Símbolo de poder e força ancestral negra: como cuidar das tranças longas?
Tranças que ultrapassam a altura do quadril e ganham evidência onde quer que suas donas estejam: no sofá, na mesinha de um café ou nas fotos das redes sociais. Versáteis, também podem ficar em um coque bem grande e alto sobre a cabeça. Soltas, parecem "cabelo de boneca". Escolha de "estética do poder" de mulheres negras, as box braids longas são formas de expressar identidade, mudar o estilo, demonstrar poder e referência ancestral.
"Tem uma coisa de ser poderosa. Além disso, dá para usar em penteados, fazer um 'cocão'. É bem glamoroso", explica a trancista Mayara Queiroz, que atende em Vitória, capital do Espírito Santo, e também é adepta do penteado.
Nos Estados Unidos, lugar de referência de produtos destinados a cabelos afro, como laces e jumbos (as fibras sintéticas usadas para fazer as tranças), as tranças longas fazem sucesso e inspiram pessoas em outras partes do mundo. Abaixo, a atriz Zendaya usando durante tapete vermelho de uma premiação no ano passado — e não surpreendendo ninguém com sua beleza.
"Elas são bem demoradas para serem executadas — uma na altura do joelho pode durar até 12 horas com três profissionais trançando", explica Mayara. "Mas penso que, no Brasil, não há uma cultura de trancistas que atendam em equipe. Geralmente é uma fazendo cada cliente e é raro fazer mais compridas".
A seguir, leia relatos de quem usa tranças longas e o quanto a escolha se relaciona com suas vivências como mulheres negras. No final da matéria, há referências para você se inspirar e fazer suas box braids.
"Sou visivelmente empoderada e as tranças chamam atenção para quebrar barreiras"
"Colocar tranças compridas é mais uma forma de afirmar minha identidade étnica. Há uma questão de amplificar essa estética, e elas são uma forma de chamar atenção para barreiras que atravessamos. Tenho quase 40 anos, não é comum que as pessoas nos vejam de tranças. Quando eu as uso me afirmando como empresária, é uma forma de quebrar obstáculos. Além disso, o fato de serem longas é como se fossem meus caminhos... Eles se abrem para as longínquas possibilidades na minha vida.
Elas pesam e, por isso, fico com elas não mais de um mês, intercalando com dez dias com cabelo natural. Até porque são até 12 horas fazendo e gosto delas bem fininhas.
Elas atraem muitos olhares, sem sombra de dúvidas. Falam que é "cabelo de boneca". Tem também quem pergunte: "Como lava?" ou "Você lava isso?". Mas é uma questão de posicionamento de mim mesma: sou visivelmente empoderada e as pessoas, em geral, não vêm com comentários racistas...
Minha história é que na infância usei muita trança e, na escola, isso me fazia um alvo ainda maior — não era uma saída positiva para mim.
Ao mesmo tempo, tínhamos uma diversidade infinitamente menor de opções e produtos do que agora. Hoje, temos tratamentos para fortalecer o couro cabeludo, por exemplo. Também entendo, depois de adulta, que faço trança não porque não gosto do meu cabelo crespo, mas porque gosto de variar. Mesmo porque cuido da minha raiz, literalmente. Alimento a raiz que antes não alimentava.
Ressignifiquei minha relação com elas, de forma madura. Isso também me faz perceber como as pessoas me leem.
Me acho maravilhosa de tranças. Durmo com meu 'kit cetim', combinando a camisola com a touca feita com o tecido, para não dar frizz nos fios. Acordo, só faço um baby hair e estou pronta."
Priscila Gama, estrategista de inovação, @priscilagamaa
"São poder e fazem quem vê engolir o preconceito sobre nossos cabelos"
"A trança sempre foi vista como algo feio, sujo. E as mais longas reforçam o contrário: um penteado glamoroso, bem feito, que quem vê engole o preconceito sobre nossos cabelos. É o tipo de trança de que eu mais gosto, porque tem essa beleza.
Muita gente elogia e sabemos que também tem uma questão histórica: em África, penteados com tranças eram usados por princesas e rainhas.
A primeira vez que fiz esse tipo mais longo em mim, e que demorou dois dias, percebi que queria virar trancista.
Comecei a ver as mais longas em referências gringas, porque elas estão anos luz à frente de nós no quesito da estética capilar de mulher preta. Mas estou feliz que também estamos construindo nossas próprias referências, cada vez mais mulheres estão pedindo para fazer. Quero que muitas usem, quero ver advogadas, médicas, profissionais com essa trança. Aí vou zerar a vida."
Mayara Queiroz, trancista no Raiz Mística, @raizmistica.vix
'Elas pesam?': dúvidas sobre colocação e cuidados
Mesmo usando o jumbo, um material mais leve, diz Mayara, o penteado pesa. Por isso, é fundamental que a profissional tome os cuidados para que quem as adota não sofra com alopecia de tração (queda de cabelo por tensionar os fios constantemente). "A trancista tem que saber bem se a cliente tem sensibilidade, se vai conseguir aguentar ficar com as tranças. Porque elas pesam, sim, mas é algo suportável."
À medida que a metragem vai aumentando, e dependendo da espessura delas e do que será feito no topo do cabelo (ou se serão soltas), o serviço fica mais caro: pode custar de R$ 950 a R$ 1.500.
Além dos gastos com a feitura, o cliente deve se preocupar com tratamentos pré e pós colocação, já que o cabelo natural precisa estar forte para que o penteado não comprometa a saúde dos fios. Com as tranças, os cuidados são os mesmos para manter ok o couro cabeludo e a raiz: lavar com xampu, usar tônicos capilares e, se possível, dormir com material de cetim protegendo o cabelo, para quem ele permaneça sem frizz.
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