Após crise pela pandemia, mercado dos casamentos aposta em adaptações
Um sonho, uma festa planejada por meses (às vezes, anos) e uma pandemia. Está aí um mix que não combina. Muitos casais precisaram adiar os planos de casamento - a repórter que escreve essa reportagem já está em sua quarta data - e repensar formatos para conseguir realizar a tão desejada cerimônia. As festas não são mais as mesmas e nos últimos 18 meses foi necessário muito apoio de quem é do ramo para não desanimar e continuar acreditando que uma hora ia, sim, rolar.
O nicho de eventos, principalmente o de casamento, envolve muitos profissionais: de floristas a donos de buffets, de assessoras a estilistas. E teve muita gente que ficou parada nos últimos meses. O faturamento do setor, que costumava ser de 300 bilhões de reais ao ano, em 2020 pode não ter chegado nem a 1 bilhão.
Além da apreensão sobre o próprio trabalho, elas também precisaram administrar algo muito difícil: sonhos e frustrações. "O casamento não é só o sonho das noivas: é dos noivos, dos pais, dos avós, dos irmãos, dos padrinhos..." Tornou-se parte importante do trabalho das assessoras renegociar contratos, taxas, rever datas, encontrar um equilíbrio com os fornecedores. "Essa frustração de não saber quando vai acontecer deixa todos muito ansiosos, inclusive a assessora, que participa da construção desse sonho. Cada remarcação foi sofrida e frustrante para todos", diz a assessora de casamentos Camila Ávila, de São Paulo.
Exercício de resiliência tanto para noivos quantos fornecedores
A insegurança sobre o cenário enquanto tenta dar apoio a noivas e fornecedores também foi algo vivido por Beta Martinez. Fundadora do blog Aceito Sim, ela administra um grupo no WhatsApp com mais de 200 noivas de São Paulo, que além de trocarem experiências, também buscam apoio e dividem os medos. "Quando começou a pandemia fiquei muito assustada. Eu apoiava as noivas e os fornecedores. Precisava de muita saúde mental para lidar com frustrações delas e também conseguir dar suporte aos parceiros no negócio", conta.
Foi um exercício de resiliência para os dois lados. "Não foi só a festa que mudou, o planejamento familiar também foi impactado. Muitas noivas queriam engravidar, casais queriam sair de casa. Envolveu questões psicológicas e financeiras", diz. Nas conversas do grupo de whatsApp, a cada avanço da vacinação e liberação do governo a animação aumentava, mas a preocupação com a saúde dos convidados, dos familiares e da necessidade do protocolo, continuam sendo muito constantes.
Mais de 50% de empresas do setor fecharam
A confiança de que os eventos poderão voltar a acontecer de maneira segura está aumentando, mas o setor, que foi um dos mais impactados durante esses 18 meses de pandemia, tem muito a recuperar. "Se formos otimistas, 50% das empresas mudou ou fechou. Ainda estamos em uma situação de impacto sobre o que vai acontecer com o retorno. Temos muitos eventos para entregar que estavam sendo comercializados lá atrás. O caixa está muito difícil", diz Ricardo Dias, presidente da Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta).
Ricardo atenta que para esse mercado se reerguer será preciso compressão. "Temos responsabilidade com 6 milhões de profissionais que estão envolvidos no setor no país, que precisam voltar a trabalhar. Não esmaguem os organizadores dos eventos e não force os preços. Vai ser uma fase muito difícil", completa.
Máscaras, álcool gel e testes entram no pacote
O sonho de que um dia as festas poderão voltar a ser como antes segue firme, mas por enquanto, ainda não há previsões de quando poderemos viver esse cenário com segurança. "Desde o dia 17 de agosto em São Paulo, por exemplo, não tem mais horário de restrição para eventos. Mas ainda seguimos sem poder ter pista de dança. No buffet, os convidados não podem mais se servir sozinhos. Tudo deve ser entregue pelos garçons", diz Beta. E, claro, no cenário atual, as máscaras seguem sendo primordiais o tempo todo: tanto para convidados quanto para staff.
As lives, que foram um grande sucesso do começo da pandemia, continuam marcando presença nas celebrações atuais; "A transmissão se torna uma opção para quem não pode ir a uma festa por alguma restrição. Isso nos permite um contato maior com as pessoas, que de longe podem participar da cerimônia", diz Camila. E mesmo para quem marcar presença no salão, o distanciamento segue sendo primordial, o que causou uma mudança no serviço de mesa. "Elas não estão mais tão próximas uma das outras e sempre há álcool em gel", completa a assessora. Até mesmo a igreja ganhou adaptações: os padrinhos saem do altar e ficam em bancos, assim como os convidados - e os locais nas cerimônias religiosas também contam com distanciamento.
Teste de Covid-19? Trabalhamos! A opção existe para os casais que querem acrescentar uma camada a mais de proteção à festa. Contudo, o investimento não é baixo. Segundo a Camila, o valor pode ficar em torno de 100 a 120 reais por pessoa. Ela ainda reforça um detalhe: além dos convidados, há também todos os que trabalham no local. "O ideal seria testar 100% das pessoas, de convidados a staff, porque nunca sabemos de onde pode vir o vírus. Em um casamento para 150, há, em geral, umas 250 pessoas envolvidas. O preço inviabiliza um pouco a possibilidade de testar a todos. Mas se os noivos estiverem dispostos, há alternativas", completa.
Quem é noiva sabe: máscara e vidro personalizados de álcool em gel se tornaram queridinhos na hora de escolher lembrancinhas para os convidados. Além do carinho, fica o cuidado para quem está presente em um momento tão especial.
A pista de dança também precisou ser ressignificada. Se ela só funcionará para a dança entre os noivos, o que é possível fazer naquele espaço? "É possível colocar mais mesas no lugar", diz Camila. Se estamos precisando de distanciamento, quanto mais espaço melhor. Nesse caso, é sempre importante pensar em qual tipo de música você quer que embale a festa. Se não é balada, há bandas e corais que podem entreter os convidados nesse momento.
A esperança é a última que morre e, com o avanço da vacinação, quem tem festa marcada segue contando os dias para que tudo volte ao antigo normal. Será que é possível? "Acredito muito que no final do ano, com as segundas doses aplicadas, as medidas de restrição sejam ainda mais relaxadas e que a gente possa voltar a ter pista de dança. É o que acompanho do mercado", diz Beta. "Todo mundo do universo dos eventos precisa se cuidar. Como as pessoas doentes vão fazer festa? O mercado está consciente e não quer fazer tudo por dinheiro", completa.
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