Como Jada e Will Smith: como abrir o relacionamento após anos juntos?
Cada vez mais pessoas famosas têm vindo a público falar a respeito dos relacionamentos não monogâmicos que vivem — é o caso da brasileira Fernanda Nobre, por exemplo, e de Will Smith e Jada Pinkett-Smith.
Em entrevista à revista GQ dos Estados Unidos, o ator, casado com Jada há 23 anos, com quem tem dois filhos já adultos, revelou que a relação deixou de ser monogâmica e que hoje é aberta.
"Jada nunca acreditou em casamento convencional", explicou Will Smith. "Na maior parte do relacionamento, a monogamia foi o que escolhemos, mesmo não pensando na monogamia como a forma de relacionamento mais perfeita. Acreditamos que casamento não pode ser uma prisão."
Para a sexóloga e colunista de Universa Ana Canosa, "a monogamia compulsória pode trazer essa sensação de aprisionamento, principalmente para as pessoas que valorizam a livre expressão do desejo sexual autônomo".
Mas, afinal, abrir a relação pode trazer benefícios a um casal de longa data? E como colocar o assunto em pauta? É preciso estabelecer regras? Especialistas ouvidas por Universa te explicam.
Existe uma forma mais adequada de trazer a não monogamia à mesa? Se uma das partes quer abrir a relação depois de anos, como fazer essa proposta?
A psicóloga Gabi Menezes, por sua vez, diz que o diálogo é fundamental em qualquer relacionamento, seja monogâmico ou não, por isso casais, especialmente de longa data, deveriam ter abertura para falar sobre o assunto e expressar seus desejos.
Mas Ana Canosa reconhece que esta não é uma conversa fácil, porque "concretiza a ideia de que não somos a única fonte de desejo de nossas parcerias". Segundo a especialista, é preciso encontrar abertura para discutir o assunto internamente e também claro, com o parceiro ou parceira.
"Percebo que os casais que chegam no tema da não monogamia são aqueles que já estão discutindo sobre o desejo e de como ele tem sido explorado no relacionamento. Usar séries, filmes e podcasts que abordem o tema da sexualidade pode ajudar a começar ou avançar na conversa", aconselha.
Abrir a relação é uma experiência para todos os casais? O que é preciso levar em conta ao tomar essa decisão?
"Um casamento aberto é para qualquer casal que queira, de comum acordo, um relacionamento aberto", resume Gabi.
A psicóloga conta, no entanto, que muitos casais não monogâmicos muitas vezes discutem essa possibilidade desde o início da relação, porque entendem que a monogamia não é interessante para eles. Ana Canosa acrescenta que "pessoas ciumentas certamente terão menos paz interior" em um relacionamento não monogâmico.
"Devemos questionar a monogamia compulsória? Sim. Mas para alguns, reprimir desejos será o começo do fim, para outros não. Liberdade é poder discutir, pensar e saber-se livre para experimentar, caso se decida por isso".
Quais podem ser os benefícios de abrir o casamento?
Gabi Menezes afirma que os possíveis benefícios de abrir a relação são individuais e que não existe uma "fórmula secreta", mas Ana Canosa destaca que um dos principais benefícios de abrir a relação pode ser "o prazer de vivenciar o jogo da sedução, sem ter que se esconder, manipular, burlar regras, encontrar álibis".
"Variar sexualmente pode ser bastante estimulante", fala".
Como estabelecer regras? Quais acordos são importantes e devem ser discutidos?
Estabelecer regras e acordos dentro de uma relação aberta serve para diminuir a ansiedade, dar a sensação de que se tem controle sobre a relação, "mas é muito difícil normatizar tanto o desejo assim".
"Alguns casais tentam reduzir possíveis danos, colocando critérios que a priori parecem fundamentais, como não se envolver com pessoas conhecidas, por exemplo. Contar ou não contar sobre a experiência também aparece como uma regra comum", diz a especialista.
"A questão sexual é mais uma dentro de tantas negociações a fazer. Concessões são necessárias, senão não há projeto comum que dê conta."
"Monogamia deve ser escolha, não imposição"
A podcaster Mayumi Sato, que também é colunista de Universa, é adepta à não monogamia e acredita que o modelo pode funcionar para alguns casais, mas que esta deve ser uma escolha, e não uma imposição.
Neste relato, ela conta à reportagem como "saiu do armário da não monogamia" e por que acredita que cada vez mais casais anônimos e famosos devem abrir suas relações num futuro próximo.
"A monogamia é um contrato que pode sim funcionar para muita gente, mas precisa ser fruto de reflexão e escolha. Não uma imposição.
À medida que comecei a compartilhar a minha história e de outras pessoas que se identificam com a não monogamia, percebi que a quantidade de pessoas vivendo em conflito com as regras impostas pela monogamia é imensa. Muito maior do que eu mesma poderia imaginar.
A sorte é que a internet, ao mesmo tempo que julga e critica quem ousa viver de forma diferente, também aproxima quem compartilha de um desconforto comum, uma sensação de inadequação e busca por acolhimento.
O que nos une é a certeza de que não há um único modo de viver capaz de contemplar todas as pessoas e subjetividades.
Acredito que cada vez mais pessoas famosas devem sair do armário da não monogamia porque estamos aprendendo juntos a nomear essas novas relações e aí fica mais fácil falar sobre elas."
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