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Day, de Casamento às Cegas: 'Levei o que aconteceu no reality pra terapia'

A bancária Dayanne Feitoza participou da edição brasileira do "Casamento às Cegas" - Arquivo Pessoal
A bancária Dayanne Feitoza participou da edição brasileira do "Casamento às Cegas" Imagem: Arquivo Pessoal

Júlia Flores

De Universa

13/11/2021 04h00

A ex-participante do reality show "Casamento às Cegas" Dayanne Feitoza conta que teve que recorrer à terapia para lidar com o trauma de ter sua intimidade exposta durante o programa. "Não esperava ter que passar por isso em rede nacional", afirmou a bancária cearense de 32 anos em entrevista à Universa.

O fato aconteceu durante a primeira edição brasileira do reality show da Netflix, que foi lançada em outubro. O programa funciona como um "experimento amoroso": desconhecidos decidem se casar antes mesmo de conhecer pessoalmente o parceiro. Depois de escolherem o "crush perfeito", os companheiros então se encontram e passam a viver juntos por um mês para ter certeza de que querem oficializar a união.

Em um dos episódios, Rodrigo Vaisemberg, o então parceiro de Day, assume que compartilhou com outros participantes do programa momentos íntimos do casal — os homens teriam, inclusive, criado um grupo no WhatsApp para trocar mensagens sobre o reality.

Terminada sua participação e após fazer terapia, Day encara o episódio como uma violência que ficou no passado. De namorado novo, ela diz que o programa trouxe lições importantes para evitar relacionamentos tóxicos, a fortaleceu e despertou a vontade de fortalecer outras mulheres. "Agora que ganhei essa voz, quero espalhar a mensagem do feminismo de maneira simples para as minhas seguidoras."

"Sempre fui uma mulher livre, sexo nunca foi tabu para mim", diz Dayanne Feitoza, participante do "Casamento às Cegas" brasileiro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
"Sempre fui uma mulher livre, sexo nunca foi tabu para mim", diz Dayanne Feitoza, participante do "Casamento às Cegas" brasileiro
Imagem: Arquivo pessoal

UNIVERSA - Como está sendo a vida após o reality?

Dayanne: Uma loucura! Estou tentando me adaptar à ideia de ser conhecida, mas minha rotina continua a mesma. Sou bancária, sigo trabalhando 8 horas por dia, de segunda a sexta-feira, e tenho minha rotina de atividade física. Agora, além de ter mais compromissos adicionados à agenda, também preciso separar um tempo para visitar meu namorado, que mora em outro estado. A gente se vê de 15 em 15 dias.

Foi fácil para você se relacionar novamente depois do que passou no reality?

Não foi fácil. Aprendi muito com o reality, cresci no sentido amoroso, aprendi o que quero e o que não quero. Agora foi difícil viver uma nova relação sabendo que um programa iria expor meu antigo relacionamento em rede nacional. Eu sabia que era passado, mas as pessoas que estão assistindo não sabem. Para ele, foi complicado ver a pessoa com quem ele está se relacionando quase casando com outro — ainda mais com o Brasil inteiro comentando.

Seu parceiro atual ficou com ciúmes?

Sentiu ciúmes, insegurança. Ele não lidou bem, não. Eu tentava dar segurança para ele, mas a primeira semana foi difícil. Depois que o tempo foi passando, ele passou a digerir a situação melhor. Eu já tinha contado o que tinha acontecido. Porém, falar é uma coisa; a pessoa assistir é outra.

Você se sente mais empoderada depois do reality?

Muito mais. Hoje me olho de uma forma diferente. Sempre fui uma pessoa livre, sabia que não seguia padrões que a sociedade esperava de uma mulher. Por exemplo, sofri diversas vezes preconceito no trabalho. As pessoas avaliavam o meu físico e achavam que, por eu ser vaidosa, eu tinha cérebro pequeno e era incompetente. Esse preconceito, mesmo velado, ainda existe. Antes de entrar no reality eu já me posicionava, mas não tinha consciência que era de uma forma tão forte. Me assistindo, percebi que sou uma mulher muito forte.

Podemos chamar a Day de feminista?

Sim, sou uma feminista em aprendizado. Ainda tenho muito a aprender, é um tema ao qual tenho que me dedicar mais. Agora que ganhei essa voz, quero espalhar a mensagem do feminismo. Quero desmistificar o tema e, quem sabe, levar isso de uma forma mais simples para as mulheres que me seguem.

Como você se sentiu quando viu seu parceiro revelar intimidades do casal em rede nacional?

Me senti vulnerável. Ninguém quer ter a intimidade exposta, seja ela qual for. Muito menos de uma maneira grosseira e sendo alvo de chacota, que foi como os meninos trataram. Fui desrespeitada enquanto mulher.

Quando saí do programa, levei o fato para minha terapia. De alguma forma, eu fui violentada. Foi complicado ter que reviver aquela situação

Só que sei que, enquanto uma pessoa privilegiada, tive acesso a tratamento psicológico. Mulheres mais pobres convivem com isso diariamente e não podem contar com essa rede de apoio. Reviver essa história me trouxe gatilhos de outros relacionamentos abusivos que já vivi. Ali, mesmo que ninguém tenha me obrigado a não falar — eu já tinha sido exposta e não queria me expor novamente — me senti silenciada.

Rodrigo e Dayanne formaram um casal no reality "Casamento às Cegas" - Divulgação Netflix - Divulgação Netflix
Rodrigo e Dayanne formaram um casal no reality "Casamento às Cegas"
Imagem: Divulgação Netflix

De certa forma, seu parceiro do reality te pintou como "carente". Você sente que, de alguma forma, as mulheres são mais dependentes emocionalmente do parceiro?

Ao mesmo tempo em que saí com a imagem de carente, também mostrei meu lado de mulher independente. Eu sou uma mulher romântica, e não tenho problema em falar sobre essa característica. Ele me chamou de carente porque não foi capaz de suprir expectativas que ele mesmo fez com que eu criasse. Nas cabines, disse que era carinhoso e "diferenciado". Quando fomos para a vida real, se mostrou alguém racional e frio. Foi mais fácil para ele me chamar de carente do que assumir que prometeu algo que não conseguiria cumprir.

Muitas vezes dizem que a mulher precisa de um parceiro para ser feliz, que ela precisa ser mãe, que ela não pode ser independente etc. São essas exigências da sociedade que geram, indiretamente, dependência emocional nas mulheres.

Eu não preciso de um relacionamento para ser feliz, mas sou romântica. Quando estou vivendo um romance, me sinto transbordando. Só que isso não quer dizer que não consigo ser feliz sozinha.

O Rodrigo criticou bastante o jeito como você cuidava de casa. E você passou a ser uma pessoa mais atenta à organização. Se fosse o contrário, acha que ele também mudaria para te agradar?

Não acho que ele teria mudado. Acho inclusive que, se ele fosse o bagunceiro da relação, estaria tudo bem, ele não seria criticado. Iriam dizer que é algo natural do homem. O problema é que sou mulher e tenho que estar com a casa sempre arrumada, porque cuidar de casa é algo visto como uma função feminina. Mas foi positivo o programa ter abordado o tema. Muitas fãs se identificaram comigo nesse quesito: sou uma mulher com rotina profissional apertada e não tenho tempo para cuidar do lar. Depois que saí do programa, ainda não tive tempo para finalizar a organização do meu apartamento, mas pelo menos as roupas estão dobradas [risos].

Outro casal que deu o que falar no reality foi a Nanda e o Tiago. Assim como ela, você também já viveu um relacionamento abusivo em que demorou para identificar o parceiro como alguém tóxico?

Sim, a relação mais longa que tive foi abusiva e só consegui enxergar isso quando já estava decidida a terminar. É muito complicado perceber quando se está dentro do namoro, o sentimento distorce as coisas. Quando você sai da situação, quanto mais você se distancia, mais claro fica. Meu ex-parceiro fazia criticas ao meu visual, me afastou de amigos e da família. Acredito que o Thiago não tenha chegado a esse ponto, porque foi um relacionamento breve e em outro contexto. Mas consigo, sim, entender o porquê da Nanda não ter enxergado o abuso.

Uma das coisas que chamou atenção foi quando você perguntou sobre o signo do Rodrigo. A astrologia é algo importante para você? Com qual signo você não se relacionaria de jeito nenhum?

Sim, a astrologia é muito importante para mim! Inclusive estudo o assunto. Eu preciso analisar o mapa astral completo antes, mas posso dizer que tenho dificuldade em me relacionar com pessoas de Áries. Sou taurina com ascendente em Peixes e arianos são o meu oposto. Agora, posso te falar que, depois da experiência que tive no "Casamento às Cegas", Aquário é outro signo que vou pensar muito bem antes de me relacionar. Sorte que meu novo namorado é de Câncer, então está tudo certo.