"Enteado é para sempre": elas mantiveram relação mesmo depois do divórcio
Uma separação, quando envolve filhos na fase da infância ou adolescência, costuma ser um processo delicado: é preciso que os pais se habituem a uma nova rotina, dividindo o tempo de convivência e a atenção. Mas e quando o divórcio envolve enteados? As questões são ainda mais específicas. Sem os laços de sangue e, na maioria das vezes, sem obrigações financeiras em relação ao filho do ex-marido ou da ex-mulher, pode ser difícil manter os laços — ainda que, durante o casamento, a relação fosse harmônica e de muito afeto.
Livia Marques, psicóloga clínica e palestrante, relembra que a sociedade tende a pensar na relação entre madrastas e padrastos de forma conflituosa, mas que isso não necessariamente corresponde à realidade. "Entende-se que só podemos ter amor por uma criança ou adolescente se ele foi gerado ou desejado por nós, mas isso não é verdade", explica. Na sua opinião, se o casal mantinha uma convivência respeitosa, livre de abusos, o rompimento do compromisso tende a acontecer de forma amistosa, o que facilita o contato posterior entre todas as partes.
"Quando os laços são mantidos mesmo depois do final da relação, isso mostra para a criança ou o adolescente que é possível criar conexões positivas na vida adulta e que o término de um envolvimento não é sinônimo de destruição. É a prova de que o amor, o carinho e o diálogo seguem existindo independentemente da situação", opina.
A seguir, madrastas e enteadas contam como mantiveram a convivência mesmo depois de separadas:
"Somos grandes amigos há 20 anos"
Há 20 anos, comecei a namorar um amigo de faculdade. Fomos morar juntos e a relação durou por três anos. Nessa época, fiquei muito próxima do Fernando, seu filho. Ele era um pai muito presente e passávamos quase todos os finais de semana juntos. Sua mãe também era conhecida e nossa relação era boa. Quando o namoro acabou, foi um período de tensão. Acabamos nos afastando, algo que me deixou bastante triste.
No entanto, como mantive a amizade, acabamos nos reencontrando. Ele estava com 12 anos e resgatamos imediatamente aquela conexão. Ouvíamos as mesmas bandas, ele sempre gostou de ler e tínhamos muito em comum. Eu ligava de vez em quando para saber se estava tudo bem. Quando ele completou 15 anos, me convidou para a festa, na qual estava sua mãe, sua nova madrasta e eu. Por causa dele, foi me tornando cada vez mais próxima também da sua mãe.
Hoje em dia, ele está com 28 anos e continuamos nos falando. O considero como um amigo, um primo, um sobrinho. Brinco que ele será meu eterno enteado".
Nina Lemos, 49 anos, jornalista e colunista de Universa, mora em Berlim, na Alemanha
"Nos distanciamos, mas consegui retomar o contato"
"Quando comecei a namorar o pai da minha enteada, ela tinha apenas 3 anos. Na época, minha família ficou receosa por eu estar me envolvendo com alguém que já tinha um filho, mas eu levei a situação sem muitos medos. Ela morava com a mãe e vinha nos visitar aos finais de semana. Muitas vezes, ficávamos na casa dos meus pais e, com isso, eles foram estreitando tanto as relações que ela passou a chamá-los de vô e vó, embora nunca tenha me visto como sua mãe, o que também não era minha pretensão.
Com o passar dos anos, eu e seu pai nos casamos e tivemos uma filha. Ao todo, ficamos juntos por 11 anos e participei do crescimento da minha enteada, mas optamos por nos separar — e me preocupei com o futuro da relação, se ainda manteríamos contato. De fato, acabamos nos afastando.
Durante três anos, nossas conversas foram apenas virtuais e mais distantes. No entanto, o carinho que tenho por ela continuou existindo. E, por ela ter uma irmã mais nova, fomos retomando aos poucos as conversas. Atualmente, ela passa alguns finais de semana comigo, e estreitamos os laços. Conversamos sobre os assuntos que acredito que sejam importantes para a formação de um adolescente, e fico feliz por isso. Minha certeza é de que para existir amor de verdade, não é preciso ter o mesmo sangue". Juliene Monteiro, 34 anos, contadora, de Natal (RN)
"No que depender de mim, nosso vínculo será eterno"
"Quando conheci meu ex-marido, ele me disse que tinha uma filha de 1 ano e 10 meses. Aceitei bem a notícia e, depois de seis meses de namoro, fomos morar juntos. Na época, a mãe dela estava se mudando para outra cidade. Entramos na Justiça e conseguimos sua guarda. Ela morou conosco, visitando a mãe quase todos os finais de semana, até o fim da nossa relação, que durou cinco anos. Eu participei do seu desfralde, ouvi suas primeiras palavras.
Quando pedi o divórcio, eu e o pai dela havíamos acabado de ter uma filha juntos, que permaneceu comigo. Já minha enteada voltou a morar com a mãe. A distância foi bastante sofrida para mim, porque tínhamos um vínculo bastante forte.
Porém, depois da separação, meu ex-marido reatou com a mãe dela e estão juntos até hoje. Graças a uma vontade de ambas as partes, eles permitem que ela, que hoje tem 7 anos, passe alguns dias comigo e com a irmã — e fazemos chamadas de vídeo quinzenalmente. No que depender de mim, nosso vínculo será eterno". Gislaine Fernandes, 28 anos, professora, de Londrina (PR)
"Visitava minha ex-madrasta quase toda semana"
"Meus pais se separaram logo após meu nascimento. Quando tinha apenas 1 ano de vida, ele começou a namorar. Logo casou e teve outros filhos com minha madrasta. A relação entre ela e minha mãe era bastante harmoniosa e isso contribuiu para que as coisas entre nós fluíssem bem. Desde a infância, tivemos uma convivência boa e permanecemos assim por duas décadas, até eles se separarem.
Não minto que, durante uma fase da adolescência, acabei me distanciando. Mas com o passar do tempo, cresci, amadureci e retomei o contato, porque considerava tanto ela quanto o meu pai e meus irmãos, peças importantes da minha família e do meu desenvolvimento.
Quando eles optaram pelo divórcio, foi uma surpresa, mas vi que seria para ela uma oportunidade de crescimento pessoal e continuamos nos falando normalmente. Durante um tempo, moramos na mesma cidade e eu a visitava quase toda semana.
Agora, em razão da distância física e da pandemia, permanecemos nos falando pelas redes sociais, mas interagimos bastante e sempre mando mensagens perguntando como ela está". Helen Correa, 28 anos, estudante, Lages (SC)
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