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'Submissa, não': noiva viraliza ao rejeitar voto no altar

Maria Angélica Oliveira

Colaboração para Universa

25/10/2021 10h29

Um vídeo do casamento da analista de Recursos Humanos Inaiã Dias, de 31 anos, e Roney Barros, de 40, que mostra parte da cerimônia realizada em São Paulo no último dia 16, postado por um dos irmãos da noiva, viralizou. Nele, o celebrante dita os votos para que a noiva prometa ao futuro marido: cuidar, respeitar e ser submissa.

Inaiã começa a responder de acordo com o proposto, mas logo se corrigiu ao se dar conta da palavra: "Ser submis...não", soltou, rindo e recebendo aplausos dos convidados. "Acho a palavra submissa muito forte e foi um choque ouvir. Nunca tinha visto isso em um casamento", contou, em entrevista a Universa durante a lua de mel, em Trancoso (BA).

"Esses votos não deveriam mais existir. Eu nem sabia que ele ia falar essa frase. Estamos no século 21, temos direitos iguais. Eu trabalho assim como meu marido. Ninguém manda em ninguém, tem que existir respeito"

Inaiã sonhou e planejou o casamento com detalhes. Vinda de uma família festeira, a última dos cinco irmãos a se casar decidiu fazer uma celebração grande, para 250 convidados, em um buffet na Zona Sul de São Paulo, com fotógrafos, equipe de filmagem e vestido branco com véu. Ela só não estava preparada para o que escutaria ao fazer seus votos.

Católica, ela queria se casar na igreja, mas, por conta da pandemia e para evitar mais deslocamentos, resolveu fazer a celebração e a festa no mesmo lugar. Como não conseguiu um padre que realizasse a cerimônia no buffet, aceitou a indicação de uma amiga, que indicou um celebrante ligado a uma igreja evangélica. "Ele é muito alegre, muito brincalhão. Desde o início, ele foi engraçado, o tempo todo brincando. Então já estava um clima leve, acho que por isso também acabei me soltando um pouco mais porque sou extremamente espontânea. Acabou bombando e eu nem imaginava."

Assim como Inaiã, o marido, o analista de TI Roney, também levou um susto, mas ainda mais com a repercussão do vídeo. Assim que o conteúdo foi postado no Instagram, ela passou a receber comentários, de pecadora a heroína, e a ganhar seguidores.

Noiva refez votos após explicação

O que o vídeo não mostra é que, depois do não, o celebrante voltou a falar sobre o que o termo significaria, na concepção dele. Inaiã acabou fazendo o voto conforme proposto.

"No início da cerimônia, ele havia explicado que ser submissa perante a Deus era estar na mesma missão. No contexto da explicação do celebrante, eu disse sim, mas, se você olhar no dicionário mesmo, submissão [para mim], não. Não concordo muito, mas, como não é a religião que frequento e não é um assunto que conheço, nem posso debater."

Da mesma forma, a analista de RH evita se definir como feminista. "Não gosto de colocar rótulos. Gosto de respeitar, de me colocar no lugar do outro e de ter empatia. Sou extremamente independente, uma mulher guerreira, que trabalha e segue sua vida sem rótulos", disse.

Voto faz alusão a trecho da Bíblia

O voto de submissão é geralmente atribuído a um trecho bíblico da Carta aos Efésios, em que o apóstolo Paulo escreve: "Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres submetam-se aos maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja, seu Corpo, do qual é o Salvador."

Em agosto, a Conferência Episcopal Portuguesa veio a público esclarecer o texto, lido durante nas missas do país em um momento em que o mundo discutia a situação das mulheres no Afeganistão, tomado pelo grupo fundamentalista Talibã.

"O que causa "escândalo", nos dias de hoje, é o conceito de "submissão" proposto à mulher. Não se trata, porém, de algo exclusivamente aplicado às mulheres, mas a todos. A leitura começa precisamente por dizer: "Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo", afirma o texto.

O comunicado diz que em Paulo, esta submissão "não significa menor importância ou subserviência, mas o dar prioridade aos outros, como forma de atenção e cuidado; não centrar a vida e o pensar em si próprio, mas no amor que deve regular todo o relacionamento entre pessoas", esclareceu a instância da Igreja Católica.