Como Monica Iozzi, é comum reconhecer relação abusiva anos depois de acabar
A atriz e apresentadora Monica Iozzi revelou, durante uma participação no podcast "Prazer, Renata", do G1, que já vivenciou uma relação abusiva. Ela disse que terminou o namoro depois de ser agredida no rosto, mas que, mesmo com o episódio de violência física, levou cerca de dois anos para compreender que se tratava de um relacionamento tóxico.
Durante a conversa, Monica explicou que era jovem e que este foi um dos seus primeiros namoros. "Cobria todos os capítulos da cartilha de um relacionamento abusivo: da pessoa te afastar dos seus amigos, questionar a roupa que você usa, te agredir verbalmente, te chantagear, dizer que você não vai conseguir ninguém melhor do que ele, tentar te diminuir", relembrou.
A atriz disse ainda que só cogitou o término depois da agressão. "Até eu ser agredida, eu achava aquilo uma prova de amor. Ela me ama muito, ele me protege muito. Ele perdeu um pouco a cabeça", exemplificou. E confessou que só se deu conta da gravidade dos atos dois anos depois de terminar. "Na época, não me parecia abusiva", refletiu.
Por que algumas mulheres só entendem que foram vítimas de uma relação abusiva anos depois do término?
A psicóloga Nevia Rocha, que trabalha com vítimas de violência, explica que a base dos relacionamentos tóxicos é a manipulação. "A mulher quase nunca percebe os abusos porque se vê presa em um mecanismo de 'morde e assopra': ela vive momentos de briga e muita tensão intercalados com uma 'lua de mel', onde tudo parece ótimo", aponta.
A confusão mental da vítima costuma ser grande, principalmente porque o abusador joga a culpa dos desentendimentos sobre seus ombros, convencendo de que age daquela forma para protegê-la ou que ela está faltando com o respeito e por isso eles vivem em pé de guerra.
"Além disso, a mulher normalmente é afastada de sua rede de apoio: ela é convencida de que amigos e familiares são invejosos, que querem prejudicar o parceiro ou o casal", explica. E, ainda por cima, existe o fator social: "Por vivermos em uma sociedade patriarcal, há sempre um lado da população que normaliza as situações de risco, que defende o lado masculino dizendo que 'homem é assim mesmo' e que 'sacrifícios são necessários' para manter um relacionamento", comenta.
A combinação de todos esses fatores faz com que a maior parte das mulheres não perceba a natureza de suas relações quando ainda estão nelas. No entanto, muitas, depois de passarem pelas fases de luto do término, conseguem categorizar esses envolvimentos como sendo abusivos.
"Muitas vezes, depois de conseguir se distanciar emocionalmente do que viveu, a mulher se sente mais segura, com a autoestima elevada e compreende a totalidade da experiência", aponta a psicanalista Andrea Ladislau. Segundo a profissional, essa distância é fundamental até para reconhecer sinais que já vinham sendo dados, mas que não foram devidamente interpretados.
Por fim, outro ponto importante para identificar que uma relação era abusiva é adquirir conhecimento. "Entender a lógica por trás desse tipo de envolvimento é importante. Ele mostra que a mulher não era exagerada, louca, que não 'inventava coisas onde não existia' durante o tempo de compromisso. E ainda ajuda a dar nome aos abusos que sofreu, tais como o gaslighting (que faz a vítima duvidar da sua própria saúde mental) e a culpabilização", indica Nevia.
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