'Eu podia ter perdido a vida', diz ciclista assediada no Paraná
"Me senti com medo, enojada e insegura". É assim que a estudante Andressa Lustosa, 25, relembra o assédio que sofreu enquanto andava de bicicleta na cidade de Palmas (Paraná) no último domingo (26).
"No começo eu fiquei com medo, muito medo e até achei que era de propósito, mas tive ciência mesmo do assédio depois das imagens", conta Universa. Um homem foi preso hoje por importunação sexual e lesão corporal contra a estudante. Ao UOL, a Polícia Civil do Paraná confirmou a prisão em flagrante. O condutor do veículo, já identificado, é considerado procurado e responderá pelos mesmos crimes.
O caso ganhou notoriedade depois que a jovem postou as imagens em sua rede social. A princípio, a estudante de Direito achou que tinha sofrido uma tentativa de homicídio, mas só depois de pedir as imagens da câmera de segurança de um estabelecimento pôde perceber o que tinha ocorrido.
No dia do acidente, ela seguiu para um posto de saúde e conseguiu ter atendimento de forma rápida. Por causa da queda brusca, ela sofreu escoriações nas costas e nas pernas.
No primeiro momento, ela optou por não realizar uma denúncia formal e acreditava que pudesse ter sido vítima de um atentado. Mas, segundo ela, era apenas um achismo. Demorou quase um dia até que Andressa e sua família pudessem ver as imagens e entender o que aconteceu. "Meus pais ficaram bastante tristes e chocados. O pneu do carro quase passou por cima da minha cabeça e eu podia ter perdido a vida por causa de um abusador", conta indignada.
Ao procurar a polícia, a estudante realizou o boletim de ocorrência, mas não pode fazer exames em sua cidade pela falta de um IML (Instituto Médico Legal). A situação era ainda mais delicada, já que em Palmas não existe uma Delegacia de Atendimento a Mulher. "Se fosse uma mulher com condições vulneráveis, não teria como denunciar. Às vezes ela fica com medo de denunciar pela falta desse atendimento", afirma.
Desde o ocorrido, ela comunicou o escritório de advocacia em que faz estágio, e eles seguem dando respaldo jurídico e psicológico.
Quem tem que sentir vergonha é o abusador"
Assim como muitas mulheres, Andressa já havia passado por situações de assédio na rua, mas nenhuma foi tão grave quanto a que ocorreu no fim de semana.
Ela reforça que isso não pode ser encarado como uma brincadeira e que importunações como essas precisam acabar. "Temos que ensinar desde criança que a menina não pode aceitar determinadas coisas e que o menino precisa respeitar a mulher."
E uma das coisas que mais indignou a jovem foi o fato de ter quatro homens dentro do carro e nenhum se indignar com o ocorrido. Depois da prisão de apenas um suspeito nesta terça-feira (28), a Polícia Civil informou que havia outras pessoas dentro do veículo, além do assediador e o motorista. "Foi um abuso coletivo. Assédio não é brincadeira. A gente tem que romper essa cultura machista", destaca.
A estudante ainda pede que as mulheres possam ter forças para seguir com as denúncias, não sintam vergonha e não deixem que o abusador fique impune.
Redes sociais ajudaram a dar voz
Desde os primeiros minutos do vídeo na internet, a publicação ganhou força e milhares de mulheres, inclusive famosas, se solidarizaram com a vítima. No post original, a imagem chegou a quatro milhões de visualizações.
Mas por causa de denúncias de usuários e perfis fakes, o Instagram retirou o conteúdo do ar. Revoltada, Andressa voltou a postar o vídeo, justamente para deixar o caso público e conscientizar mais pessoas.
Ela conta que já levanta a bandeira de pautas como essas há muito tempo e não quer deixar que o caso seja esquecido. No passado, ela sofreu violência doméstica e reforça a importância de ouvirem e acreditarem nas mulheres "Tento passar mensagens de apoio e quero transformar a vida delas, ainda mais tendo conhecimento do Direito. Tenho amor por essa profissão."
Agora, ela vai tentar seguir com a sua vida e pede que casos como esses nunca mais voltem a ocorrer. "Quero estar aberta para que a gente mude e transforme a vida de todas. Para que as mulheres se sintam seguras em denunciar e que o homem seja punido", conclui.
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