Mãe de Chay Suede celebra casamentos e tem rede de apoio para mulheres
Herica Godoy, mãe do ator Chay Suede, é uma mulher cheia de histórias para contar. Aos 49 anos, a capixaba tem três filhos (Chay, 29 anos; Henrique, 26; e Anelise, 15) e três netos (Pedro, 5, e Elis, de 5 meses, filhos de Henrique; e Maria, 1, filha de Chay), além de mais um a caminho — a atriz Laura Neiva, mulher de Chay, está grávida de José. Formada em Jornalismo, Herica é dona de uma fábrica de pães de mel, acabou de criar uma rede de apoio para mulheres, estuda psicanálise e começou uma carreira paralela de celebrante de casamentos.
Quem despertou o interesse de Herica para celebrar casamentos foi o próprio Chay. Quando ele e Laura estavam planejando o casamento, cogitaram convidar os pais para fazerem a cerimônia. "Na época, achei muito legal. Imaginei que eu mandaria bem nisso. Gosto de falar na frente das pessoas desde criança", diz Herica a Universa.
O casamento do filho acabou tomando outro rumo — foi celebrado por um pastor — mas a vontade permaneceu ali, e ficou adormecida. "Quando veio a pandemia, tive mais tempo livre e fiz um curso online. Mas os casamentos não estavam acontecendo, então demorou até eu celebrar um pela primeira vez. Aconteceu há pouco tempo, em outubro. Amei a experiência, me emocionei muito.
O lado jornalista, conta, se encaixa totalmente nesse trabalho. "A cerimônia é feita com um texto personalizado, contando a história do casal. Então você conversa com eles separados, juntos, com os amigos, com os familiares. Aí pego aquele amontoado de informações e escrevo o texto. Eu adoro contar histórias, então tem tudo a ver comigo."
Herica se considera uma "romântica incurável". Foi casada duas vezes: por 11 anos com o pai do Chay e do Henrique e, por 13, com o pai de Anelise. Entre um relacionamento e o outro, foram apenas seis meses solteira. "As pessoas me falam 'nossa, você não quer nem pensar em casar, né?'. Realmente eu não penso, mas não digo que nunca casaria de novo. Não tenho traumas com casamento. Eu encararia um, sim, mas num formato diferente: cada um morando em uma casa, por exemplo."
Vida de solteira e autoconhecimento
O último relacionamento sério de Herica terminou pouco antes do início da pandemia. Hoje está solteira e vivendo uma fase de liberdade e autoconhecimento. Filha de pastor, ela frequentou a Igreja desde muito nova e se casou cedo, aos 18 anos. "Era uma menina. Não experimentei coisas de adolescente. Na minha juventude, fui mãe e esposa. Depois que me divorciei, logo casei de novo. Não tive tempo de conhecer a Herica sozinha, os gostos."
Mais recentemente começou a se questionar sobre o que realmente gosta de fazer. "Às vezes a gente nem para pra pensar nisso, simplesmente vai vivendo. Só quando fiquei viúva, em 2015, fui me permitir descobrir coisas novas. E aí veio minha paixão pela dança". Herica diz que sempre gostou de dançar — mas, na infância, o pai dizia que era pecado. "Uma vez, minha mãe passou na minha escola na hora do intervalo e me viu dançando. Na hora, falou que ia contar pro meu pai. Eu nunca mais dancei. Isso me marcou, e fui me lembrar disso só agora, na fase adulta".
Quando estava casada, também não gostavam que ela dançasse. "Foi só quando me vi solteira, morando em São Paulo, que retomei o hábito. Entrei numa escola de dança e me apaixonei pelo forró. Estando solteira, você vai descobrindo o que é importante pra você, o que te faz bem. Hoje, não abro mão de dançar forró. Quem quiser ficar comigo, vai ter que aceitar".
"Quando finalmente criei consciência do meu valor, tudo mudou"
O processo de autoconhecimento de Herica a levou a descobrir uma dependência emocional e uma incapacidade de ficar sozinha. "Eu engatava um relacionamento no outro, sem me dar um tempo pra respirar, absorver o que aconteceu. Percebi isso depois de namorar uma pessoa que me fez muito mal. Foram 11 meses de relacionamento onde doei toda a minha energia e não recebi absolutamente nada em troca."
Eu não conseguia sair desse relacionamento. Quando finalmente terminei, não deu nem um mês e comecei a namorar outra pessoa igual. Depois de uns quatro meses, acendeu uma luzinha vermelha em mim. Pensei: 'o que eu estou fazendo?' e terminei
Para investigar por que estava repetindo aquele padrão, Herica foi fazer terapia. Foi quando descobriu a dependência emocional. "A ficha caiu. Mas é claro que a gente não muda de uma hora pra outra, então ainda cometi muitos erros. Foi justamente depois desse último término, antes da pandemia, que senti que estava 'curada'.
As pessoas me enxergavam de um jeito tão bonito e, quando me olhava no espelho, me via de outro. Como se fosse uma imagem turva. Eu sabia que era uma mulher legal mas, lá no fundo, me sabotava. Quando finalmente criei consciência do meu valor, tudo mudou. Aí não conseguia acreditar nas coisas que havia permitido no passado.
Junto dessa "cura" ela entendeu que, dali pra frente, seria mais difícil voltar a se relacionar. "É outro nível de exigência. Não vou aceitar menos do que eu mereço. É um caminho sem volta".
"Cortei todas as migalhas emocionais"
Com essa tomada de consciência, Herica entendeu que precisava ficar sozinha por um tempo — nesse sentido, a pandemia ajudou muito, já que a regra era ficar em casa e respeitar o isolamento social. "Antes eu realmente não conseguia ficar sozinha. Mesmo que não estivesse namorando, tinha que ficar com alguém. Pra mim foi muito difícil. Não é só o físico. Eu gosto daquela coisa de WhatsApp, de contatinhos. E me livrei de tudo isso! Fui cortando tudo."
Era estranho abrir o celular e não ter nem um bom dia. No fundo, eu sei que esse tipo de coisa não significa nada. Mas essas migalhas emocionais, pra quem tem essa dependência, são importantes. E eu não queria mais permitir isso. Passei por um período de solidão e foi muito doloroso no início.
Sem ninguém para se distrair, Herica seguiu na missão de descobrir mais sobre seus gostos pessoais. "Foi maravilhoso. Fiz o curso de celebrante de casamentos, de mindfulness, aprendi a meditar, li muito. Com as coisas voltando ao normal, permiti que algumas pessoas se aproximassem. Me abri pra pessoas mais velhas — porque eu normalmente só me relacionava com os mais jovens. Até agora não deu nada muito certo, mas tudo bem. Estou muito tranquila, sem desespero. Fico em dúvida se vou me apaixonar de novo. Acredito no amor, claro, mas acho que vai ser mais difícil. E o melhor é que não estou preocupada. Foi tanto aprendizado interno que, hoje, me sinto plena".
Falando sobre suicídio sem tabu
Com quase 45 mil seguidores no Instagram, facilidade para falar com a câmera e gosto pela comunicação, não foi difícil para Herica bater o martelo e decidir investir na carreira nas redes sociais. O desafiador foi descobrir o que exatamente fazer nesse sentido. "Já sabia que ia falar com mulheres — são a maioria entre os meus seguidores. E sempre gostei de temas relacionados a comportamento, então sabia que seria algo por aí".
Herica conta que as mulheres se identificam muito com as coisas que ela fala na internet. Algumas pedem conselho e até confessam coisas íntimas. "Existe um fator de identificação muito grande: o fato de eu ter perdido meu segundo marido por suicídio. Passei um longo período ao lado de uma pessoa com depressão profunda e que culminou nesse suicídio. São várias fases. No início, você quer muito fazer de tudo pra ajudar, mas uma hora a ficha cai e você entende que a única coisa que pode e deve fazer é estar ali, por perto, mas é a pessoa que deve se ajudar. Nunca senti trauma ou culpa. E sempre falei disso com muita tranquilidade, desde quando aconteceu. Acho que as pessoas se identificam muito por isso".
Rede de fortalecimento feminino
Ainda sem saber direito o formato do projeto que criaria, Herica foi pensando em alguns recortes. "Tinha claro, pra mim, que não queria falar para um grupo de mulheres específico e, sim, pra todas. Não queria comprar nenhuma luta, mas ser um espaço de acolhimento. Pra isso, precisava de um ponto em comum entre todas as mulheres. Demorei, mas encontrei e, quando aconteceu, me pareceu muito óbvio. O que atinge todas nós, independentemente de qualquer coisa, é que toda mulher brasileira foi criada debaixo de uma cultura patriarcal. Isso nos afeta — umas mais, outras menos. Então esse seria meu gancho, meu fio condutor. A partir daí, ficou fácil".
Assim nasceu a "Rede de Fortalecimento Feminino" há cerca de dois meses. A iniciativa vai funcionar no virtual, com conteúdos e lives. No presencial, com seminários e palestras e com ações sociais — a primeira será no dia 7 de dezembro, no presídio feminino do Espírito Santo.
O primeiro evento aberto será em janeiro, também no Espírito Santo: um dia inteiro de palestras, dinâmicas aplicadas por psicólogas, almoço, coffee break, sorteio e exposição de pequenas empreendedoras. "Está tudo fluindo de uma forma linda. Estou chamando só mulheres para trabalhar no evento. Já estou planejando uma segunda edição, em São Paulo. E depois quero rodar o país todo".
Herica se emociona ao falar do seu objetivo com a Rede. "Meu grande sonho hoje é ser reconhecida como uma mulher que fortalece outras mulheres. Eu estive num lugar de dependência emocional, em relacionamentos abusivos, tóxicos. Hoje não entendo como uma mulher com o potencial que eu tenho pode ter permitido isso. Eu olho pro meu lado todos os dias — não preciso ir longe — e vejo mulheres que estão na mesma situação que eu já estive. Sinto tanto amor e tanta vontade de que elas conquistem o que eu conquistei. O que eu puder fazer para que essas mulheres enxerguem o quão maravilhosas elas são, eu vou fazer através da Rede de Fortalecimento".
Novas responsabilidades e estudo de psicanálise
Herica tem planos de se lançar como palestrante. Por isso, decidiu voltar a estudar e se matriculou num curso de Psicanálise. "O curso me proporciona leituras, debates, séries, filmes, coisas incríveis. Estou me jogando com tudo nos conteúdos, mas não vou fazer nada que eu não tenha capacidade. A partir do momento que eu me formar como psicanalista, vou começar a trabalhar com isso. Por enquanto, sou estudante. Tudo o que eu escrevo, as dicas que eu dou, é com base nas minhas experiências pessoais — sempre deixo isso muito claro. Tenho noção da responsabilidade com essas mulheres".
"O grande legado da minha vida é a maternidade"
Herica sempre sonhou com a maternidade. Seu primeiro filho, o Chay, nasceu quando ela tinha 20 anos. "Eu fui mãe muito nova, mas nunca terceirizei nada. Eu que eduquei e cuidei dos meus filhos. Nossa relação hoje é de amizade e parceria. A gente troca muito. Tudo o que eu faço, conto pra eles. E quando peço a opinião dos meus filhos, sei que vou ouvir algo de alguém que me ama muito, mas sem forçar elogios. Nossa relação é assim. Nunca fui uma mãe que passa a mão na cabeça dos filhos. Já briguei com o Chay por causa de namorada, por exemplo. A gente é muito verdadeiro um com o outro e eles sabem que têm a mim a hora que for, para o que for".
Anelise, filha do segundo casamento, é 14 anos mais nova que Chay e 11 anos mais nova que Henrique. "Criar meninos é muito diferente de criar meninas. E criar uma adolescente hoje é totalmente diferente do que foi lá atrás. A mãe que criou o Chay e o Henrique não é a mesma que cria a Ane. Aliás, é uma mulher absurdamente diferente.
Ela aponta ser fundamental abrir a cabeça para o mundo que vivemos hoje. "Sem isso, eu não teria minha filha perto de mim. Eu teria uma filha como muitas amigas dela: que são homossexuais e a família não sabe ou que já namoram e transam e os pais não podem saber. Tudo porque os pais não conhecem bem essas meninas. Eu entendi isso, foi meio instintivo. Os meninos acham que dou moleza pra ela!". Herica reflete: "É claro que errei muito — com eles e com ela também. Mas, dentro do que é possível fazer, sei que fiz um bom trabalho".
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