Voluntária coleta doações de cabelo para ONG que produz perucas
Em 2018, a baiana Cyda Silva cortou o próprio cabelo com um objetivo diferente do usual: incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo para transformar as mechas em perucas doadas a mulheres que tiveram queda de fios em decorrência de alguma doença.
Mobilizou suas redes sociais, pediu a conhecidos. Deu certo e, conforme mais gente foi doando seus cabelos, o fluxo se construiu naturalmente. Além de pedir as contribuições, ela se dispõe a retirar na casa de quem doou. Desde então, ela já conseguiu entregar 650 mechas para a ONG Cabelegria, que as transforma em perucas para crianças e mulheres em tratamento de câncer e outras doenças que provocam queda. Cada peruca precisa de 4 a 5 mechas para ser confeccionada.
Decidi criar a ação porque não queria só falar sobre prevenção de câncer de mama. Falar todo mundo já fala. Eu queria fazer a diferença.
Cyda Silva
Finalista do Prêmio Inspiradoras 2021 na categoria Representantes Avon, ela encontrou inspiração para atuar com pacientes de câncer depois de perder uma amiga muito querida. A moça enfrentou a doença por três anos. Pouco tempo depois, Cyda conheceu o trabalho do Instituto Avon e se sentiu motivada a contribuir com a causa de maneira concreta. Entre os objetivos da instituição, está o de reduzir o número de mortes de mulheres por câncer de mama no Brasil por meio de conscientização, informação e investimentos em projetos voltados à causa.
Sempre disposta a ajudar
Emotiva, ela diz que se sensibiliza com cada história de cabelo doado e cada paciente que conhece. A mais comovente foi a de uma mulher que recebeu a ajuda de Cyda.
A boliviana Marioly Caicedo Bejarano, de 47 anos, vendeu tudo o que tinha para vir ao Brasil em busca de tratamento para um câncer de mama, depois de esgotar as possibilidades que tinha em sua terra natal.
Chegando aqui, sem família e sem falar português, ela contava apenas com o apoio de conhecidos, que nem sempre podiam estar com ela quando necessário. No dia em que ela precisou ir ao hospital às 6h para finalmente ter uma consulta com uma mastologista, ela se viu sem acompanhante. Até que uma conhecida a colocou em contato com Cyda e disse para pedir ajuda. As duas se conheceram no hospital, antes da consulta. Ficaram grandes amigas. "Ela se ofereceu para me acompanhar e foi como uma tradutora, mesmo sem entender nada de espanhol e eu sem entender português", recorda-se.
Apesar da dificuldade da comunicação, Cyda estava disposta a ajudar. "Tinha uma disposição incrível sem esperar nada em troca", diz a boliviana. Desde então, elas se falam sempre por telefone. Cyda ajudou na mudança da amiga e fez até uma festa para comemorar o aniversário de Marioly. "Ela sempre me dá lenços de presente, porque meu cabelo caiu com a quimioterapia".
Depois de ver fotos antigas da amiga, que sempre usou o cabelo comprido até a cintura, Cyda decidiu que conseguiria uma peruca para ela. Mas Marioly não se adaptou ao acessório. "Não fiquei confortável e preferi devolver para que outra pessoa pudesse usar".
Economista de formação, Marioly lamenta que ainda não pode trabalhar por causa das limitações do tratamento. Mas se alegra ao falar da amiga, que sempre a faz rir quando está triste.
Cyda foi uma peça fundamental para mim. Nos conhecemos quando precisei de alguém para me acompanhar à minha consulta com a mastologista. Ela foi comigo, de madrugada, sem nem me conhecer e foi como uma tradutora para mim, me ajudando sem esperar nada em troca. Ficamos grandes amigas desde então.
Marioly Caicedo Bejarano, boliviana que recebeu apoio de Cyda para fazer tratamento de câncer no Brasil
Cyda reflete sobre as pessoas que conheceu por meio do trabalho social e diz que acompanhar o esforço de quem está lutando pela vida fez com que ela mudasse sua forma de viver. "Eu era uma pessoa que reclamava muito e ficava insatisfeita". Hoje ela tenta ser mais positiva e levar alegria e beleza para as pessoas em tratamento de câncer.
Para o futuro, ela quer terminar os estudos e aprender a produzir perucas. Prestou o Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) e, enquanto o resultado não sai, frequenta o EJA (Educação de Jovens e Adultos), modalidade de ensino destinada ao público que não completou a educação formal na idade apropriada. "Não está sendo fácil", diz com a determinação de quem não vai desistir.
"Tem que colocar a beleza pra fora!"
Quando era adolescente vivendo em Queimadas, no interior da Bahia, Cyda tinha uma certeza: não ficaria ali por muito tempo. Tinha o sonho de mudar-se para São Paulo, cidade que admirava pelas novelas que acompanhava na televisão.
A vida não era fácil e ela praticamente não teve infância. Filha mais velha, ajudava a mãe a cuidar dos irmãos e também trabalhava na roça da família. "Eu ia da escola para a roça", lembra. Na lida na terra, colhia e descaroçava algodão, colhia e debulhava feijão. Os estudos foram interrompidos na oitava série - o atual 9º ano.
Sempre soube que não queria aquilo de lata d'água na cabeça, enxada não mão e buscar lenha para o fogão.
Cyda Silva
Ela repetia para si mesma que não queria continuar naquela vida. Chegou a pedir inúmeras vezes para a madrinha, que morava em São Paulo, acolhê-la. "Ela já cuidava de um dos meus irmãos e não podia me sustentar também".
Aos 17 anos, partiu para Paulo Afonso (BA), onde trabalhou como doméstica e babá. Na primeira casa, ela lavava, passava e cozinhava. "Fazia tudo que tinha de serviço". Depois, foi para outro trabalho, cuidar de duas crianças. Tudo sem registro e sem receber os direitos trabalhistas. Como babá, ela ganhava R$ 80 por mês.
Muito expansiva, partiu, então, para o comércio, mas teve uma das piores experiências de sua vida. Não tinha dinheiro para comprar o almoço e não recebia nenhum tipo de auxílio do patrão. "Os outros saíam para almoçar e eu ficava nos fundos da loja, com fome". Às vezes uma colega trazia algum salgado ou dividia a marmita. Ao final do período de experiência, foi dispensada e recebeu R$ 200. "Não pagou nem o mototáxi que eu gastava para ir até a loja".
Cansada, percebeu que era hora de transformar o sonho em realidade. Há 18 anos, a baiana desembarcou em São Paulo para começar uma vida nova. Casou-se e logo teve dois filhos, Hernando e Renato, de 17 e 14 anos, "dois rapazes maiores que a mãe".
O plano de ser financeiramente independente foi adiado pelo nascimento do primeiro filho e pela insistência do marido, que a queria apenas em casa dedicada à família. Mas, há 11 anos, "chutou o pau da barraca". Virou representante Avon, teve contato com ações sociais e mudou seu cotidiano e sua visão de mundo.
Apaixonada por maquiagem, incentivava as clientes a usar batom vermelho. "Eu digo que tem que colocar a beleza para fora". Ela percebia que algumas mulheres tinham receio de usar a cor e comemora que hoje as meninas usam todas as cores sem medo de qualquer estigma. "As mulheres lá na minha cidade só usavam batom rosa ou cor de boca. Lá se dizia que a mulher que usava batom vermelho não era uma mulher direita. Isso não tem nada a ver".
Sobre o Prêmio Inspiradoras
O Prêmio Inspiradoras é uma iniciativa de Universa e do Instituto Avon, que tem como missão descobrir, reconhecer e dar maior visibilidade a mulheres que se destacam na luta para transformar a vida das brasileiras. São 21 finalistas, divididas em sete categorias. Além de Representantes Avon, tem também: Inovação em Câncer de Mama, Informação para vida, Conscientização e Acolhimento, Acesso à Justiça, Equidade e Cidadania e Esporte e Cultura.
Para escolher suas favoritas, basta clicar na votação a seguir. Está difícil se decidir? Não tem problema: você pode votar quantas vezes quiser. Também vale fazer campanha, enviando este e os outros conteúdos da premiação para quem você quiser. Para saber mais detalhes sobre a votação, é só consultar o Regulamento.
No mês que vem, durante dos 21 dias de enfrentamento à violência, uma série de lives com as finalistas de todas as categorias vai debater este e outros temas relacionados ao universo feminino. Dá para acompanhar as novidades no portal Universa e em nossas redes sociais.
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