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'Amo ser mãe, mas odiei estar grávida': elas desabafam sobre a gestação

Dani fez um desabafo sobre ter "odiado a gravidez" no Instagram - Acervo pessoal
Dani fez um desabafo sobre ter "odiado a gravidez" no Instagram Imagem: Acervo pessoal

Ana Bardella

De Universa

12/09/2021 04h00

Uma foto da assessora parlamentar Dani Moraes chamou mais a atenção que o normal no feed de seu Instagram. Na imagem, ela aparece grávida, embaixo do chuveiro, chorando. "Odiei estar grávida", escreveu na legenda, e completou "Não gostava das limitações, criei traumas de ir aos médicos, tinha dores, passava mal, ficava com a mente adoecida", disse em um desabafo sobre como suas duas gestações foram períodos desafiadores. O post teve mais de 27 mil curtidas.

Entre os mais de 290 comentários, mães desabafaram sobre como se identificaram com as dificuldades enfrentadas por ela. Por ser um período da vida da mulher extremamente romantizado, muitas disseram que se sentiram inibidas de dizer que não gostavam da sensação de estarem grávidas, pelo julgamento de pessoas próximas. Mas não são poucas as mulheres que concordam. "Acham que seu corpo é público", disse Ana Beatriz, em entrevista a Universa. 'Um dos principais desafios foi o espelho: não me sentia bonita", conta Maria Paula, que completa "Não quer dizer que não goste de ser mãe".

A seguir, Dani, Ana e Maria Paula dão detalhes sobre os desafios que enfrentaram enquanto esperavam seus filhos:

"Um episódio de violência obstétrica me traumatizou"

Dani Moraes vivenciou um caso de violência obstétrica - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Dani Moraes não se sentia a vontade com a frequência dos exames
Imagem: Acervo pessoal

"Sou mãe de dois meninos: um de 2 anos, o outro de 7 meses. Gosto da maternidade e sinto que foi um processo importante para mim. Sofro de depressão, e a chegada dos bebês me ajudou a lidar melhor com o problema. No entanto, as gestações foram exaustivas. Em ambas, eu sentia dores e, em função de complicações, tive que ir ao médico e fazer exames mais do que o normal. O fato de ser tocada o tempo todo me incomodava.

A sensação só piorou. No parto da minha primeira filha, sofri uma violência obstétrica. Mesmo estando saudável e apta para ter um parto normal, conforme planejava, o médico insistiu em fazer uma cesárea e disse que, se eu não me submetesse ao procedimento, iria matar meu filho. Troquei de hospital, tive o parto natural e tudo correu bem. Mas as palavras dele ressoavam na minha cabeça e foi muito traumático.

Por isso, na segunda gestação, sempre que ia a uma consulta, acabava me lembrando disso e não ficava totalmente confortável. Sinto que é diferente ir ao médico sem esperar um filho, porque gestante você se sente responsável por outra vida e isso te deixa bem mais vulnerável.

Além disso, são muitas mudanças hormonais e a sensação é de que você não se pertence. As pessoas focam muito no bebê e a individualidade da mãe acaba ficando de lado. Mas não gostar da gravidez não tem nada a ver com o amor que sinto pelos meus filhos". Dani Moraes, 26 anos, assessora parlamentar, de Petrópolis (RJ)

"A rejeição sexual do parceiro mexe com a nossa autoestima"

Maria Paula diz que tentava gostar de estar grávida, mas não conseguia - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Maria Paula diz que tentava gostar de estar grávida, mas não conseguia
Imagem: Acervo pessoal

"Passei por gestações em três diferentes fases da vida: a primeira, uma surpresa, aos 15 anos. A segunda aos 21 e a terceira aos 31. Em todas elas, não gostei da experiência. Um dos principais desafios foi o espelho: não me sentia bonita, sexy ou atraente. Fora isso, sempre havia um momento em que o meu companheiro da época dizia que tinha medo de machucar a criança, deixava de ter relações sexuais e isso impactava na autoestima.

A cada nova gravidez achava me sentiria plena, linda, feliz, só que não foi assim em nenhuma delas. Queria amar a minha condição, mas não amava.

Tinha refluxos, dor na pelve, seios sensíveis, noites de insônia constantes. Minhas roupas não serviam mais e precisava ir ao banheiro o tempo todo. Apesar disso, não gostar de estar grávida não quer dizer que eu não tivesse relação com o bebê ou não goste de ser mãe. É preciso que as mulheres falem mais sobre isso, sem serem julgadas". Maria Paula de Andrade, 38 anos, jornalista, de Brasilia (DF)

"As pessoas associam não gostar da gravidez com ser mãe solo, mas não é correto"

Ana teve enjoos constantes e pancreatite durante a gravidez - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Ana teve enjoos constantes e pancreatite durante a gravidez
Imagem: Acervo pessoal

"Sou mãe de uma bebê de 1 ano. Sempre pensei que teria filhos, mas a gravidez dela não foi planejada. Tive um namorado longo, desde o ensino médio. Acabamos nos separando e, aos 22 anos, casei com outro rapaz. Depois da faculdade, compramos apartamento, carro e pensava que meu próximo passo seria engravidar. No entanto, acabamos nos divorciando. Um ano depois, descobri que estava grávida de um outro rapaz, com quem tinha um relacionamento casual.

Volta e meia as pessoas associam o fato de eu não ter gostado da gravidez com a ausência de um companheiro, mas isso dá uma carga ao homem que ele não tem.

Na verdade, eu não gostei por outros fatores, principalmente de saúde. Tive uma complicação que me dava muito enjoo. Desde o início, vomitava, passava mal e vivia no hospital. Só fui descobrir os motivos quando já estava com três semanas. Para piorar, tive uma pancreatite no período, que me fez ficar internada por quase um mês.

Entre o primeiro e o quarto mês, perdi pelo menos 10 kg. Esse movimento contrário, de ver meu peso diminuindo quando deveria estar engordando, deu um nó na minha cabeça. Além disso, os médicos me passaram uma série de recomendações, como não pegar peso e não subir escadas. Foi um baque porque moro sozinha desde os 18 anos e sempre fui muito independente. De repente, me vi precisando pedir ajuda para quase tudo.

Fora isso, conforme a barriga começa a aparecer, vêm as questões sociais, de acharem que seu corpo é público. Começam a dar pitaco sobre o que você deve comer, qual lado da cama deve dormir.

Até sobre a temperatura da água para tomar banho opinaram para mim uma vez. Tenho vontade de ser mãe de novo, mas não descarto a possibilidade de uma adoção" Ana Beatriz Oliveira, 29 anos, professora, de Brasília (DF)