Ao julgar vida sexual de Yasmin Brunet, sogra faz 'slut shaming'. Entenda
Um nude vazado, vídeos eróticos jogados na internet ou comentários que têm a intenção de rebaixar alguém apenas por causa do comportamento sexual são exemplos de um fenômeno que tem nome difícil em inglês — "slut shaming" — mas que nada mais é do que a crítica à sexualidade das pessoas, principalmente das mulheres, por não corresponderem as expectativas de conduta "tradicionais".
Em mais um capítulo de desavenças com a modelo Yasmin Brunet, a mãe de Gabriel Medina, Simone Medina, anunciou que supostamente estaria sob posse de um vídeo íntimo de Yasmin. A mensagem de Simone foi divulgada em um print enviado a Medina.
Sem citar o nome da sogra, a modelo foi ao Instagram e rebateu o comentário sobre as críticas à sua vida sexual:
Em respeito aos meus fãs e aos do Gabriel, quero me manifestar sobre as notícias que saíram. Uma delas diz que existiria um vídeo íntimo meu em posse de um familiar do meu marido. Não procede. Não existe tal material. No entanto, mesmo que existisse, é lamentável querer diminuir uma pessoa pela sua sexualidade.
Para a pesquisadora da socialização feminina e doutoranda em Comunicação pela PUC Rio Maria Carolina Medeiros, a tentativa de Simone de diminuir o valor moral da modelo pela suposta existência de um material em que ela aparecia em ato sexual é, sim, uma forma de "slut shaming". A antropóloga especialista em violência contra mulher Beatriz Accioly, por sua vez, explica que a resposta de Yasmin foi "excelente" ao tratar a sexualidade como algo livre e de direito a todas as pessoas.
Yasmin Brunet rebate sogra com discurso sobre sexualidade
Acompanhada por fãs de Medina, de Yasmin e de fofoca, a briga familiar entre eles se estende com acusações e declarações públicas de todos os lados. A última troca de farpas, no entanto, trouxe à tona o fato de Simone criticar a modelo por um vídeo em que ela apareceria fazendo sexo oral em um homem.
A pesquisadora Maria Carolina explica que esse tipo de julgamento é um caso de reprodução do machismo — já que, de acordo com especialistas, não há mulheres machistas — em que mulheres repetem para outras estereótipos que associam determinadas condutas femininas à falta de vergonha, rebaixamento moral e libertinagem.
"Isso mostra como lidamos com nossa sexualidade. Desde a infância, como diz Simone de Beauvoir, a menina experimenta o corpo diferente de como se deixa o menino experimentar. O mesmo acontece na puberdade e aí vemos que enquanto a vida sexual do homem é pautada na afirmação dos desejos, a da mulher é baseada na contenção", analisa.
"São os tabus que vão desde o 'sente de pernas fechadas' à masturbação feminina e a se manter a virgindade até o casamento mesmo em sociedades em que isso não é uma cultura".
Estereótipo de 'vagabunda' e a liberdade sexual
"Slut", em português, significa "vagabunda". "Shaming", em tradução livre, seria "envergonhar". São esses conceitos, portanto, que fazem com que as pessoas se sintam autorizadas para violentar mulheres que colocam a liberdade sexual e o respeito à própria sexualidade como prioridades, sem se preocupar com o que pensam ou dizem terceiros.
"Há uma violência simbólica, de chamar essa pessoa de 'vagabunda', e também a objetiva, já que, se a mulher vive sua liberdade sexual plenamente, pode ter medo de ser estuprada ou morta por isso", pondera a pesquisadora.
Mas, por que mulher julga mulher?
Uma das explicações, avalia Maria Carolina, está no fato de que todos nós somos criados sob a batuta do machismo. Por sermos mulheres que, nesse sistema, são vistas como objetos, condicionadas à passividade e à existência dependente de homens, quem não segue essas regras é repreendida. Infelizmente, não são só os homens que nos julgam, mas, como diz a pesquisadora, são reproduzidas falas machistas entre nós.
"Quantas mulheres falam: 'Não sou assediada porque me dou o respeito?' ou 'Não sou estuprada em festa por que não bebo até cair?'. Essa é uma visão de quem não se vê como possível vítima desse discurso, e que acha que se aliar aos homens vai fazê-la entrar em um regime de exceção".
A antropóloga Beatriz Accioly, que também é coordenadora de Pesquisa e Impacto do Instituto Avon, explica que tentar convencer as pessoas de que uma mulher não é digna ou tem moralidade condenável por causa de um comportamento não é algo novo; a forma como a internet potencializa esse discurso, sim. "Mas há outro lado, de abrir espaço para defesa, como fez Yasmin, para as pessoas demonstrarem apoio. Para mim, o que a modelo falou foi excelente. Além de responder que não fez, disse que, se existisse o vídeo não teria problema. Isso porque a sexualidade é um direito das pessoas."
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