Gravidez silenciosa: 'Corpo só mudou após a descoberta, aos 7 meses'
A assistente comercial Caroline Marques, 25, e a trabalhadora doméstica Giselle Pereira, 36, ambas de São Paulo, viviam o auge da juventude quando descobriram que seriam mães na hora do parto, enquanto a cabeleireira Joziane Almeida, 42, e a estudante e empresária Maria Eduarda Barcellos, 22, souberam da novidade semanas antes de seus bebês nascerem. As quatro tiveram uma gravidez silenciosa, quando a mulher só sente a gestação perto ou no momento de dar à luz.
"Descobri a gravidez aos 17 anos, na hora que a minha filha nasceu. Eu não tinha nenhum sintoma que falasse que eu estava grávida", relata Giselle, que teve seu bebê no dia em que foi fazer a primeira consulta no ginecologista da vida.
Além do susto, essas mulheres ainda foram criticadas por não sentirem a gravidez, acusadas de mentir e esconder sintomas como sentir a criança mexer na barriga ou não notar os seios mais inchados nem a falta da menstruação. A ginecologista e obstetra Larissa Cassiano, da clínica Theia, do Rio de Janeiro, afirma, porém, que a barriga não saltar tanto acontece mais do que pensamos. Depende muito do biotipo da mulher. "É difícil não aparecer nada, mas vejo muito em adolescente, que tem esse peso de 40 quilos, e a barriga fica mais interna, digamos assim".
Ela ressalta ainda que nem todas sentem enjoos e chegam a ter pequenos sangramentos durante esse período de gestação - o que pode ser confundindo como menstruação. Há ainda quem não produza leite ou tenha pouca quantidade para perceber a diferença. Para descobrir se a mulher está ou não grávida, só um exame é 100% confiável, Beta HCG.
Justamente por não saberem que estavam grávidas, algumas mães ouvidas por Universa seguiram com a sua rotina - algumas fumando, ingerindo bebidas alcoólicas e usando tintura no cabelo, o que não é aconselhável durante a gestação. Combinando esses fatores com a falta de um pré-natal adequado, mãe e filha podem ter sérios problemas de saúde. Conheça a história dessas mulheres.
"Corpo só mudou após a descoberta, aos 7 meses"
"Desde outubro de 2019 eu tinha muitos problemas de saúde e passei por várias visitas ao hospital para tratar ovário policístico que causavam amenorréia (ausência de fluxo menstrual) por meses, além de anorexia moderada, síndrome do intestino irritável — que cortava frequentemente o efeito do anticoncepcional — e uma infindável anemia por deficiência de ferro. Cheguei a pesar 40 quilos.
Todos os médicos que me consultavam, inclusive ginecologista, passavam exames de sangue, e os resultados não apontavam nada além de uma possível infecção ou anemia muito forte. Ninguém cogitou gravidez, até porque eu era muito magra e não tinha sintomas recorrentes nas grávidas.
Só descobri a gravidez em agosto do ano passado, porque fui a uma gastroenterologista e ela pediu uma ultrassonografia do intestino. Eu já estava com 30 semanas, aproximadamente 7 meses.
Foi traumático, porque a médica plantonista perguntou se eu tinha filhos, e informou que eu estava esperando um. Mas não me mostrou as batidas do coração, não me informou o sexo, nem colocou uma foto do bebê no resultado do exame, e ainda me deixou sozinha na sala digerindo a notícia sem conversar comigo. Eu tinha 21 anos e estava muito assustada.
Foi somente uma semana após a descoberta que senti a barriga mexendo, e o corpo mudou. Engordei 4 quilos na gestação inteira. Meu médico disse que possivelmente minha genética colaborou para a falta de barriga, mas, obviamente, a diarreia crônica foi a maior culpada.
Eu e o pai da Jade havíamos terminado em fevereiro e não nos falávamos desde então. Dei a notícia para a mãe dele primeiro, e logo de cara ele foi muito atencioso e não mediu esforços para me acompanhar nessa nova fase. Hoje estamos juntos novamente.
A adaptação foi uma loucura. Eu saía todo final de semana com as minhas amigas, estagiava ao lado da minha casa, levava os períodos da faculdade de direito com tranquilidade. Da noite para o dia, tive que inserir no meu quarto um berço, trocador, cadeira de amamentação, um neném. Foram dias muito difíceis e cheguei a questionar se estava sendo uma boa mãe, já que sentia tanta falta da minha vida anterior." Maria Eduarda Barcellos, 22 anos, estudante de direito e empresária, de Vitória (ES). Mãe da Jade, de 1 ano.
"Tem gente que não acredita até hoje"
"Eu descobri minha gestação aos 6 meses, em 2018. Foi quando senti o bebê mexer e fiz um teste de farmácia e depois o exame de sangue para confirmar. Os dois deram positivo.
Não desconfiei de nada porque menstruei normalmente. A única diferença no meu corpo foi o fato de ter engordado, mas já era uma pessoa gorda.
Antes de fazer o teste, procurei um médico porque minhas mãos começaram a inchar, e ele achou que pudesse ser síndrome do túnel do carpo, causado pela compressão de um nervo entre a mão e o punho.
Depois que eu descobri a gravidez, começou todo o meu martírio, porque identificaram um problema na bebê na primeira ultrassonografia, e dali já me internaram. Ela nasceu aos 7 meses, com má formação, Síndrome de Down. E eu tive polidrâmnio, que é o líquido amniótico em excesso. No segundo dia de vida minha filha fez uma cirurgia para ligar o intestino, e 10 dias depois ela faleceu.
Os médicos do hospital não ligaram os problemas da minha filha ao fato de eu não ter descoberto antes e feito o pré-natal. Já minha médica acredita que eu posso não ter sentido a gravidez por causa da obesidade. Hoje em dia, qualquer dor de estômago eu corro para o hospital com medo.
As pessoas ficavam perguntando se eu realmente não sabia que estava grávida. Mas sou uma mulher casada, tenho um filho adolescente. A troco do que iria mentir sobre isso?
Também julgavam pelo fato de ter voltado a trabalhar logo após a perda da minha filha. A qualquer sorriso, achavam que eu já tinha esquecido dela. Eu vou ter sempre a Maria na minha memória. Ela foi uma criança muito amada.
E tem gente que até hoje não acredita no que acontece, pergunta se é verdade mesmo. Eu olho com cara de paisagem" Joziane Almeida, 42 anos, cabeleireira, de Sorocaba (SP). Mãe de João Augusto, de 16 anos, e da Maria, que teria 3.
"Descobri no dia que minha filha nasceu"
"Eu levava uma vida corrida, trabalhando o dia todo e saindo direto para a faculdade, de relações internacionais.
Em meados de 2014, vinha sentindo algumas dores, inclusive na cabeça, e o médico desconfiou de pedra nos rins. Mas na primeira vez que fui ao hospital apenas me deram medicação para a dor. E não adiantou.
Nessa mesma época fiz exame de sangue, e ele apontou anemia, provavelmente por causa da gravidez. Mas em nenhum momento a gente desconfiou de algo.
Minha menstruação sempre foi muito desregulada, então era normal passar meses sem menstruar, e durante o período da gestação eu tive alguns escapes de sangue. Sou um pouco gordinha, então não senti mudanças no meu corpo, nem senti enjoo, azia ou algo do tipo.
Voltei ao hospital semanas depois com dor e tomei analgésico e morfina na veia. Novamente acharam que era crise de cólica renal. Fui para casa de madrugada, mas já acordei de manhã com dor.
Foi somente ao voltar pela terceira vez que o médico me pediu uma ultrassonografia nos rins, e ali descobri que estava grávida. O médico ainda disse que a gravidez já estava avançada, mas não tinha como ter a precisão de tempo.
Voltei para casa com a minha mãe, contamos para familiares próximos, mas a dor não passava. Cheguei a tomar três banhos. Então minha mãe disse que havia duas possibilidades: ou estava nascendo ou eu estava perdendo o bebê. Fomos para o Hospital da Mulher, em Santo André, e quando fizeram o exame de toque, já me mandaram para a sala de parto.
No caminho, o médico avisou que eu deveria estar preparada porque o bebê poderia nascer com alguma deficiência ou doença, porque eu não fiz nenhum pré-natal.
Como não sabia que estava grávida, fiz tudo que não podia: bebia, passava a madrugada em festa, fiz escova progressiva no cabelo. Ainda coloquei piercing no mamilo dez dias antes do parto e quem me ajudou a tirar foi a enfermeira. Mas amamentei normalmente.
Minha filha nasceu em 10 minutos, perfeita, completamente saudável. Foi bem tranquilo, sem muita dor.
Claro que não tínhamos nada em casa, nem fralda, ou um espaço para ela. Nossos amigos e parentes se mobilizaram e ganhamos muita coisa. E fizemos um chá de boas vindas uma semana após o parto. Caroline Marques, 25 anos, assistente comercial de seguros, de Santo André/ SP. Mãe da Lavínia, de 6 anos.
"Minha filha nasceu no dia em que fui fazer a primeira consulta"
"Descobri a gravidez aos 17 anos, na hora que a minha filha nasceu. Eu não tinha nenhum sintoma. A barriga chegou a crescer, mas eu era gorda, então não desconfiei. Até então, levava a vida normal: bebia, fazia atividade física, usava cinta, pintava o cabelo.
Até que um dia meu pai desconfiou que eu pudesse estar grávida, pela mudança do meu corpo, e minha mãe me levou ao ginecologista. Enquanto eu esperava no consultório, senti uma dor muito forte e comecei a gritar. A enfermeira alertou que eu já estava tendo contração.
Na hora que deitei na maca para o médico me examinar, a criança já estava nascendo. Parecia que eu estava num sonho. Ele falou: 'Mãe do céu, venha aqui que sua filha esta ganhando bebê'.
Minha mãe começou a passar mal e o médico se desesperou, porque estávamos num consultório. Eu só consegui vê-lo puxando um cesto de lixo enquanto eu gritava de dor. Foi um parto com muita dor e sofrimento, tanto para mim quanto para minha filha.
Mesmo com isso tudo, as pessoas me criticavam por não saber que estava grávida, e acharam que eu estava mentindo. Só que eu nunca tive uma estrutura, uma educação. Minha mãe nunca me falou claramente sobre sexo e maternidade comigo, e estava com meu primeiro namorado. A escola também não ensinava todas as coisas.
Mas depois disso tive mais quatro filhos, e todas as gestações foram normais." Giselle de Oliveira Pereira, 36 anos, doméstica, de São Bernardo do Campo. Mãe da Gabrielle ,19 anos, Cauã 17, Ana Beatriz, 15, Rafael, 14, e Amanda, 11.
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