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Mulher denuncia ginecologista por abuso em Goiás: 'Eu só tinha 12 anos'

Aromaterapeuta Kethleen Carneiro, de 20 anos, decidiu quebrar o silêncio sobre o médico nesta quinta-feira - Arquivo pessoal
Aromaterapeuta Kethleen Carneiro, de 20 anos, decidiu quebrar o silêncio sobre o médico nesta quinta-feira Imagem: Arquivo pessoal

Heloísa Barrense

De Universa, em São Paulo

30/09/2021 20h45

A aromaterapeuta Kethleen Carneiro, de 20 anos, registrou, na manhã de hoje, denúncia contra o ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais, de 41 anos, preso ontem por suspeita de abuso sexual contra três pacientes de Anápolis (GO). Ela decidiu prestar queixa após a divulgação do caso, reforçando a hipótese da polícia de que há muito mais possíveis vítimas no caso. Segundo a investigação, ele agora também será investigado por suspeita de estupro de vulnerável.

Em depoimento na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) do município goiano, a jovem alega que tinha 12 anos quando foi em uma consulta com o médico. Apesar de estar acompanhada, ele teria pedido que os dois ficassem a sós. A Universa, ela diz que a mãe não desconfiou do pedido e que no momento seguinte, houve uma sequência de violências.

Começou aquela coisa traumatizante. Ele me pediu para tirar a roupa, eu coloquei o avental e ele começou a me tocar. [...] Eu não falava nada, não conseguia. Fiquei imóvel. Eu só tinha 12 anos. Minha mãe achou que eu queria conversar com ele a sós, nem passou pela cabeça dela algo assim.

Na ocasião, Kethleen afirmou que não contou para ninguém sobre o ocorrido e que se sentiu bastante envergonhada diante da situação.

Naquela época não se falava tanto sobre isso, eu achei que se contasse, não ia ter muito efeito, por ele ser médico. Mas isso afetou totalmente a minha vida, eu faço terapia há muitos anos. É um trauma.

A aromaterapeuta conta que, no ano passado, conversou com uma amiga sobre o episódio. Foi por essa amiga, inclusive, que ela recebeu a notícia de que Nicodemos havia sido preso, o que a emocionou.

Eu estava grávida e surgiram muitas amigas também gestantes. Uma delas falou que foi a uma consulta com ele, e eu comentei sobre esse caso. Então, uma outra amiga falou que aconteceu praticamente a mesma coisa com ela.

Kethleen disse que, ao entender que havia sido vítima de abuso sexual, preferiu não denunciar "porque já tinha passado muito tempo" e que "achava que as pessoas não iriam investigar", conta. Após ver que outras mulheres o haviam denunciado, decidiu que não podia ficar em silêncio.

É muito importante a gente não se calar e, principalmente, não ter esse medo de expor, de denunciar, porque isso vai nos fortalecer, vai nos unindo como mulheres. A gente ficou muito tempo, a vida inteira, sendo reprimidas, então eu acho muito importante essa voz, ir atrás, e denunciar.

A jovem publicou o relato de sua experiência nas redes sociais e diz que já recebeu várias mensagens de outras pessoas que acusam Nicodemos. "Muitas ainda têm medo, vergonha, e não precisa", defende.

Hoje, a Polícia Civil de Goiás anunciou que montou uma força-tarefa com psicólogos e outros profissionais da saúde para investigar a suspeita de abuso e violação sexual mediante fraude contra Nicodemos Júnior Estanislau Morais.

"Até o momento, a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Anápolis ouviu 41 vítimas. Uma delas prestou declarações nessa quarta-feira (29) e relatou que foi alvo de abusos quando tinha 12 anos, motivo pelo qual o médico será investigado também por estupro de vulnerável", diz a corporação em nota.

O profissional de saúde também é obstetra e possui registro profissional de medicina ativo em Goiás, Pará, Paraná e no Distrito Federal. Os relatos apontam que ele se aproveitaria da realização de exames, como o de ultrassom endovaginal, para "ter uma conduta não condizente com o momento", descreve a Polícia Civil.

Ontem, a Universa entrou em contato com a defesa do ginecologista, que informou, em nota, não ter acesso na íntegra aos autos, mas disse que o profissional de saúde "em nenhum momento realizou qualquer tipo de procedimento médico de cunho sexual". Hoje, em novo contato com o advogado Carlos Eduardo Gonçalves Martins, que o representa, o profissional se limitou a dizer que a equipe não foi notificada de novos fatos.

O Cremego (Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás) afirma que "vai apurar o caso e a conduta do médico no exercício profissional".