Topo

'Tive sintomas após silicone e hoje oriento mulheres a encontrar ajuda'

Larissa de Almeida é hoje presidente da Associação de Conscientização sobre Explante, Implante, Toxicidade e Adjuvantes - Acervo Pessoal
Larissa de Almeida é hoje presidente da Associação de Conscientização sobre Explante, Implante, Toxicidade e Adjuvantes Imagem: Acervo Pessoal

Larissa de Almeida em depoimento a Gabryella Garcia

Colaboração para o UOL

04/10/2021 04h00

"Quando coloquei silicone, eu tinha 28 anos de idade, já tinha feito rinoplastia e o silicone era algo que já queria colocar, mas adiava por falta de dinheiro. Quando tive a oportunidade e vi o resultado da cirurgia de uma amiga, pensei que também tinha chegado a minha hora. Fui consultar com médicos, perguntei sobre tudo, inclusive os riscos, e não fui informada de nada além de uma contratura que poderia acontecer. Disse que eu poderia amamentar normalmente e outras coisas corriqueiras do consultório médico, de que era seguro, não tinha riscos, etc.

Fiz os exames e coloquei a prótese em 2012, seria hipócrita eu dizer que não gostei, porque gostei muito do resultado, mas o pós-operatório foi algo bem ruim para mim. Imediatamente após colocar já fiquei com problemas respiratórios e sentia uma pressão muito forte no meu tórax. O médico dizia que era normal, então o que eu fiz foi continuar com o silicone e, um tempo depois, acabei engravidando.

Tive problema de mastite para alimentar, uma dificuldade muito grande, e a partir desse momento fiquei pensando se tinha relação ou não com o silicone. Mesmo amamentando por 30 meses desenvolvi uma contratura no lado esquerdo e o médico dizia que era raro, que havia apenas 5% de chances disso acontecer.

Mesmo sem saber, desde que coloquei a prótese fui desenvolvendo vários sintomas relacionados à doença do silicone: fadiga crônica, perda de memória, problemas oculares, problemas de fertilidade, queda de cabelo, perda da libido, dificuldades para respirar, enfim, eu não imaginava que esses sintomas já estavam relacionados com a presença do silicone no meu organismo.

Quando tive a contratura, retornei ao médico e ele disse que era normal e eu deveria apenas fazer massagem. Prestes a completar seis anos com as próteses, apresentei contratura na outra mama e comecei a questionar se trocava as próteses, se retirava e o que fazia com o silicone.

Nesse momento eu descobri pela internet, quando vi alguém dizendo: "você já ouviu falar da doença do silicone? Tem um grupo na internet que fala sobre isso". Aí eu me dei conta, fui lendo o relato de outras mulheres e fui identificando esses sintomas em mim, o que nenhum exame indicava.

A minha qualidade de vida não era a mesma, eu achava que estava envelhecendo, ou com uma menopausa precoce, ou que fosse por conta da maternidade em si e a vida da mulher com vários trabalhos e ainda cuidando da casa e do filho. Quando encontrei relatos, eu me identifiquei e fui atrás de investigar se tinha alguma doença autoimune, até que a reumatologista diante dos meus exames sugeriu a retirada do silicone.

Eu tinha esperança de ficar bem e ter minha saúde de volta quando tirasse esse corpo estranho de dentro de mim.

Fui em busca de médicos para fazer minha cirurgia porque em 2018 — e na verdade, até hoje — os médicos tratam o desplante de silicone com muito desdém e cinismo. Eles dizem que estamos com problemas psicológicos ou então impressionadas com relatos de blogueiras da internet. Me consultei com três médicos até conseguir alguém que pudesse fazer a minha cirurgia.

A partir do momento que fui fazer a cirurgia, criei um perfil no Instagram para poder ajudar outras mulheres na internet, porque o grupo que existe no Facebook é fechado e exclusivo para mulheres. Criei o @explantedesilicone para mulheres encontrarem mais facilmente e eu poder instruir de maneira pontual, também mostrando artigos científicos.

Quando tirei o silicone, tudo o que eu lia se confirmou, minha saúde foi voltando e pude realmente confirmar que não era nenhum problema psicológico, eu realmente tive a doença do silicone que os médicos tanto consideram como alarmismo.

Após retirar as próteses, ver minha saúde voltando, fui tendo mais forças para falar abertamente sobre o assunto e divulgar artigos científicos que são de conhecimento público há muito tempo. O silicone provoca muitos problemas no nosso organismo, de acordo com o último estudo publicado, que é do Henry Dijkman, indica que 98,8% das próteses vazam no organismo, e é justamente esse vazamento que provoca uma reação inflamatória no organismo que se manifesta através de inúmeros sintomas e às vezes até doenças autoimunes.

Hoje, mais de dois anos depois que tirei o silicone, eu em conjunto com pessoas que se interessam pela causa como médicos, fisioterapeutas, blogueiras e outras mulheres que tiraram as próteses, fundei a Associação de Conscientização sobre Explante, Implante, Toxicidade e Adjuvantes (ACEITA).

Ainda temos poucos meses de fundada, mas nossa intenção é alertar de maneira mais institucionalizada as pessoas para que estejam cientes dos riscos do silicone e também dos adjuvantes, que são substâncias que injetam no nosso corpo como botox e ácido hialurônico, por exemplo.

Hoje, me sinto muito honrada em poder representar a ACEITA, já que fui eleita presidenta, e ser uma das milhares de mulheres que falam sobre os malefícios do silicone com a intenção de alertar.

Nosso corpo é livre e somos responsáveis pelas escolhas que fazemos.

Hoje, espero que mais médicos possam estudar sobre o assunto, entender o que as mulheres reclamam em seus consultórios e perceber que essa causa só está começando. Em breve, esperamos que o SUS possa fazer cirurgias de explante com a técnica e a qualidade que tem para ofertar pra gente.

A sensação hoje é de muita gratidão, porque sei que antes de mim vieram milhares de mulheres que sofreram com isso caladas e algumas inclusive morreram sem saber quais problemas de saúde tinham. Me sinto feliz por poder levar essa informação a mulheres que procuraram médicos que tiraram sarro delas ou as escracharam, levaram como piada.

Quando encontramos nas redes sociais mulheres que vivem ou tiveram sintomas parecidos, a gente se encontra mais forte e se fortalece. A dor de uma fortalece a outra, e a cicatriz de uma cicatriza a da outra. Hoje sou só uma pessoa de milhares de mulheres que já falam disso e lideram esse movimento.

Também gostaria de deixar um recado para as mulheres que têm silicone e nos olham dizendo que somos invejosas ou que é mentira e estamos inventando algo: olhem para seu corpo e prestem atenção aos sintomas.. Para as mulheres que querem colocar eu peço que se informem, e para as que querem retirar eu digo para buscarem informações para a cirurgia." Larissa de Almeida