'Mulher não gozar é um problema estrutural', diz empresária do ramo erótico
Metade das brasileiras não chega ao orgasmo quando transam. É o que aponta um estudo realizado em 2016 pelo Prosex (Projeto de Sexualidade da Universidade de São Paulo). Já segundo uma pesquisa feita por Universa em parceria com a plataforma Prazerela em 2021, apenas 37% das participantes responderam atingir o clímax durante uma relação sexual; o número sobe para 92% quando o assunto é masturbação.
Para muitos, sexo e prazer feminino ainda são tabus. Mas não para as empresárias que participaram hoje do quarto painel do Universa Talks Empreendedorismo 2021, "O Prazer é Todo Delas: O Mercado Erótico em Ascensão". Izabela Starling (Panty Nova), Chris Marcello (Sophie Sensual Feelings) e Marília Ponte (Lilit Sextech) conversaram sobre os desafios e problemáticas do mercado erótico.
Sob o comando de Bárbara dos Anjos, editora de Universa e apresentadora do podcast Sexoterapia, o painel discutiu a transformação de uma área, até então voltada para o prazer masculino, em um setor que visa o empoderamento e o autocuidado feminino. No mercado do sexual wellness brasileiro, a hora é delas:
Do cosmético ao vibrador
Para a fundadora da Sophie Sensual Feelings, Chris Marcello, não há dúvidas de que a cultura machista ainda afeta a maneira como as mulheres veem o sexo. "Muitas pensam que a relação sexual só serve para atender aos desejos e fantasias do homem; isso pode ser notado quando entramos em uma sex shop e todos os produtos são voltados para o prazer masculino, com embalagens que exploram o corpo feminino", pontuou a empresária.
Chris criou a Sophie há cerca de 4 anos, quando largou uma carreira no ramo dos cosméticos para investir em sua própria empresa de sexual wellness. Em 2017, ela enxergou a necessidade de um reposicionamento do mercado erótico para atender (literalmente) o desejo feminino. "Sexo passou a ser visto como autocuidado", pontuou.
Queríamos quebrar o status de que o mercado erótico era voltado aos homens. Procuramos comunicar que a mulher deveria aproveitar e conhecer o próprio corpo, até como uma forma de empoderamento.
Chris Marcello
A Panty Nova, uma marca de vibradores voltada para o público LGBTQIA+, também surgiu com a proposta de reinventar o modo como as mulheres enxergam o sexo. Para Izabela Starling, cofundadora da marca, descobrir o próprio corpo, saber o que te dá prazer ou não, "vai fazer a sua relação sexual com o outro ser ainda mais prazerosa".
Redes sociais: ajudam ou atrapalham?
Ao tentarem reconstruírem a forma como o mercado erótico é visto, as novas marcas do segmento enfrentam problemas para fazerem anúncios em redes sociais, um dos principais canais de captação de clientes da atualidade. É o que relata Marília Ponte, fundadora da Lilit, uma sextech criada em 2020, em plena pandemia.
"As redes sociais são os principais canais de comunicação da atualidade. É lá que discutimos pautas, problemas e cobramos mudanças", disse a empresária. Para ela, o vibrador da Lilit não é apenas um produto que "proporciona prazer às mulheres".
Somos uma marca que falamos de liberdade, de prazer feminino. Para a gente, as mulheres não estarem gozando é sintoma de um problema estrutural.
Marília Ponte
Universa entrou em contato com o Instagram para questionar o motivo da proibição de anúncios de produtos de sexual wellness. Em resposta, a rede social afirmou que proíbe qualquer anúncio envolvendo pornografia. Para Izabela, da Panty, o objetivo de fazer posts ou publicações sobre o assunto tem outro objetivo: "A gente quer normalizar o prazer feminino. Queremos falar sobre sexo nas redes sociais como falamos quando estamos em uma mesa de bar com amigas; esse é o nosso propósito".
Universa Talks 2021 reúne empreendedoras de sucesso para contar suas histórias e como chegaram lá. As convidadas falam também sobre as dificuldades em períodos de crise, falências, dívidas e como não desistir pode ser a chave para o sucesso. Acompanhe a íntegra do evento.
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