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'Dor, TPM, menos cólica e mais fluxo. Coloquei DIU hormonal pela 1ª vez'

DIU é um dispositivo colocado no útero como método anticoncepcional. A decisão se será hormonal ou de cobre deve ser feita no consultório - pepifoto/Getty Images/iStockphoto
DIU é um dispositivo colocado no útero como método anticoncepcional. A decisão se será hormonal ou de cobre deve ser feita no consultório Imagem: pepifoto/Getty Images/iStockphoto

Nathália Geraldo

De Universa

23/10/2021 04h00

Por trabalhar há cinco anos em redações femininas, produzo muito conteúdo sobre os direitos de escolha das mulheres, inclusive entre os métodos contraceptivos disponíveis no mercado. Por isso, colocar hormônio dentro do meu corpo era a última coisa que queria fazer. Já não tomo pílula anticoncepcional há anos e sempre optei pela camisinha para me prevenir de ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) e de uma gravidez não planejada. Colocar o DIU hormonal não era um sonho, ainda mais porque, na conversa entre amigas e em entrevistas, sempre ouvi dizer que a inserção do dispositivo intrauterino era dolorida. Mas tive que encará-lo.

Sob orientação do meu ginecologista — que, aliás, foi quem me trouxe ao mundo — e após ter feito uma cirurgia de retirada de miomas no útero recentemente, decidi colocar o DIU hormonal para que novos miomas não crescessem mais. A indicação é comum, mas, claro, foi uma decisão feita após a realização de exames e muita, muita conversa com meu médico.

Se você tem questões como a minha, deve procurar atendimento médico especializado. Apenas o ginecologista saberá orientar qual método é o mais indicado no seu caso e quais serão as vantagens e desvantagens de cada um. Vale dizer que, para me preparar para o procedimento, tive quem me deu bastante apoio emocional para isso (e agradeço demais!).

Tomada a decisão, marcamos a colocação do dispositivo, pago pelo plano de saúde, para o segundo dia em que eu estivesse menstruada. A recomendação é fazer neste período para que o útero esteja mais aberto e o médico tenha mais facilidade para inserir o DIU. Antes de ir ao consultório, tomei um remédio que ele prescreveu para dor. E tive quem segurasse minha mão enquanto estava na cadeira ginecológica. Porque, sim, dói demais.

O ginecologista me mostrou o que fazia a cada momento: primeiro, usou um espéculo vaginal para auxiliar na abertura. Depois, com uma ferramenta de pinçar, fez uma movimentação interna para que meu útero ficasse melhor posicionado. Falando assim, em uma frase, parece que foi algo simples; mas a dor me fez dar alguns gritos e sentir cólica muito forte, porém, pontual.

diu - Priscila Barbosa - Priscila Barbosa
Dispositivo é pequeno e acionado por um mecanismo de "disparo"; colocação pode ser feita com e sem anestesia
Imagem: Priscila Barbosa

Então foi a vez de ele usar uma haste fininha para fazer a medição da cavidade interna uterina. Ao tirar a haste, ele a compara com o "mecanismo do DIU". Isso porque o DIU é uma pecinha, bem pequena, que originalmente está presa na ponta de um aplicador que tem um sistema de "disparo".

A colocação não é tão tranquila quanto eu imaginava. Por ser um procedimento feito dentro do corpo, o médico precisa estar concentrado na inserção. Como paciente, eu estava ansiosa.

Antes de entrar no consultório, refleti muito sobre como há tantos processos dolorosos pelos quais passamos por sermos mulheres. Por que não inventaram um jeito melhor?

Por que são recursos tão invasivos — como DIU e pílula — para não engravidar sem desejar? Não que esse fosse meu ponto, mas pensando em todas as mulheres. Na sala de atendimento só queria que tudo aquilo acabasse rápido.

De fato, colocar o DIU não durou mais do que cinco minutos. Não tomei anestesia porque, para isso, seria necessário que a consulta fosse feita em um centro cirúrgico de hospital e, por questões de segurança na pandemia, optamos por fazer no consultório. Considerando a experiência que tive, não faria questão de tomar anestesia — mas essa também é uma decisão da mulher, já que cada uma tem uma sensibilidade à dor.

Com cuidado, me levantei e senti o fio-guia, que o médico já havia cortado uma parte. No dia seguinte, conforme recomendação dele, realizei um ultrassom transvaginal para confirmar que o DIU estava no lugar. A médica que fez o exame rasgou elogios a quem tinha colocado o DIU (o mundinho da saúde feminina é mesmo uma coisa muito engraçada): "Muito bem colocado. Parabéns".

Retornei ao ginecologista para cortar o fiozinho e, naquele período menstrual, não tive cólicas. Mas notei efeitos comuns a quem coloca o DIU nos 20 dias seguintes: dores nos seios e um sangramento curto e recorrente.

Vieram aí: ciclo desregulado e muito, muito sangue

Interpretei as mudanças que mencionei acima como leves alterações. Não pude imaginar que a menstruação — prevista para semana que vem, segundo o aplicativo em que acompanho o ciclo menstrual — seria antecipada e viria com muito, muito fluxo. Também tive um dia apenas de cólica, o que para mim foi um dos poucos pontos positivos, já que sempre senti a dor por pelo menos três noites. Tenho trocado absorventes mais de cinco vezes por dia. Apesar de ser acostumada a colocar coletor menstrual, não me senti segura para usar os dois dispositivos ao mesmo tempo — segundo vídeo Sem Frescura, do VivaBem, aqui do UOL, o coletor pode deslocar o dispositivo.

As manifestações no período pré-menstrual também foram diferentes. Se antes sentia vontade de comer doce e uma leve melancolia, cheguei a passar um sábado inteiro com um aperto no peito mais profundo. Tudo para que, à noite, o sangue viesse.

Tenho relatado cada trecho dessa montanha-russa, como tenho definido meus dias, para minha terapeuta, que acompanha de perto o que vivo em relação ao tema. Daqui para frente, estarei ainda mais atenta a isso.

O DIU que coloquei pode ficar no corpo por cinco anos. A cada seis meses, é necessário fazer novos exames para saber se ele permanece no lugar que garante eficácia como contraceptivo.

Médica tira dúvidas sobre DIU hormonal

A ginecologista e obstetra Ana Carolina Lucio, especialista pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), me explicou que o DIU hormonal tem uma substância que se chama levonorgestrel, derivada do hormônio progesterona e que tem o efeito de impedir a gravidez. O que eu coloquei foi o Mirena, mas ele não é o único. "Há também o Kyleena, que foi liberado no ano passado no Brasil e tem uma concentração menor de hormônio", explica a médica.

Quando avisei para algumas amigas que passaria pelo procedimento, a pergunta recorrente foi se eu tomaria anestesia para isso. A ginecologista diz que, de fato, não é uma estratégia comum para o DIU.

É um procedimento delicado, mas que não requer anestesia na maioria das vezes. Agora, se a paciente tem um colo do útero fechado ou sensível, ela passa a ser um recurso, que levará a realização dentro de um centro cirúrgico e com as complicações inerentes a ela.

Riscos e contraindicação

"Há um risco de perfuração, quando o DIU progride mais do que a parte da musculatura do útero. Além disso,
pode cair dentro da cavidade uterina, o que pode acontecer sendo no hospital ou no consultório. Isso requer cirurgia pra extração", diz Ana Carolina.

Há ainda o risco de rejeição do dispositivo, que pode ser "expulso" do útero, e a dificuldade de adaptação da mulher.

Não há restrições de idade. Segundo a médica, adolescentes de 15 anos já podem colocar o DIU. A decisão se será hormonal ou DIU de cobre deve ser feita no consultório.

O que pode acontecer durante a colocação do DIU?

Depende de cada mulher, mas há desconforto inerente ao procedimento. "É normal se sentir mal, e tem pessoas que desmaiam, vomitam. É um corpo estranho sendo colocado ali e isso gera desconforto. Mas há medicações seguras para isso ser amenizado", diz a ginecologista.

O que pode acontecer após colocar o DIU?

Por ter hormônio, a mulher pode sentir alterações como dor na mama, irregularidade do fluxo menstrual, oleosidade no cabelo e no rosto.

Se bem colocado, em 24 horas o DIU passa a ter eficácia para prevenir gravidez indesejada, mas ele não é um dispositivo que age contra infecções sexualmente transmissíveis. Relações sexuais são liberadas, via de regra, 7 dias após a colocação.

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