Fim da violência contra mulher pouparia R$ 214 bi em 10 anos, diz Fiemg
O fim da violência contra mulheres pouparia, em 10 anos, mais de R$ 214 bilhões no PIB brasileiro —valor equivalente a uma década do programa Bolsa Família. Ao mesmo tempo, possibilitaria a criação de mais de 2 milhões de empregos no país e acréscimo superior a R$ 97 bilhões na massa salarial e R$ 16,4 bilhões na arrecadação do governo.
Essas são conclusões da pesquisa "Impactos Econômicos da Violência contra a Mulher", feita pela Gerência de Economia e Finanças Empresariais da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais). Segundo os cálculos da entidade, num cenário mais extremo, de aumento da violência contra a mulher, o impacto no PIB chegaria a R$ 301,2 bilhões, com perda de 2,8 milhões de empregos.
Os pesquisadores afirmam que a violência contra a mulher provoca o fechamento de 1,96 milhão de postos de trabalho no Brasil, o que responde por uma massa salarial de R$ 91,44 bilhões e de arrecadação de R$ 16,44 bilhões em tributos em 10 anos.
Um dos responsáveis pelo levantamento, João Pio, consultor de Estudos Econômicos da Federação, ressalta que a violência contra a mulher afeta a sociedade como um todo. A mulher vítima de violência, segundo Pio, é abalada sob vários aspectos, como físico, moral e emocional. Do ponto de vista da economia, explica ele, essa violência pode levar, a curto prazo, a reflexos como absenteísmo, atrasos no trabalho e perda do emprego. A longo prazo, reduz a produtividade, diminui a capacidade laboral de forma permanente e o capital humano.
"Entre as consequências dessa realidade para a conjuntura econômica vêm queda na renda, com redução do consumo, e, por consequência, diminuição do faturamento das empresas, que passam a investir menos e a demitir", pondera ainda João Pio. Segundo a entidade, as mulheres vítimas de violência faltam, em média, 18 dias de trabalho por ano, o que implica uma perda de massa salarial de R$ 974,8 milhões.
Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 54,5% das mulheres com 15 anos ou mais integravam a força de trabalho no país em 2019. A força de trabalho é composta por todas as pessoas que estão empregadas ou procurando emprego. Os dados constam da segunda edição do estudo Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, que traz informações variadas sobre as condições de vida das brasileiras em 2019.
Denúncias na pandemia
Segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, os canais Disque 100 e Ligue 180, do Governo Federal, registraram 105.821 denúncias de violência contra mulher só em 2020. O dado corresponde a cerca de 12 denúncias por hora.Desse total, 72% (75.894 denúncias) se referem à violência doméstica e familiar contra a mulher, incluindo ação ou omissão que causem morte, lesão, sofrimento físico, abuso sexual ou psicológico.
A maioria das vítimas se declara pardas e têm idades de 35 a 39 anos. Em relação aos suspeitos, o perfil mais comum é de homens brancos com idade entre 35 e 39 anos. O preenchimento desses dados não é obrigatório durante a realização da denúncia. Dessa forma, o perfil médio das vítimas considera apenas aqueles itens em que as denúncias tiveram essas informações prestadas.
.Ainda no Brasil, as mulheres negras são as vítimas mais recorrentes de homicídios. Segundo o Atlas da Violência, a taxa de assassinatos delas cresceu 29,9% em 10 anos, até 2017. No mesmo período, o índice de homicídio de mulheres de outros grupos demográficos aumentou em 4,5%. As negras também integram o grupo que mais sofre por feminicídio: dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que elas foram 61% das vítimas fatais, no Brasil, em 2019.
Violência doméstica no mundo: subnotificação e feminicídio
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, foram registradas mais de 750 ocorrências de violência doméstica contra mulheres brasileiras no exterior, em diversos países, durante a pandemia. Os dados são preliminares. A pasta espera obter um panorama mais completo sobre a violência contra as mulheres nos próximos meses. "A intenção é que o levantamento passe a ser feito em bases regulares, possibilitando a criação de série histórica sobre os casos registrados no exterior", informou o ministério em nota.
Ao longo da vida, uma em cada três mulheres no mundo vivencia a violência nas mãos de um parceiro íntimo. Este número preocupante é o resultado de pesquisas realizadas pela entidade Mulheres da ONU. De acordo com a nota, o problema atinge uma em cada quatro mulheres entre 14 e 25 anos ao redor do globo. Segundo a entidade, 9, 23% das mulheres brasileiras entre 15 e 49 já sofreram violência doméstica (o que inclui agressões físicas ou sexuais) de seus parceiros em algum ponto de sua vida.
Na Melanésia, o número chegava até a uma em cada duas mulheres. As taxas mais altas de abuso físico por um parceiro foram registradas na Oceania, seguida pelo Sul da Ásia e África. Os países menos desenvolvidos combinados pontuam um pouco acima da média, 39%, no entanto.
De acordo com a ONU, a violência conjugal afeta 641 milhões de mulheres em todo o mundo, tornando-se o tipo de violência mais comum que afeta as mulheres. Apenas 6% das mulheres em todo o mundo relatam ter sido abusadas sexualmente por alguém que não seja seu parceiro. Embora apenas 20 por cento das vítimas de assassinato no mundo sejam mulheres, a maioria delas é morta por um parceiro, ex-parceiro ou membro da família.
Um outro relatório da ONU mostra que, todos os dias, 137 mulheres em todo o mundo são mortas por seus parceiros atuais ou anteriores ou por um membro da família - 64% de todas as vítimas mortas por parceiros ou familiares em todo o mundo são mulheres. As mulheres também representam 82% das vítimas mortas por seus parceiros ou ex-parceiros, como mostram os dados de um relatório recente da ONU sobre o feminicídio.
"A violência contra as mulheres é endêmica em todos os países e culturas, causando danos a milhões de mulheres e suas famílias, e foi agravada pela pandemia COVID-19", comentou o Diretor-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. O relatório identificou a desigualdade como um fator de risco para a violência contra as mulheres e instou os países a adotar uma abordagem sistêmica do problema, incorporando salvaguardas em suas instituições, leis e políticas.
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