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Julgamento pode tirar nome de Elize Matsunaga de certidão da filha; entenda

Elize segura cartaz com mensagem à filha de dez anos - Reprodução
Elize segura cartaz com mensagem à filha de dez anos Imagem: Reprodução

Camila Brandalise

De Universa

16/09/2021 04h00

Condenada pelo assassinato do marido, Marcos Matsunaga, cometido em 2012, a técnica em enfermagem Elize Matsunaga deixou o presídio de Tremembé, no interior de São Paulo, na terça-feira (14), para uma saída temporária. Carregava um pedaço de tecido com uma mensagem bordada para a filha: "Te amarei além da vida".

Era um recado para a criança, hoje com dez anos, com a qual Elize não tem contato desde que foi presa, logo após o crime. O pai e a mãe de Marcos criam a menina desde então e não permitem visitas da mãe. A garota está no centro de um embate judicial envolvendo Elize e a família Matsunaga. De um lado, a mãe pede o direito de visitar a criança, além da guarda. Do outro, os avós paternos, que detêm a guarda provisória, negam o pedido e querem destituí-la do seu poder familiar —o que implicaria retirar o nome de Elize da certidão de nascimento da filha.

"Entramos com ação pedindo direito de convivência e de guarda. Mas o poder familiar é pressuposto para ambos os pedidos. O juiz suspendeu a ação e vai fazer um julgamento conjunto, ainda sem data, para definir se Elize tem condições de exercer a maternidade", explica Juliana Fincatti Santoro, advogada de Elize para assuntos da área cível.

A advogada da família Matsunaga, Patrícia Kadissi, foi procurada pela reportagem, mas afirmou que não poderia dar qualquer informação sobre os processos.


Criança é criada com outro nome, diz advogada

Santoro afirma que a filha de Elize vem sendo criada com outro nome e que sua história está sendo "apagada". Por isso, a cliente estaria se esforçando na tentativa de se comunicar com a garota, seja agora ou no futuro. A esperança de Elize é que a filha possa acessar informações disponíveis sobre o caso. Principalmente, diz a advogada, assistir ao documentário "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime", lançado em julho pela Netflix.

Elize Matsunaga em cena do documentário da Netflix - Divulgação - Divulgação
Elize Matsunaga em cena do documentário da Netflix
Imagem: Divulgação

"Foi feito porque sempre houve rumor de que a criança seria levada ao Japão para sempre, e nossa ideia é que, quando ela fosse buscar sua história, suas origens, encontrasse a versão da mãe. Assim pode fazer seu próprio juízo de valor", afirma.

"A família critica dizendo que Elize está expondo a criança, mas a garota nem sabe o que está acontecendo. Na verdade, é uma tentativa da mãe de se comunicar com a filha."


"Um dia conversaremos sobre o que houve", escreveu Elize em carta à filha

Autor do livro "Elize Matsunaga: a Mulher que Esquartejou o Marido", recém-lançado pela editora Matrix, o jornalista Ullisses Campbell recebeu uma carta escrita por Elize direcionada à filha. "Ela me mandou para publicar no livro, com esperança de que a filha veja. Assim como o cartaz na saidinha e o documentário", diz Campbell.

Na mensagem, escrita há cinco anos, Elize diz que "todos os dias envio por pensamento todo o amor que uma mãe pode sentir e todo pedido de perdão". "Enfrentaria qualquer coisa para ver seu sorriso novamente, para ouvir pelo menos uma vez a palavra mãe, tão curta, mas que faz o coração tremer só de imaginar. Quero que saiba que tem uma mãe que te ama muito. Um dia, se você quiser, conversaremos sobre tudo o que houve, a situação que nos afastou fisicamente, apenas fisicamente, pois meu coração está contigo", prossegue.

Em sua obra, Campbell conversou com diferentes personagens da história envolvendo Elize e Marcos Matsunaga e coletou laudos psicológicos sobre ela feitos na prisão. Um deles, assinado por uma profissional contratada pela família Matsunaga e credenciada pela Justiça, segundo o autor, afirma que, "em alguns casos, a mulher psicopata usa a separação dos filhos para atrair a atenção para si". "Lutar pela filha pode ser uma narrativa para conseguir essa atenção", diz o autor.

Santoro afirma que esse documento não é considerado um laudo pericial, mas um documento feito a mando da família de Marcos. "Todos fazem parte da ação de poder familiar. Mas todos os laudos são favoráveis a Elize", afirma.

Campbell também conversou com o pai de Marcos, Mitsuo Matsunaga, que contou que ele e a mulher, Misako, revelaram à menina quem era sua mãe quando ela tinha oito anos de idade. O autor relata o episódio no livro. "Teve uma atividade na escola em que ela precisava falar do pai e da mãe. Ela falou dos avós, a quem chamava de pais até então, por não saber de nada. Um coleguinha disse que aqueles não eram os pais dela, e que a mãe havia esquartejado o pai. Ela chegou em casa e os questionou. Foi levada aos melhores psicólogos infantis de São Paulo e, depois de um tempo, soube de toda a verdade."

O jornalista conta que preferiu não perguntar a Mitsuo sobre a reação da menina ao descobrir a história de seu passado também como uma maneira de preservá-la. "Não queria torná-la uma personagem ativa no livro. Afinal, é uma criança", diz. A família a mantém protegida de exposição e vivendo uma vida discreta, longe de qualquer holofote. Recebe uma educação de excelência, conta Campbell, incluindo o ensino de quatro línguas, além do português. "A ideia é que, quando ela completar 18 anos, possa decidir em que país quer morar e o que quer fazer da vida. Incluindo procurar a mãe."