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Mercado erótico cresce 12% e é opção para quem quer empreender

Caroline Marino

Colaboração para Universa

03/10/2021 04h00

Foi de um "orgasm gap" que nasceu a ideia para criar a sextech Lilit, uma startup do sexo, no meio da pandemia. "Lembro que comprei meu primeiro vibrador correndo, como se estivesse fazendo algo errado. A Lilit foi pensada para proporcionar o oposto disso", disse Marília Ponte, que fundou o negócio depois de refletir sobre a própria sexualidade, e com um olhar atento ao mercado, dois aspectos essenciais para abrir uma empresa.

Para comprovar sua impressão, Marilia fez uma pesquisa online para entender a relação das mulheres com o sexo com quase quatro mil respondentes. Daí vieram as estatísticas que motivaram o negócio: só 30% das mulheres afirmam que atingiram o orgasmo em uma relação. E 23% delas descrevem as últimas experiências sexuais como nada prazerosas.

Estava aí a comprovação de uma necessidade de mercado. Aliado a isso, o setor está em expansão. Dados da Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico e Sensual (ABEME) mostram que houve alta de 12% nas vendas em 2020 e o faturamento do setor chegou a R$ 2 bilhões no Brasil. Até 2027, o mercado de sex toys deve faturar R$ 108 bilhões no mundo.

Marília Ponte, criadora da sextech Lilit - Divulgação  - Divulgação
Marília Ponte, criadora da sextech Lilit
Imagem: Divulgação

Ao contrário do que aconteceu com outros segmentos, a pandemia colaborou para elevar as vendas. Para se ter uma ideia, a comercialização de vibradores subiu 50% entre março e agosto do ano passado. Foram vendidos mais de um milhão de vibradores na quarentena e este período trouxe clientes que estavam fora do escopo do mercado. São pessoas que, se não fosse a pandemia, talvez não pensassem em comprar estes produtos. De acordo com o portal Mercado Erótico, 76% das 135 empresas pesquisadas cresceram durante o período, com alta média de 10% nas vendas.

Marília esteve no painel O PRAZER É TODO DELAS: O MERCADO ERÓTICO EM ASCENSÃO, ao lado de Izabela Starling, cofundadora da Panty Nova e Chris Marcello, fundadora da Sophie Sensual Feelings, com a mediação de Bárbara dos Anjos, editora de Universa/ UOL e apresentadora do podcast Sexoterapia. Elas falaram sobre como a oportunidade de gozar bons resultados tem atraído novas empresas e porque o empoderamento do público feminino é essencial para alavancar os resultados.

Bárbara dos Anjos Lima, editora de Universa, mediou o painel O PRAZER É TODO DELAS: O MERCADO ERÓTICO EM ASCENSÃOUOL que teve a presença de Chris Marcello, fundadora da Sophie Sensual Feelings, Izabela Starling, cofundadora da Panty Nova e Marília Ponte, da sextech Lilit - Mariana Pekin / UOL - Mariana Pekin / UOL
Bárbara dos Anjos Lima, editora de Universa, mediou o painel O PRAZER É TODO DELAS: O MERCADO ERÓTICO EM ASCENSÃOUOL que teve a presença de Chris Marcello, fundadora da Sophie Sensual Feelings, Izabela Starling, cofundadora da Panty Nova e Marília Ponte, da sextech Lilit
Imagem: Mariana Pekin / UOL

Uma abordagem mais sutil
Chris deixou uma carreira de mais de três décadas no setor corporativo e mergulhou no mercado erótico em 2017. "Naquela época 70% das compradoras de artigos eróticos eram mulheres e 90% não gostavam de frequentar sex shop. Era um público que não falava com o seu canal de venda e vi uma oportunidade nisso", explicou.

Para ela, o maior desafio era falar sobre sexo, tabu que ainda existe e acaba dificultando as abordagens. "Encarei como uma oportunidade de desconstruir essa impressão do lugar vulgar e invasivo. Minha empresa nasceu com uma linguagem sutil, que foca muito mais nos cosméticos do que no erótico, que é um ambiente no qual a mulher já transita", afirmou.

A Sophie Sensual Feelings comercializa os chamados cosméticos sensoriais e se descreve como uma empresa de fonte geradora de autoconhecimento e cuidado com a qualidade de vida. "Antes de falar de sexo, a ideia é se apropriar do seu corpo e da sua intimidade. O prazer feminino é como uma voz e aproxima a mulher com a própria intimidade", disse. A empresária afirmou que "a oportunidade de negócio virou uma causa" e ressaltou se orgulhar de ter sido precursora nessa abordagem, que já incentivou muitas marcas desde então.

Experiência própria que virou negócio

Izabela Starling, fundadora Panty Nova - Divulgação - Divulgação
Izabela Starling, fundadora Panty Nova
Imagem: Divulgação

Antes de fundar a Panty Nova, Izabela vivenciou algumas experiências frustrantes. Ela e a namorada não se sentiam representadas pelos produtos vendidos em sex shop para apimentar a relação. Foi daí que surgiu o mote do negócio: criar uma marca que atendesse pessoas LGBTQIA+ para que se sintam seguras, confortáveis e representadas.

"Estávamos cansadas de corpos plásticos e da propaganda de uma sexualidade apenas vívida no imaginário heteronormativo. Por dois anos arregaçamos as mangas, pesquisamos, testamos e desenvolvemos produtos para ajudar no processo de descobrimento sexual", afirmou.

Já são 238 mil seguidores nas redes sociais, mas ela conta que o caminho até aqui não foi fácil. "No começo sofremos muito com machismo desse mercado. Nossas ideias eram rechaçadas pelas empresas que forneciam os produtos porque elas não achavam necessário que as coisas fossem diferentes", explicou.

As dores e delícias do setor

Pode parecer que as pessoas estão mais dispostas a falar sobre sexo, mas a verdade é que esse assunto não deixou de ser um tabu. O mercado erótico ainda pena porque é um segmento que está muito atrelado a pornografia. "Uma vez eu estava falando sobre a minha empresa com um advogado e ele me perguntou se eu fazia parte do portfólio de produtos. Essas ofensas ainda são realidade, por isso a educação sobre o assunto é fundamental", disse

Chris Marcello, fundadora da Sophie - Divulgação  - Divulgação
Chris Marcello, fundadora da Sophie
Imagem: Divulgação

Outro desafio está em se comunicar com o público. Justamente por essa imagem atrelada a pornografia, há dificuldades em transitar nas redes sociais. "A gente não pode se dar ao luxo de falar sobre o desafio que é empreender no Brasil. Vamos além disso, temos essa camada extra da sexualidade que, muitas vezes, atrapalha o negócio e temos que burlar isso", disse Marília.

As três empreendedoras apostam na educação sobre o assunto como pilares de seus negócios. "Queremos falar que a sexualidade é algo natural, mas temos que burlar a forma como nos comunicamos nas redes sociais, usar caracteres especiais para driblar o algoritmo que tende a pensar que se trata de pornografia e violência", afirmou Izabela.

"Ainda estamos na fase de educar e abrir espaço para o tema. Precisamos de muitas outras mulheres nessa luta. Trazemos para o e-mail, produzimos conteúdos em vídeo, fazemos vivências presenciais quando é possível. Usamos todas as formas de espalhar essas sementes e educar nosso público", completou Marília.

Mesmo com as dificuldades de censura nas redes sociais, o Instagram ainda é a via mais importante de comunicação das três empresas e o principal canal de vendas. "É um espaço que permite desde troca de repertórios até memes para deixar o assunto leve, como deve ser", disse Izabela.

Apesar do tabu, a verdade é que o mercado erótico não deixa a desejar quando o assunto é dinheiro. Com um portfólio extremamente diversificado e preços que variam de poucos reais até centenas deles, o setor atraiu muitos empreendedores nos últimos meses. Segundo o Portal Mercado Erótico, o número de empreendedores que atuam nesse segmento triplicou em 2020, em relação ao ano anterior. A boa notícia é que parece ter espaço para todo mundo, já que a estimativa é que 80% da população sexualmente ativa no país nunca comprou um produto erótico. "Temos um potencial enorme e acreditamos que a educação sexual é o principal caminho", finalizou Chris.

Universa Talks Empreendedorismo

Veja o que rolou no evento:

PAINEL 1: MAPA DA MINA: OS PRIMEIROS PASSOS PARA FAZER ACONTECER
Com participação de Adriana Barbosa, à frente da Feira Preta, Stephanie Fleury Rassi, criadora da DinDin, e Ludmila Hastenreiter, fundadora da Empoderamento Contábil. Mediação de Cris Guterres.

PAINEL 2: EMPRESÁRIAS NEGRAS: A TRADIÇÃO QUE VIRA NEGÓCIO
Com participação de Gabriela Chaves, economista, fundadora da NoFront Empoderamento Feminino, Michelle Fernandes, fundadora da Boutique de Krioula, e Caroline Moreira, fundadora e CEO da startup Negras Plurais. Mediação de Xan Ravelli, colunista Universa.

PAINEL 3: SÍNDROME DA IMPOSTORA: A VOZ QUE NOS PARALISA
Com participação de Juliana De Mari, jornalista e fundadora da Prosa Coaching, Dani Arrais, jornalista e criadora do #falaqueeunãoteescutoimpostora e Monique Evelle, consultora de inovação e estrategista criativa, fundadora da Inventivos. Mediação de Débora Miranda, editora-chefe de Universa.

PAINEL 4: O PRAZER É TODO DELAS: O MERCADO ERÓTICO EM ASCENSÃO
Com participação de Izabela Starling, à frente da Panty Nova, loja de produtos eróticos
Chris Marcello, fundadora da Sophie Sensual Feelings, empresa de cosméticos sensuais, e Marília Ponte, fundadora da Lilith Sextech. Mediação de Barbara dos Anjos Lima, editora de Universa.

PAINEL 5: REDES DE APOIO: CRIANDO PONTES PARA AS MULHERES
Com participação de Mafoane Odara, líder em recursos humanos para América Latina no Facebook, Marina Vaz, fundadora da Scooto e Amanda Momente, cofundadora da Wondersize Moda Esportiva. Mediação de Brenda Fucuta, colunista de Universa.