'Forçou beijo': mulheres denunciam cabeleireiro Bruno Dantte à polícia
Depoimentos de doze mulheres serviram de base para que fosse apresentada uma notícia-crime contra o cabeleireiro especialista em cachos Bruno Dantte, na última quinta-feira (28), por "possíveis assédios em série" contra elas. O registro da ocorrência é um novo capítulo da história que começou em agosto, quando relatos anônimos de pessoas que diziam ter sido assediadas por ele ganharam força no Instagram.
Um perfil na rede social centralizou comentários de clientes, funcionárias e alunas do cabeleireiro. As advogadas Débora Nachmanowicz e Maira Pinheiro acolheram as vítimas e deram encaminhamento ao caso, levando-o à Delegacia de Atendimento à Mulher do Centro do Rio de Janeiro.
As mulheres tinham entre 19 a 37 anos à época dos fatos. No registro da ocorrência, contam que ele teria feito "investidas sexuais" contra elas entre 2017 e março deste ano. Segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro, as investigações estão em andamento, as vítimas serão ouvidas e o acusado será intimado a prestar esclarecimentos.
Em nota enviada para Universa nesta segunda (1º), a equipe de advogados de Bruno disse que ele "desconhece e nega a prática de qualquer crime e ato de assédio moral" e que está à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos e contribuir para a elucidação dos fatos. Também afirmou que "dará explicação às suas clientes, funcionárias, alunas e ao público em momento oportuno".
O que se sabe sobre caso
No registro da notícia-crime, as advogadas informaram às autoridades policiais que há relatos de possível assédio em que Bruno se aproximava da vítima e forçava um beijo, tocava as partes íntimas delas ou em suas mãos para colocar no órgão sexual dele.
A advogada Débora Nachmanowicz, que atua com a também advogada Maira Pinheiro, afirmou que há seis casos "mais demarcados como possível configuração de crimes sexuais", entre eles, importunação, assédio e estupro. Há ainda a possibilidade de tipificação por injúria.
"Há mulheres que receberam mensagens inapropriadas, com contato antiético, mas que não configuram crimes e estão como testemunhas. Nas situações que podem configurar crimes sexuais, existem atos cometidos sem consentimento e dentro de uma relação de poder", comenta Débora que, ao lado de Maira, também foi responsável por redigir os relatos das mulheres, em parceira com o grupo que administra o perfil criado para reunir relatos do caso, o @bancodedados.relatos.
"Quem vai definir a classificação jurídica dessas condutas é o Ministério Público, a partir da investigação da polícia. Independentemente de serem ou não crime, são condutas inaceitáveis e não devem se repetir", comenta a advogada.
Por meio de assessoria de imprensa, a Polícia Civil afirmou que recebeu vídeos com os relatos das mulheres, entregues pelas advogadas, e que está analisando o material. Disse ainda que, como nem todas as ocorrências foram na circunscrição da unidade policial, alguns casos serão encaminhados para outras delegacias.
"Tentou me beijar": os relatos anônimos na internet
Em agosto, mensagens anônimas que circularam pelo Instagram e às quais Universa teve acesso mostravam a forma como o cabeleireiro abordava as mulheres. "Tentou me beijar de todas as formas e eu falava que não, já que namorava e também não queria", disse uma cabeleireira que teria trabalhado com ele.
Em outra mensagem, uma cliente disse que, depois de ter cortado o cabelo, resolveu manter o contato de amizade com o profissional, que também teria forçado um beijo nela. "Me perseguiu tanto que resolvi dar 'uma chance' de conhecer como amigo, e deixei isso bem claro quanto [sic] aceitei ir ao cinema com ele. Ele forçou um beijo e eu não quis", disse em um trecho.
Outra cliente contou que a aproximação que a constrangeu aconteceu dentro do salão de beleza. "Enquanto ele fazia meu corte ficou me 'elogiando' dizendo que eu era muito linda e perguntando se eu tinha namorado, e se estava aberta a vaga... Me senti completamente assediada porque dei espaço nenhum para ele. Nunca mais voltei."
"Comportamentos potencialmente inadequados"
Bruno estava à frente de uma escola em que ensinava seu método de corte numa rede salões de beleza, com unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro, e já teve seu trabalho divulgado por famosas e influenciadoras.
O nome do cabeleireiro foi associado a relatos de assédio depois que uma cabeleireira de Niterói fez um post no perfil do Instagram em que dizia que tinha sido "passada para trás" por um "dono de salão bem famoso". Apesar de ela não mencionar o nome de Bruno, um grupo de mulheres se mobilizou e passou a repercutir a situação na rede social, deixando comentários sobre ele.
Após a história vir à tona, influenciadoras digitais e atrizes que indicavam o trabalho de Bruno Dantte recomendaram que outras mulheres que tivessem sido vítimas de assédio pelo cabeleireiro publicassem seus relatos. Na página, consta um formulário para receber depoimentos anônimos de mulheres que se sentiram "lesadas pelo cabeleireiro". Segundo descrição do site de arrecadação para pagamento de assistência jurídica às mulheres denunciantes, foram registrados "mais de 40 relatos de comportamentos potencialmente inadequados e invasivos".
Rede de salões tirou nome do cabeleireiro
Em agosto, a rede de salões informou que ele não faria mais parte do quadro de sócios da empresa. As unidades também não levam mais o nome de Bruno Dantte.
"No meio desse turbilhão de acontecimentos, nós, sócios das unidades, comunicamos que o sócio que dá o nome à nossa marca não permanecerá conosco. Respeitamos a sua trajetória profissional, mas decidimos, em conjunto, trilhar o nosso próprio caminho, com profissionais que há tempos estão nessa caminhada conosco e que merecem todo nosso respeito e admiração", diz um trecho da nota.
Assédio sexual e importunação sexual: diferença
Para Universa, a advogada Vanessa Tadeu de Paiva, especialista em violência doméstica, explicou que assédio sexual se configura como "qualquer conduta de natureza sexual que a outra pessoa, o destinatário, não queira, venha a repelir essa conduta, e mesmo assim ela permanece, tirando então o direito a um princípio fundamental, que é o da liberdade sexual". A conduta pode ser interpretada com uma fala ou olhar de conotação sexual que não seja feito com consentimento da outra pessoa ou que a coloque em situação constrangedora.
Importunação sexual, por sua vez, é quando se dá a prática de um ato libidinoso na presença de alguém, sem que essa pessoa tenha dado consentimento. A pena prevista é de um a cinco anos de prisão.
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