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'Decidi viver nômade e rodar o país numa Kombi com a família'

Natália Franco com o Marido, Aleandro, e a filha do casal, Lorena, de 3 anos - Arquivo Pessoal
Natália Franco com o Marido, Aleandro, e a filha do casal, Lorena, de 3 anos Imagem: Arquivo Pessoal

Natália Franco, em depoimento a Fernando Barros

Colaboração para Universa

21/10/2021 04h00

"Eu e meu marido, Aleandro, estamos casados há 8 anos e sempre tivemos vontade de viver em um motorhome, mas a princípio isso era um plano para o futuro, quando a gente se aposentasse. Somos bem aventureiros, adoramos acampar e conhecer novos lugares.

No início deste ano, decidimos sentir o gostinho da vida na estrada, durante uma viagem de férias, e compramos uma Kombi para isso. Assim, eu, Ale e nossa filhinha de 3 anos, Lorena, partimos de Santo André, na Grande São Paulo, para o Rio de Janeiro. A experiência foi tão encantadora que nos deixou com vontade de estendê-la e vivenciar a liberdade proporcionada pela estrada por mais algum tempo.

Três meses de planejamento

Com esse desejo e aproveitando a possibilidade do trabalho remoto durante a pandemia, decidimos adotar o estilo de vida nômade e sair rodando pelo país, até o final de 2021. Antes de cair na estrada, no entanto, foram quase três meses de planejamento e preparação. Primeiro, definimos o nosso roteiro, pensando nos lugares que queríamos conhecer e, principalmente, na estrutura mínima de que precisávamos.

Tínhamos uma boa reserva financeira que seria mais do que suficiente para qualquer tipo de emergência e nos organizamos para abraçar essa vida com o máximo de segurança possível. Por exemplo, todos nós temos planos de saúde e a Kombi está no seguro. Além disso, tivemos de organizar tudo direitinho em relação aos nossos empregos.

Natália Franco - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Natália Franco e a família levam uma vida nômade em uma Kombi pelo Brasil
Imagem: Arquivo pessoal

Meu marido, que vinha planejando empreender e trabalhar como autônomo, ainda estava atuando na área comercial de uma empresa e precisou alinhar a saída dele. Por outro lado, eu, que sou gerente de recursos humanos numa empresa de tecnologia e logística, precisei combinar com a empresa que viveria essa experiência nos meses seguintes.

Para tanto, ter um plano B, C e D de internet era essencial para eu fazer meu trabalho remotamente. Então, pesquisei diversas maneiras de ter uma boa conexão, adquiri um amplificador de sinal de internet, além de chips de três diferentes operadoras de telefonia.

Automóvel equipado

Como a Kombi seria o nosso lar nessa aventura nômade, meu marido começou a adaptá-la. Ele a equipou com toda a estrutura elétrica, incluindo placas solares, toda a parte de móveis e eletrodomésticos, como fogão, geladeira e pia, entre outros. E tudo isso sem nenhuma experiência anterior em elétrica ou marcenaria. Ele foi fazendo tudo como autodidata, assistindo vídeos no YouTube e pedindo ajuda a pessoas próximas para executar a montagem.

Kombi - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O interior da Kombi Catarina
Imagem: Arquivo pessoal

A Kombi ficou bem completinha. Uma casa em miniatura. Além desses itens que citei, há também um banheiro simples, uma barraca de teto e um banco-cama que nos possibilita dormir confortavelmente. Até a batizamos carinhosamente de Catarina. É um nome que adoro e gostaria de dar à minha segunda filha.

'Temos dois cachorros e só deu para levar um'

Com tudo pronto, entregamos a casa em que morávamos de aluguel e partimos rumo à nossa aventura. A parte mais dolorosa foi deixar nossa filha de quatro patas, a Amora, com a minha mãe. Temos dois cachorros e só deu para trazer conosco o pequenininho, Flufi. No início, as pessoas para quem contamos que iríamos viver nômades acharam uma loucura, mas acabaram nos apoiando. Tínhamos um plano bem definido e o mais seguro possível.

Conhecendo lugares lindos, fazendo amizades e tendo boas experiências

Saímos de Santo André em junho e, desde então, já passamos por Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas. Nesses estados, conhecemos todas as principais praias e, atualmente, estamos em Pernambuco, mais especificamente em São José da Coroa Grande, que fica ao lado de Maragogi (AL). Seguiremos por todo o Nordeste, até o Rio Grande do Norte, pelo menos, e na volta queremos explorar e ficar um bom tempo em Minas Gerais.

Natália Franco - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Natáia Franco trabalha em uma das paradas da família nômade
Imagem: Arquivo pessoal

Normalmente, passamos uma semana em cada ponto. Para encontrar os campings, utilizamos aplicativos como o MaCamp e o Viva sobre rodas, além de pesquisas no Google. Ser um local seguro, ter uma estrutura mínima, como wi-fi, chuveiro e permitir a entrada de cachorro de pequeno porte é algo que levamos em conta na hora da pesquisa. Mas confesso que a maioria tem pecado na questão da limpeza e organização.

Para viajar, a gente pega a estrada sempre aos sábados bem cedo. Eu e Ale nos revezamos na direção da Catarina. Temos optado por não dirigir à noite e costumamos percorrer trajetos de no máximo 300 km entre os pontos porque, com a Kombi, nossa velocidade é bem reduzida. Como algumas vezes não conseguimos explorar cada cantinho, já pretendemos no futuro refazer esse trajeto, passando pelos locais aos quais não conseguimos ir nesta expedição.

Uma das partes mais incríveis da viagem tem sido encontrar outros nômades como nós e trocar experiências. Conhecemos já diversas pessoas e temos colecionado amizades pelo caminho, desde o jovem casal que viajará por todo o país de bicicleta até outro que tem um motorhome de luxo e viverá sobre rodas até o final de suas vidas. São diferentes motivações e histórias, mas todas inspiradoras.

Natália Franco - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Natália curte o dia em Barra do Itariri, na Bahia
Imagem: Arquivo pessoal

A maior parte das pessoas que vivem assim têm valores parecidos com os nossos, valorizam a natureza e a simplicidade da vida e menos as coisas materiais. Nossa filhinha também tem curtido muito, especialmente quando há outras crianças nos campings. Aí a diversão é garantida. Ela ainda não está em idade escolar, mas propomos diversas atividades para suprir e até superar o conteúdo que ela teria na escola. A parte mais desafiadora é ficar longe da família, avós, tios, mas a internet ajuda muito a diminuir essa distância.

'Rodar o país me trouxe muitos desafios e aprendizados'

A realidade é sempre mais desafiadora do que o planejado, então uma das minhas principais dificuldades nesse período nômade é me concentrar no trabalho porque o ambiente me convida a distrações. A maioria das pessoas que vivem desta forma não tem um emprego CLT, então há mais flexibilidade com relação aos horários e o formato de trabalho. No meu caso, durante o horário comercial, fico mais no meu cantinho mesmo para conseguir a concentração que necessito.

Natália Franco - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Natália Franco e a família em vida nômade pelo país
Imagem: Arquivo pessoal

As nossas despesas também têm sido maiores do que o que planejamos. Na verdade, descobrimos que, quando pensamos no orçamento antes de sair pelo país, não tínhamos uma ideia exata de como seria.

Com relação aos gastos com camping, gasolina e pedágio até está dentro do que havíamos imaginado, mas com alimentação temos gastado mais. Os preços nos supermercados e restaurantes estão altos e, como a maior parte do tempo estamos em cidades pequenas e com pouca infraestrutura, eles aumentam ainda mais.

Vivendo como nômades, os aprendizados são muitos. Acho que o maior é perceber que tudo o que a gente precisa para viver bem cabe em uma kombi. Por exemplo, eu me dei conta de como acumulávamos antes roupas, sapatos, entre outras coisas. Há pouco espaço na kombi, então, precisamos escolher o que carregar e, surpreendentemente, descobrimos que o que temos hoje é mais do que o suficiente.

Natália Franco - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Cenas da vida na estrada
Imagem: Arquivo pessoal

Com essa experiência, tenho vivido também fora da minha zona de conforto. Isso faz com que eu me mantenha atenta e alerta, vivendo com intensidade o aqui e o agora. Se eu pudesse comparar a Natália de antes com a de agora, vejo que eu estava no piloto automático, seguindo o fluxo da vida: trabalho, casa, afazeres domésticos, num ciclo sem fim. Essa viagem me fez perceber que tenho o dever de tomar o 'volante' da minha vida e direcioná-la para que eu possa viver as histórias que quero contar no futuro. A vida é uma dádiva e devemos fazer dela uma experiência extraordinária."

Natália Franco, 33 anos, é natural de Santo André, na Grande São Paulo, e está rodando o país como nômade até o final de 2021.