O que fazer quando um casal se ama, mas é incompatível na cama
A relação envolve amor, respeito, diálogo, carinho. No entanto, na cama as coisas parecem não funcionar muito bem, por diversos fatores: um gosta de transar à noite, o outro prefere de manhã; um gosta de preliminares longas, o outro prefere algo mais vapt-vupt; a química é meio esquisita e por aí vai. Esse tipo de descompasso acontece numa incidência maior do que você imagina, segundo Carolina Freitas, mestre em Psicologia e especialista em sexualidade da plataforma Sexo sem Dúvida.
"Os desencontros sexuais são bem comuns. O amor romântico prega que o amor tudo resolve, mas na vida real não é bem assim. Amor e sexo não necessariamente estão na mesma sintonia. São duas pessoas, com vivências, experiências e desejos sexuais diferentes que se unem, então é preciso conversar e organizar a vida sexual", observa.
A psicóloga Marina Simas de Lima, sócia-diretora do Instituto do Casal, na capital paulista, salienta que a vida a dois é um projeto que requer um investimento a longo prazo geralmente realizado por duas pessoas que vislumbram um espaço em que exista acolhimento, afeto, segurança, satisfação sexual e projetos comuns significativos.
"Para que funcione, é preciso intimidade além do compromisso com a relação. É frequente no meu consultório atender pessoas que compartilham a cama e a casa e que perderam totalmente a intimidade. Não conseguem conversar, se tocar, se aproximar. Relatam que é como se tivesse um abismo no meio da cama", comenta Marina.
É preciso retomar a intimidade antes mesmo da retomada da sexualidade e da erotização.
A boa notícia é que é possível, sim, ajustar essa incompatibilidade e alinhar expectativas e desejos. "Para isso, é preciso comunicação. Não só falar como gostaria, mas também aprender a ouvir. E, de preferência, a conversa deve acontecer fora da cama, fora do contexto sexual. Assim, evita-se o sentimento de estar sendo alvo de críticas. A ideia não é encontrar um culpado pela situação e sim uma boa solução, um acordo que funcione para este casal", explica Carolina.
Vamos conversar?
Nessa conversa é muito importante que os pontos de vista não sejam colocados como uma imposição, mas sim como uma forma de construção conjunta para ter mais qualidade na relação afetiva e sexual.
Uma boa sugestão é falar sempre na primeira pessoa e expressar como você se sente, pois assim não cria defesas e o par pode realmente ouvir o que está sendo falado. Aliás, vai escutar como um depoimento e não como uma acusação.
Marina Simas de Lima, psicóloga do Instituto do Casal
A negociação é sempre um bom caminho, pois é preciso que fique bom para todas as partes. No entanto, é importante que ela não seja unilateral. Ceder nem sempre é a solução. É preciso saber exatamente o que deseja para poder conversar sobre o assunto. Para negociar, também é preciso que ambos exerçam a flexibilidade na construção do formato "ganha-ganha".
"É preciso falar um para o outro quando estão dispostos a ceder em algo e apontar quais são os pontos que realmente não conseguirão negociar com transparência. Uma transa rapidinha ou prolongada, gostar de transar de manhã ou à noite, por exemplo, são ações que podem ser intercaladas ou pensadas em um 'meio do caminho'", diz Marina.
O mais complicado, segundo a especialista, é quando a química parece meio esquisita.
No ponto de vista da psicóloga Gabriela Luxo, mestre e doutora em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, investir em um exercício honesto de autoconhecimento é fundamental para identificar possíveis tabus envolvendo o sexo que estejam dificultando a conexão do casal na cama.
"Em alguns casos, o tipo de educação que a pessoa teve ou crenças religiosas acabam gerando dificuldades em relação à própria intimidade e se refletem na química sexual. Isso dificulta, também, a conversa. Por isso é crucial buscar entender e mapear os motivos da incompatibilidade para, a partir daí, trabalhar essas questões e pensar no diálogo", acrescenta a psicóloga, que recomenda ainda que o casal reflita sobre como vem gerenciando outros papéis —como os de mãe e pai, por exemplo—, pois eles podem estar suplantando a vida a dois.
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