'Desempregada, pensei no que poderia ser fonte de renda", diz empreendedora
Não é todo negócio que começa com uma visão de oportunidade. Muitos acabam vindo da necessidade. Foi o que aconteceu com Adriana Barbosa, hoje à frente da Feira Preta —evento de empreendedorismo negro considerado o maior da América Latina e que, hoje, faz parte da Pretahub ao lado de outros projetos, como o Conversando a Gente se Aprende e o Festival Pretas Potências.
"Cresci vendo minha bisavó criar formas de gerar receita, como por meio da venda de coxinhas e marmitex ou abrindo a porta de casa para que virasse um restaurante de comida caseira", lembrou Adriana, uma das participantes do Universa Talks 2021, evento que reuniu, na terça-feira (28), mulheres para conversar sobre empreendedorismo. E foi por necessidade que a Feira Preta surgiu, em 2002. "Eu fiquei desempregada e comecei a ver o que poderia fazer. Não tinha dinheiro, mas pensei no que eu conseguiria transformar numa fonte de renda."
Adriana esteve no painel "MAPA DA MINA: OS PRIMEIROS PASSOS PARA FAZER ACONTECER", ao lado de Stephanie Fleury Rassi, criadora da DinDin, e Ludmila Hastenreiter, fundadora da Empoderamento Contábil. O papo teve mediação de Cris Guterres, jornalista e colunista de Universa.
De acordo com Adriana, antes de abrir um negócio, é preciso analisar habilidades e traçar um plano. Quais são suas competências? O que você gosta de fazer? O que pode ser transformado em um negócio? Esses são, segundo ela, os primeiros passos para a criação de uma empresa. E, tão importante quanto isso, é começar aos poucos, devagar. Não é preciso criar algo gigante, com tudo superestruturado, por exemplo.
Comece pequeno. Se quer produzir roupas para vender, inicie com 50 peças, não com 500. Dessa forma, se houver erros, é mais fácil reajustar a rota e a perda de dinheiro é menor.
A inspiração para criar um negócio
A inspiração para criar algo pode vir de vários lugares. Mulher negra e nascida na Baixada Fluminense, Ludmila, à frente da Empoderamento Contábil, vislumbrou uma forma de retribuir o conhecimento que conquistou ao longo de sua formação em gestão financeira e contábil, fortalecendo mulheres empreendedoras de periferias, assim como ela.
"Durante anos, eu saía todos os dias, de ônibus, da periferia para estudar e trabalhar em instituições renomadas nas áreas nobres do Rio. Enquanto atravessava a cidade, esbarrava com muitas diaristas, camaleões e trabalhadores braçais e me sentia instigada a influenciar e mudar a rotina daqueles profissionais", afirmou.
Segundo ela, havia um abismo de diferença social e era nítida a necessidade das empreendedoras para impulsionar seus negócios. "As mulheres afro têm uma realidade financeira muito crua. Muitas não têm acesso à internet e a informações de qualidade. Quando a Empoderamento foi criada, minha ideia foi levar conhecimento ao menor custo possível."
Não precisa inventar a roda
Os negócios de Adriana e Ludmila são ideias inéditas, mas engana-se quem pensa que é preciso criar algo novo para ter sucesso. É possível se basear, por exemplo, numa ideia de fora do país e adaptá-la ao mercado brasileiro. Foi o que fez Stephanie, criadora da DinDin. A empresa surgiu de um encontro entre Stéphanie e Juliana, sua sócia, em Nova York. As duas queriam dividir uma conta e, quando foram apresentadas ao modelo de cobranças americano Venmo, decidiram trazê-lo ao Brasil e customizá-lo.
Às vezes, achamos que devemos começar algo novo; que precisamos de algo inédito para ser inovador. Mas é possível ter sucesso adaptando um negócio à nossa realidade.
O importante, segundo ela, é fazer pesquisas com o público-alvo para saber se o negócio tem mercado aqui, e trabalhar para fazer as adaptações necessárias. Para isso, ela aconselha estar sempre disposta a aprender, a ouvir as pessoas e manter uma rede ativa de contatos. "Não teria chegado onde estou sem isso."
Planejamento é fundamental
Stephanie chamou a atenção, ainda, para outro ponto: o planejamento. "É muito importante se preparar e realizar um planejamento de gestão e financeiro, pois no início é normal as finanças pessoais se misturarem com a da empresa."
Mas, segundo ela, é preciso estar aberta a mudar esse plano de acordo com o andamento dos negócios e os feedbacks dos clientes. "O plano que fizemos no começo da DinDin é completamente diferente do que temos hoje, por exemplo."
Ela contou que é preciso usar uma palavra bem comum no mundo das startups: pivotar. Do inglês, to pivot: a expressão remete a mudar rapidamente pontos do modelo de negócio de acordo com a necessidade. O cliente não era bem aquele? Pivote! O produto não funcionou tão bem, mas se adicionar outras funcionalidades, terá mais valor? Pivote!
*
Universa Talks Empreendedorismo
Veja o que rolou no evento:
PAINEL 1: MAPA DA MINA: OS PRIMEIROS PASSOS PARA FAZER ACONTECER
Com participação de Adriana Barbosa, à frente da Feira Preta, Stephanie Fleury Rassi, criadora da DinDin, e Ludmila Hastenreiter, fundadora da Empoderamento Contábil. Mediação de Cris Guterres.
PAINEL 2: EMPRESÁRIAS NEGRAS: A TRADIÇÃO QUE VIRA NEGÓCIO
Com participação de Gabriela Chaves, economista, fundadora da NoFront Empoderamento Feminino, Michelle Fernandes, fundadora da Boutique de Krioula, e Caroline Moreira, fundadora e CEO da startup Negras Plurais. Mediação de Xan Ravelli, colunista Universa.
PAINEL 3: SÍNDROME DA IMPOSTORA: A VOZ QUE NOS PARALISA
Com participação de Juliana De Mari, jornalista e fundadora da Prosa Coaching, Dani Arrais, jornalista e criadora do #falaqueeunãoteescutoimpostora e Monique Evelle, consultora de inovação e estrategista criativa, fundadora da Inventivos. Mediação de Débora Miranda, editora-chefe de Universa.
PAINEL 4: O PRAZER É TODO DELAS: O MERCADO ERÓTICO EM ASCENSÃO
Com participação de Izabela Starling, à frente da Panty Nova, loja de produtos eróticos
Chris Marcello, fundadora da Sophie Sensual Feelings, empresa de cosméticos sensuais, e Marília Ponte, fundadora da Lilith Sextech. Mediação de Barbara dos Anjos Lima, editora de Universa.
PAINEL 5: REDES DE APOIO: CRIANDO PONTES PARA AS MULHERES
Com participação de Mafoane Odara, líder em recursos humanos para América Latina no Facebook, Marina Vaz, fundadora da Scooto e Amanda Momente, cofundadora da Wondersize Moda Esportiva. Mediação de Brenda Fucuta, colunista de Universa.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.