'Pornô estragou como vemos sexo', diz artista que exalta corpos plurais
Faz pouco tempo que a ilustradora e designer Anna Lê, de 26 anos, passou a ver em seu trabalho uma forma de abordar a pluralidade de identidades e sexualidades da maneira mais acolhedora possível — tanto para si mesma quanto para seus seguidores.
No perfil do Instagram "Atiradinnhas", Anna desenha corpos diversos — gordos, portadores de deficiência ou transexuais, por exemplo — em posições sexuais mais realistas e que fogem da penetração "bate-estaca" que estamos acostumados a ver nos conteúdos eróticos e pornográficos heterossexuais.
Como forma também de se enxergar para além do transtorno de disforia corporal, ligado à insatisfação com a própria imagem, a ilustradora desmistifica a ideia de que apenas pessoas dentro dos padrões têm direito ao prazer. "Não há corpos que não mereçam afeto. Todos têm suas belezas", diz.
Ilustrações de corpos reais e identidade plural
A página foi criada pouco antes da pandemia com a proposta de ser um espaço de acolhimento para pessoas LGBTQIA+. Anna Lê é bissexual e considera que as relações e experiências de mulheres quase sempre são reduzidas a fetiches ou vistas com preconceito.
"Vejo isso quando publico ilustrações de mulheres e recebo comentários de homens cisgêneros [aqueles que se identificam com o gênero que lhes foi designado quando nasceram] assediando", conta.
A situação mais pesada aconteceu quando desenhei uma mulher fazendo pegging, ou seja, usando uma cinta peniana. Parecia que tinha chamado os héteros para a briga."
Para evitar mais episódios de assédio e machismo, Anna Lê, que também é cis, prefere não publicar fotos de si mesma nas redes sociais — e optou por enviar uma ilustração sobre si que acompanha esta reportagem.
'Pornografia estragou nossa forma de retratar o sexo'
Além de cenas de uma mulher aparando os pelos pubianos, masturbando-se como "DJ", deitada sozinha e curtindo um vinho, Anna Lê também faz jus ao nome da página e publica imagens de 'ménage à trois' (sexo a três), sexo oral entre homens, ou de um casal transando em um dia em que a mulher está menstruada.
Incomoda? O que Anna Lê espera é que esse seja um caminho para as pessoas se libertarem de amarras e cobranças que têm com seus corpos — e passem a ter uma relação com eles de maior aceitação (ou mesmo neutralidade, como o movimento body neutrality prega nas redes sociais).
Recebo mensagem de pessoas dizendo: 'Eu me masturbo assim'. Quero retratar as possibilidades de afeto porque a pornografia estragou como vemos o sexo, [é] sempre com muita agressividade."
"Quando a disforia com meu corpo começou a diminuir, passei a fazer os desenhos como uma forma de carinho para ele e porque quero ver outras pessoas se amando. Estamos nessa jornada".
A descoberta de si mesma, analisa Anna Lê, é cada vez mais profunda e isso se reflete nas ilustrações. "Fui uma criança gorda e ouvi uma vez que meu corpo era nojento. Há pouco tempo, tive o diagnóstico de autismo e foi um peso que tirei das minhas costas. É libertador perceber que ainda tenho tanto para me conhecer".
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