Direitos trabalhistas e indígenas são tema de live
As realidades das trabalhadoras domésticas e das mulheres indígenas do Xingu se encontraram na live desta quinta-feira (11) com as finalistas da categoria Equidade e Cidadania do Prêmio Inspiradoras 2021. Luiza Batista, ativista pelos direitos trabalhistas de trabalhadoras domésticas, e Watatakalu Yawalapiti, voz das mulheres indígenas do Xingu, conversaram com a jornalista Giuliana Bergamo sobre a luta para diminuir as injustiças que cercam as mulheres que representam. A terceira indicada na categoria, Selma dos Santos Dealdina, não pôde participar devido a um imprevisto.
Empregada doméstica aposentada, Luiza começou a trabalhar aos 9 anos e sofreu maus tratos da primeira patroa. Como coordenadora-geral da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), ela tem conseguido ampliar as parcerias com órgãos como o Ministério Público do Trabalho para combater o trabalho doméstico análogo à escravidão.
Para Luiza, uma das maiores dificuldades quando se fala em violação de direitos humanos no trabalho doméstico é que muitas vezes essas trabalhadoras não conhecem seus direitos e como agir em situações de abuso.
A finalista destacou ainda o problema da discriminação do trabalho doméstico, uma herança do passado escravista do Brasil. "É um trabalho que a sociedade não valoriza porque não considera um trabalho produtivo", disse. Ela usou o exemplo das donas de casa, a quem muitas pessoas se referem como mulheres que não trabalham.
Para ela, a pandemia veio para reforçar essa visão. "O trabalho doméstico não é reconhecido, não é valorizado, mas quando chegou a pandemia, o empregador não quis abrir mão da servidão", disse ao citar casos de empregadores que impuseram que as trabalhadoras não voltassem para suas casas se quisessem manter seus empregos. E lembrou o caso de Cleonice Gonçalves, 63 anos, a primeira vítima do coronavírus no estado do Rio. A doméstica trabalhava na zona sul do Rio de Janeiro e contraiu covid-19 da patroa, que tinha voltado da Itália com sintomas da doença, mas não quis dispensá-la do trabalho. O caso dela também foi lembrado na live de quarta-feira (10), pela promotora Lívia Sant'Anna Vaz [COLOCAR LINK DA MATÉRIA DA LIVE?].
Desde criança, Watatakalu foi formada para ser uma liderança de seu povo, no Xingu. Mas cresceu questionando a falta de direito de escolha das mulheres indígenas. Em 2019, depois de 24 anos da existência da Associação Terra Indígena Xingu (Atix), ela conseguiu articular a criação do Departamento de Mulheres ligado à instituição. Também liderou a construção da primeira Casa das Mulheres no centro de uma aldeia no parque indígena, local onde antes só era permitida a Casa dos Homens.
A líder indígena falou sobre os ataques que os povos originários da América ainda sofrem por parte daqueles que ?vêm de fora?. "Eles nos atacam muito porque nós queremos viver da forma que hoje vivemos, queremos a floresta em pé e queremos nossos rios limpos".
Watatakalu diz que a imagem do seu povo, especialmente das mulheres, sempre foi passada de forma muito distorcida, o que a motivou a agir. "A gente quis trazer com a nossa própria voz. Mesmo que a gente não entenda direito a língua de vocês, mesmo que a gente não fale direito a língua de vocês, a gente quis trazer a fala da mulher indígena". Essa luta, ela explica, veio porque muitas vezes colocaram palavras nas bocas delas que não eram verdade. "A gente precisa falar, porque a gente sabe a nossa realidade", disse, destacando que o Movimento Mulheres do Xingu reúne lideranças femininas das 16 etnias do território indígena do Xingu. "Nós somos várias. Não existe uma mulher que seja mais que a outra".
Entre suas conquistas recentes, está a inauguração da Casa das Mulheres, no último dia 8 de outubro. Erguida no centro da aldeia do povo Kisêdje, no Parque Indígena do Xingu (MT), a construção é uma antiga demanda feminina na região. "A gente queria um espaço das mulheres, um centro onde todo mundo pudesse entrar sem ficar com medo".
Conheça Selma dos Santos Dealdina, que não pôde participar do encontro:
Secretária administrativa da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). Organizou o livro Mulheres Quilombolas, que teve a participação de mais 17 mulheres. Essa é a primeira publicação que deu destaque à voz feminina quilombola. Mais de 2,6 mil cópias do livro já foram vendidas.
Neste mês, Universa está participando dos 21 dias de ativismo no combate da violência contra mulher. Nesta sexta-feira (12) acontece a última de uma série lives com as finalistas do Prêmio Inspiradoras 2021:
12/11: Esporte e Cultura
Nesta conversa, atletas e artistas contam como usam seus talentos para fazer reverberar conscientização sobre equidade de gênero e de raça.
Para cobrir parte dos gastos com a viagem ao Everest, ela coletou materiais recicláveis durante 13 meses. Ao todo, foram 130 toneladas arrecadadas. No dia 23 de maio de 2021, ela se tornou a primeira negra latino-americana a atingir o topo do Everest.
Depois de sofrer ataques na internet por ser a única mulher indicada como melhor jogadora de Rainbow Six, criou a Associação Feminina de Gaming Brasil para apoiar outras mulheres ciberesportivas com suporte psicológico, jurídico e de treinamentos.
Ela tem cinco livros publicados e seus poemas que trazem empoderamento negro e feminino. Também foi a primeira mulher a vencer a competição internacional Rio Poetry Slam. Ela é ainda uma das fundadoras do Slam das Minas em São Paulo.
Sobre o Prêmio Inspiradoras 2021
O Prêmio Inspiradoras 2021 é promovido pelo Universa, plataforma feminina do UOL, e o Instituto Avon, organização da sociedade civil que realiza ações e apoia projetos para fortalecer a mulher brasileira.
O foco da premiação está em três principais causas: violência contra a mulher, câncer de mama e equidade de gênero. Cada causa é representada em duas categorias e há ainda uma categoria para representantes Avon que realizam trabalhos de impacto social.
Durante o mês de outubro, todas as finalistas foram reveladas e a votação online está aberta para o público em geral. Além disso, um corpo especializado de jurados será convidado a escolher as vencedoras. Os nomes delas serão revelados em um evento marcado para o dia 23 de novembro. Haverá também menção honrosa a uma mulher que tenha se destacado no enfrentamento à covid-19.
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