'Deixei o boy controlar, em público, um vibrador na minha calcinha'
"Tudo tem a ver com sexo, menos sexo. Sexo é sobre poder." A frase de Oscar Wilde (1854-1900) ganhou um novo sentido quando pensamos que há um vibrador de calcinha que pode ser controlado através de um aplicativo de celular.
Esse tipo de brinquedo sexual não é exatamente uma novidade —apareceram até em cenas de filme, como "De Pernas pro Ar". A grande evolução é mesmo o aplicativo que funciona como um controle remoto. Houve também melhora na potência e no design, mais discreto, que permite que ele seja usado com lingeries diferentes.
Para saber se o aparelho merece o burburinho que ganhou, a jornalista Julia* deixou o boy controlar, em público e em três ambientes diferentes, o tal vibrador de calcinha. Além dos orgasmos, e experiência também rendeu um aprendizado: tesão e poder nunca tiveram uma relação tão direta.
Como usar o vibrador de calcinha
O brinquedo, cujo nome oficial é "Sexy Secret Panty Vibrator", pode ser usado como vibrador comum, no qual você liga e controla a frequência. Para fazer o controle à distância, é preciso fazer o download do app da Satisfyer, a fabricante. Com o aplicativo, dá para experimentar algumas funções diferentes, como fazer o brinquedo seguir as batidas de uma música ou do som ambiente e - é claro - permitir que outra pessoa assuma o controle dele. A desvantagem é o preço, em média, R$ 600.
Aos testes! Primeiro local: bar
Solteira na pandemia, eu pensava que a maior dificuldade seria achar um boy de confiança para testar o vibrador comigo. Mas o desafio mesmo foi achar uma calcinha que me deixasse à vontade e segura com o aparelho. Como ele não fica preso à lingerie, é preciso vestir roupas justas.
Para garantir a fixação do brinquedo no lugar certo (no clitóris, para ser mais exata), optei pela combinação calcinha + body + short jeans. Ok, perfeito! Convidei o boy para um barzinho, avisei sobre o brinquedo e fiz o desafio. Meu prazer estava nas mãos dele, literalmente.
É estranha a sensação de ser estimulada em público, com pessoas ao redor. No bar, um rock tocava ao fundo e a primeira função testada foi a do aparelho seguir as batidas da música. Foi difícil disfarçar o tesão, mas deixo aqui uma dica útil: a máscara facial pode ser uma boa aliada nesses momentos.
Fomos ao local com outros três amigos e, cada vez que um deles tentava conversar comigo, o boy aumentava a frequência do vibrador. Tortura? Sim, mas confesso que gostei. O primeiro orgasmo veio depois de uns 30 minutos de estímulo e o segundo veio em seguida. Consegui disfarçar bem, apesar dos suspiros e das mordidas nos lábios. O tesão no olhar do meu companheiro, porém, era visível.
Quantidade de orgasmos: 2
Pôr do sol na praia
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Quero receberDecidi testar o aparelho ao ar livre. Convidei o boy para ver o sol se pôr na praia e, no caminho, pedi para ele abrir o aplicativo da Satisfyer, porque estava usando o aparelho. Com uma expressão surpresa, ele respondeu sim, sorrindo.
Levei uma canga, encontrei um lugar mais afastado de outras pessoas e me deitei ao lado dele. Como estava só de maiô e shorts, o aparelho não ficou estabilizado e começou a sair do lugar. Apesar da vista e do momento encantador, não consegui sentir prazer por causa disso. Ainda assim, a preliminar malsucedida deixou aquele clima de "quero mais" que foi solucionada sem a ajuda de um aplicativo.
Quantidade de orgasmos: 0
Restaurante
Restaurante é um clássico. Me senti a própria Sally, do icônico filme "Harry e Sally". Depois de um drinque, fui ao banheiro e voltei com o aparelho entre as pernas. Já encorajada pela bebida, só pedi para meu companheiro ligar o aplicativo e dar início aos jogos. "Hoje é com você, de novo."
O aparelho apresentou problema na hora de conectar, mas depois de algumas tentativas, a brincadeira começou de fato. Com 20 minutos de estímulo, entre a entrada e o prato principal, gozei. Com um beijo, agradeci meu companheiro que, também levemente alterado pelo álcool, respondeu estar excitado. O poder, senhoras e senhores, é o maior afrodisíaco da história.
Quantidade de orgasmos: 1
Vibrador não é inimigo, é aliado
Historicamente, as mulheres (principalmente as heterossexuais) estão acostumadas a deixar o próprio prazer nas mãos do homem. Isso, porém, não é saudável e, graças as mudanças culturais e sociais provocadas pelo feminismo (obrigada, terceira onda do movimento!), o debate sobre prazer está permitindo a independência sexual feminina.
Porém, não é preciso achar que está se rendendo ao machismo por dar o controle do seu vibrador para um homem. Sexo é uma brincadeira, é um ato lúdico. Muitas mulheres poderosas se sentem confortáveis quando perdem o controle na cama. É onde elas finalmente relaxam e ficam menos tensas.
Prazer do parceiro
A publicitária Nathalya*, de 23 anos, também experimentou o vibrador de calcinha. Em entrevista, ela contou que já usou o sex toy cinco vezes, todas acompanhada. "Me lembro até hoje de quando entreguei o celular na mão do meu namorado e contei da novidade. Ele ficou me vendo sentir tesão e aquilo também o excitou."
Eu achava que não ia dar em nada por ser um aparelho pequeno. Mas, como eu estava curiosa, decidi testar. Sempre via personagens de filmes usando o sex toy e nunca achava que seria tão bom. É babado, bom demais - Nathalya
Nathalya usou o brinquedinho em público uma vez, mas "ficou com vergonha" e não conseguiu aproveitar o momento. Perguntei como o boy dela reagiu. "Ele sentiu que o poder estava na mão dele. Gostou, viu que o vibrador é um aliado, não um inimigo."
A lição que fica é na batalha pelo orgasmo, o grande poder está nas mãos de quem pensa no prazer do parceiro.
Fonte: Cláudia Renzi, sexóloga
*Com matéria publicada em 08/09/2021
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