Elas ficaram solteiras na pandemia e, agora, estão voltando a se relacionar
O número de separações na pandemia foi alto. Como exemplo, temos vários casais famosos: Luisa Sonza e Whindersson Nunes, Luan Santana e Jade Magalhães, Mariana Ximenes e Felipe Fernandes, Marina Ruy Barbosa e Xande Negrão... A lista é extensa. A psicóloga clínica Flavia Berliner analisa as razões de tantos términos nesse período: "Para estar dentro de um relacionamento precisamos antes de mais nada estarmos bem com nós mesmos. Durante a pandemia, entramos em contato com conflitos internos e isso acabou se refletindo nas nossas relações. Além disso, a convivência entre os casais se intensificou e aflorou os problemas. As questões financeiras, as crianças em casa, o acúmulo das tarefas domésticas —tudo isso acabou pesando, tanto no individual quanto na rotina do casal".
E para além de todas as dificuldades inerentes a um término, o período também trouxe alguns desafios a mais, como ter de superar o momento sozinha, sem poder receber visitas das amigas em casa ou sair para se distrair e comer fora, por exemplo. Depois, veio ainda a impossibilidade de "voltar pra pista", já que os barzinhos, baladas e festas estavam proibidos por causa das recomendações de distanciamento social. "É um recomeço mesmo, hora de redescobrir como isso funciona. É ter contato com o novo e, tudo que é novo naturalmente gera insegurança e medo. Ainda mais no cenário da pandemia", aponta Flavia.
'Não sei como me comportar'
A UX designer Janaína Nascimento, 33 anos, de Osasco (SP), namorava há seis anos e morava com o ex há três. No início da pandemia, ela e o então namorado se aproximaram mais. "Sempre tivemos cada um a sua individualidade e eu estava viajando muito a trabalho e com amigos. Com a chegada da pandemia, passávamos mais tempo juntos e isso até nos fortaleceu. Foi nesse período que decidimos inclusive nos casar em 2022 e ter filhos logo em seguida", lembra. No entanto, o tempo passou e alguns problemas vieram à tona. O casal foi descobrindo que, na verdade, estava em momentos diferentes: ele já tinha dúvidas em relação ao casamento e, ela, com ajuda da terapia, foi percebendo que não o via mais em seu futuro, e que tinha outros sonhos que não combinavam com ele. O fim definitivo veio em maio, quando ele saiu do apartamento que dividiam.
"Mudei de emprego na mesma época do término e passei a focar mais na minha vida profissional e na etapa final do meu MBA", conta Janaína. "Mas eu sempre gostei de conhecer gente nova no dia a dia, no trabalho e em cursos, por exemplo, mais até do que em barzinhos. Meu ex-namorado, inclusive, conheci no trabalho. E como a gente estava na pandemia, a parte ruim foi que entrei no trabalho novo já em home office total e demorei até conhecer a equipe pessoalmente. Isso atrapalhou e ainda está atrapalhando".
Mesmo com o medo da covid, Janaína teve alguns encontros pós-término, em sua maioria com pessoas que ela já conhecia ou, então, amigos de amigos. E além do receio da doença em si, rolou também uma sensação de estar "enferrujada", já que namorava há tanto tempo: "Eu me senti muito estranha e com preguiça também. Não sei ainda como me comportar, o que falar, quando falar. É complicado!", confessa.
A falta dos encontros orgânicos
Ana Faria, 33 anos, que trabalha como supervisora de cadastro, vivia um namoro à distância — ele na Europa e ela no Brasil — e achava que, com a chegada da pandemia, eles ficariam juntos por um tempo maior, já que o cara veio para o Brasil para ficar por um prazo mais longo do que costumava ficar antes. Mas, no fim das contas, a situação acabou acelerando conversas e situações que eles vinham evitando no dia a dia, que era cheio de distrações. "Tivemos opiniões divergentes inclusive em relação à própria pandemia. Eu fiquei muito mais reclusa. Ele era mais resistente em aceitar as novas regras. Digo que a pandemia não foi a razão do término, mas ela nos colocou frente a frente para encararmos nossas diferenças, o que acabou acarretando no fim da relação, por volta de abril de 2020."
Além disso, como ele morava em outro país, na época rolou também outro problema: a impossibilidade de fazer planos, algo que era imprescindível para um casal que vivia um relacionamento à distância. "A gente não sabia que tipo de planos nós poderíamos fazer —e nosso namoro dependia deles. Estávamos juntos na Europa quando a pandemia desencadeou. Íamos tirar férias e tivemos de cancelar, o que já foi um estresse logo de cara. Não conseguíamos mais fazer planos, nos organizar ou ter estabilidade nas nossas decisões", lamenta.
Nada de app
O término foi extremamente difícil para Ana. "Encarar todas as questões daquele momento sozinha foi devastador. Quando a gente termina, nossa rede de apoio é muito importante —nossas distrações, familiares, amigos, saídas. O caminho normalmente é ocupar a cabeça, passear, ver gente, interagir. E eu não tive nada disso. Só ficava sozinha em casa, vendo notícias trágicas na TV. Foi muito intenso. Por outro lado, vê-lo ir para uma região onde as coisas não estavam tão críticas, onde ele podia sair, se recuperar mais rápido do que eu, estar perto da rede de apoio dele fisicamente, também foi bem ruim. Eu tive um apoio sensacional, pessoas que se preocuparam comigo, mas eu não tinha acesso a distrações ou entretenimento. E isso foi muito difícil. O período exigiu de mim uma grande evolução mental", reflete.
Ana segue rigorosa em relação aos cuidados com a pandemia. "Escolhi minha bolha desde o começo —agora, expandi um pouco esse grupo, mas ainda não me sinto confortável de ir a muitos lugares e fazer novas amizades". Usar aplicativos de paquera —o que se revelou um verdadeiro aliado das solteiras na pandemia— não é uma opção para ela: "Nunca fui adepta dos apps, mesmo antes. Sou uma pessoa de contato humano. Confesso que cheguei a tentar usá-los nesse período, mas não vejo sentido em ficar conversando sendo que o momento de marcar o encontro não vai chegar. Nem digo de virar um relacionamento mesmo, mas uma extensão daquilo. Gosto de situações sociais, de me comunicar cara a cara. As coisas estariam muito mais fáceis se a situação fosse outra".
Relacionamento é consequência
Ana explica que, para ela, o melhor caminho para conhecer gente nova e um potencial novo romance não deve envolver planejamento. "Gosto de conhecer as pessoas, me aproximar e, quem sabe, daí virar um relacionamento. Acho que relacionamentos são consequência desses encontros. Por isso, para mim tem sido bem difícil conhecer gente. Gosto de internet, Instagram, redes sociais, mas por puro entretenimento. Para todo o resto, prefiro o mundo em carne e osso". Ainda assim, ela já teve alguns dates depois do término: "Todos com pessoas que eu já conhecia antes. Meus dates seguem essa vibe, nunca são com pessoas desconhecidas, encontros às cegas. Me sinto mais confortável e mais segura dessa maneira".
Liberdade x medo
A publicitária Marcella Reis, 30 anos, terminou o casamento às vésperas da pandemia. Para ela, o período foi marcado por um misto de sentimentos: "O relacionamento já não fazia mais sentido para mim. Então, quando acabou, ao mesmo tempo em que eu estava feliz por poder fazer minhas coisas e cuidar de mim de uma forma que antes eu não conseguia, tinha todo o medo da pandemia. Era tudo muito incerto naquela época. Confesso que tive medo de morrer sozinha, de não encontrar ninguém nunca mais, até de ele encontrar outra pessoa antes do que eu. Ou seja, por um lado, sentia uma total liberdade mas, por outro, muito medo e insegurança. Foi difícil lidar com todas essas questões sem poder estar junto das pessoas. O contato com os outros ajuda a enfrentar esses momentos de uma forma melhor".
Para ela, a "volta à pista" foi e ainda está sendo complicada. "Eu estava num relacionamento há cinco anos, então naturalmente essa volta seria estranha. Tentei reativar contatos antigos e tive muita dificuldade. Conheci amigos de amigos de forma virtual, já que ainda não estava saindo por causa da pandemia. Isso me ajudou um pouco a suprir a carência. Agora, depois da segunda dose da vacina, estou um pouco mais tranquila pra sair".
Não é só escolher um lugar pra ir e pronto
Mas Marcella aponta outro problema: "Hoje em dia, ainda no contexto da pandemia, não é só escolher um lugar pra ir e pronto. Precisa ver se o lugar vai estar cheio ou não, quais são as pessoas que frequentam aquele lugar? Eu já não saberia aonde ir normalmente, afinal fazia anos que não saía com essas intenções. Mas nesse momento é ainda pior. Tem de planejar com muita antecedência aonde ir, entender qual a vibe daquele lugar. É muito mais difícil estar solteira agora do que seria em outros tempos".
Ela já teve alguns dates pós-término —mas, assim como Ana, com amigos de amigos e conhecidos do ciclo do trabalho, por exemplo. "Alguns foram estranhos, outros foram legais", conta. "Mas não foi estranho por causa do término ou por eu não ter dates há bastante tempo. Isso está bem certo pra mim. O problema foram as questões da pandemia mesmo. É sair e depois ficar pensando onde a pessoa esteve antes, se o encontro foi seguro. Acho que as pessoas não estão mais se cuidando tanto agora. Com certeza a grande dificuldade de ser solteira hoje em dia é essa."
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