse date no cinema. O intuito é conversar e conhecer a outra pessoa. Mesmo que seja para ficar se beijando, você pode ir a outro lugar, que não custa R$ 30 a entrada. É uma dica de economia para as solteiras [risos].
Então eu digo que tudo bem ter seus medos e traumas, mas é melhor deixar esse tipo de coisa lá para o terceiro encontro. Antigamente a barreira era o sexo logo de cara, mas já quebramos isso, transamos. Hoje em dia, o que tentamos jogar mais para frente são os assuntos mais tensos e profundos.
Já aconteceu com você de idealizar demais um parceiro?
Nós, mulheres, somos incríveis e acabamos esperando que os homens sejam também. Mas não acho que eles acompanharam esse salto de desenvolvimento que tivemos nas últimas décadas. Às vezes, projetamos: criamos uma caixinha na nossa cabeça — que varia de acordo com a fase da vida — do homem que esperamos. E aí quando um deles parece caber um pouco ali, automaticamente concluímos que a nossa idealização existe.
Não que isso tenha acontecido comigo: que um homem tenha me mandado uma DM no Twitter, que a gente tenha saído e eu tenha ficado apaixonada por ele por dois anos, sendo que a gente só se via para transar. Não, com certeza não [risos].
Mas isso é ruim para todos os lados: temos que entender que não existem pessoas perfeitas, que talvez tenhamos visto muitos filmes de romance, lido muitas fanfics na adolescência e que vamos precisar, no dia a dia, nas relações, fazer concessões. Parte de se relacionar é sobre entender os limites do outro.
Você tuitou que as pessoas tendem a pensar que a vida sexual dos solteiros é sempre agitada, mas que essa ideia não corresponde à realidade. Por quê?
Falando de mim e de muitas pessoas que conheço: para a mulher heterossexual ter prazer no sexo não é uma coisa tão simples, trivial. Não acontece sempre, na verdade acontece muito pouco. Na maioria das vezes não é tão difícil você arrumar uma transa, mas qual vai ser a qualidade dela? E aí depois de um tempo, com várias experiências médias, você se questiona se vale a pena sair de casa para transar com um cara médio, ainda ter que aturar ele falando. Tem essa dificuldade, que desestimula.
E tem isso de arrumar um cara que você não tenha vergonha de contar para as suas amigas depois, dizendo que ele era um chato, que ele votou no Bolsonaro ou qualquer coisa assim. E tem a questão do lugar, quase ninguém consegue morar sozinho com o preço do aluguel hoje em dia, então envolve uma logística. Às vezes, a solteira prefere o vibrador do que se decepcionar e ainda gastar dinheiro de motel, de Uber, para ter um date.
Em 26 anos de vida de solteira, qual foi a história mais engraçada que te aconteceu?
Eu fui em um primeiro encontro com um cara, a gente foi em uma exposição do Salvador Dalí. No meio do encontro, ele falou: "Você sabia que esse pintor escondia objetos em formato fálico em todos os quadros?" e, por causa disso, a gente passou o date inteiro procurando pi**** nos quadros -- e de fato achamos. Achei encantador, maravilhoso, e perdi minha virgindade com ele.
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