'Qualidade de vida caiu 90%': como a menopausa afeta a vida das mulheres
Para mulheres em torno de 50 anos, a relação entre ondas de calor e menopausa é praticamente automática — afinal, é esse o sintoma mais associado ao período. Um estudo inédito feito pela Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), que será divulgado em novembro, mostra que entre 60% a 80% das mulheres sofrem com os "calorões".
Mas, como explica o médico Luciano de Melo Pompei, autor do estudo e presidente da Comissão Nacional Especializada em Climatério da entidade, a lista de reações do corpo é grande e afeta a vida das mulheres de diversas maneiras. Sintomas depressivos, ansiedade, irritabilidade, dificuldade para dormir, secura da pele e da vagina, falta de libido e afinamento do cabelo são outros problemas relatados pelas pacientes. Muitos deles, porém, são pouco conhecidos e discutidos, o que as fazem acreditar que podem estar com outros problemas.
Até três anos antes da menopausa, que costuma ocorrer entre os 47 e os 50 anos, as ondas de calor e as alterações de humor são frequentes. "No período do climatério ou transição menopausal, que compreende os momentos antes e depois da última menstruação, ou seja, da menopausa, os sintomas aparecem por causa da falta de estrogênio, o principal hormônio feminino. Ele vai deixando de ser produzido pelos ovários e, com isso, diferentes situações são desencadeadas", explica Pompei. A longo prazo, após o último sangramento ainda há aumento do risco de osteoporose e problemas cardiovasculares, como infarto e AVC.
O tratamento, segundo Pompei, pode ser feito por meio de reposição hormonal — um tema "complexo" uma vez que é comprovado o risco de desenvolvimento de câncer de mama em altas dosagens, mas, com acompanhamento adequado, afirma o médico, é seguro. Além disso, também podem ser usados antidepressivos, que tratam alterações de humor e as próprias ondas de calor, e substâncias obtidas de plantas que têm ação similar aos hormônios femininos, mas menos potentes que os sintéticos.
Universa conversou com três mulheres sobre como os sintomas do climatério têm impacto em suas vidas e como elas lidam com essas mudanças.
'Morro aos poucos junto com os hormônios'
"Sempre me considerei uma pessoa saudável mas, de repente, comecei a ver mudanças estranhas em mim. Comecei a perceber os sintomas esse ano. O primeiro foi a diminuição da libido. Sou casada com um um homem 19 anos mais jovem, lindo e que amo. Simplesmente mudei. Era uma mulher cheia de vontade para sexo e agora parece que adormeci. Depois vieram a insônia e os fogachos, o zumbido no ouvido, dores nas pernas e pés. Infelizmente, isso se reflete no dia a dia. Minha qualidade de vida caiu em 90%.
Fiz tratamentos naturais, os chamados fito-hormônios, que aliviam um pouco. Penso em fazer reposição hormonal, só falta encontrar um médico na nossa cidade que prescreva a receita, e isso está muito difícil de achar.
Mesmo com todos os sintomas do climatério, a médica não me passou nada, falou que não precisava de hormônios, que não estava na idade ainda. Coisa de que discordo totalmente.
Ela não deu ouvidos aos meus sintomas, que são visíveis e estão afetando demais a minha vida.
É um absurdo que que ninguém queira lutar junto com as mulheres e ajudar a mudar essa situação caótica. Precisamos de algum projeto, alguma política pública, de apoio às mulheres em climatério e na menopausa, algo que nos ajude a aliviar esse sofrimento. Nos sentimos abandonadas. Somos mulheres ainda jovens, inteligentes e morrendo aos poucos junto com nossos hormônios." Simone Costa, 48 anos, guia de turismo, de João Pessoa (PB)
'Demorei para perceber que irritação e ansiedade tinham relação com menopausa'
"Tenho 54 anos e comecei a ter os primeiros sintomas aos 50. Demorei para perceber que pudesse ter relação com a menopausa. Tinha perdido minha mãe e imaginei que a insônia, a prostração, a ansiedade e o pânico estavam relacionados somente a isso. Mas mesmo durante a doença dela percebo que, hoje, já vivenciava os sintomas.
Comecei a ter uma irritação fora do normal. Minhas amigas me chamavam para sair, eu nunca ia. Parei de me arrumar, só saía de casa para acompanhar minha mãe no hospital. Sexo passou a ser algo terrível. Além de não ter mais vontade, comecei a sentir dor.
Minha ficha só caiu quando viajei com minha família para Gramado (RS). Era para ser só alegria, mas eu me sentia estranha. Um dia, atravessando a rua, tive uma crise de pânico horrorosa. Comecei a suar de escorrer. Depois disso fui à ginecologista e, então, soube que poderia ter relação com o climatério. Fiz exames e também procurei uma psiquiatra, que me receitou um antidepressivo que ajuda mulheres atravessando esta fase.
O que mais sentia, além dos fogachos, foram insônia, ansiedade e dor nas pernas. Hoje já me sinto muito melhor. Os fogachos são eventuais. O que ainda me incomoda muito é a insônia.
Jamais imaginei que brigaria tanto para não ter gordura na barriga [outra consequência na diminuição da produção do hormônio estrogênio]. Também não pensei que a minha excelente memória me abandonaria a ponto de, muitas vezes, faltarem palavras em uma conversa. Não faço reposição hormonal porque tenho um nódulo no seio e meu histórico familiar é terrível. Mas estou aí, vivendo um dia de cada vez." Denise Tonietto, 54, secretária executiva, de Porto Alegre (RS)
'Primeiros sintomas vieram aos 37. Tem dias em que não consigo trabalhar'
"Comecei a sentir calorões há quatro anos, aos 37. Identifiquei que pudesse ser o climatério, pois minha mãe teve os primeiros sintomas quando era nova também. Eu pensava que logo passaria, que a menopausa era só ausência de menstruação mesmo. Mas quando comecei a ter esses sintomas fui pesquisando. Começou a me afetar tanto que deixei de ser produtiva no trabalho. Fiquei hipertensa, até hoje minha pressão oscila muito.
Na época, os médicos diziam que eu era muito nova. Só neste ano, depois de alguns exames, constataram que estou na pré-menopausa. Sinto muitos enjoos, fraqueza, ansiedade, tonturas, dor de cabeça, sensação de cabeça fraca e falta de memória.
Tem dias em que não tenho disposição e simplesmente não consigo trabalhar. Fico muito triste porque sou muito nova para parar com o trabalho, só queria ficar bem de novo para retomar minha profissão como era antes." Vanessa do Nascimento Mainart, 41, costureira, de São Paulo
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