"Ainda há um mundo para vacinar", diz presidente da Fiocruz
A pandemia ainda não acabou, mas seu curso começou a mudar depois que as vacinas entraram em jogo. E, se o Brasil passou muito tempo engrossando os piores números da tragédia, nos últimos meses, passou a atuar do lado inverso: na contenção da pandemia com as mãos da ciência.
Nesse enredo, uma mulher tem protagonismo: Nísia Trindade Lima, presidente da Fundação Oswaldo Cruz, instituição que é referência mundial em pesquisas científicas, sobretudo na área de doenças infecciosas. Seu papel tem sido crucial no desenvolvimento e na aplicação, mundo afora, das vacinas confeccionadas pela empresa AstraZeneca.
Foi ela quem coordenou as negociações com Ministério da Saúde, Universidade Oxford e a farmacêutica responsável pela produção do imunizante. Até hoje, já foram entregues 135,7 milhões de doses ao Programa Nacional de Imunizações.
Nísia co-preside o Grupo Diretor de Recuperação Econômica para aconselhar sobre o desenvolvimento de um Roteiro de Pesquisa das Nações Unidas para a Recuperação COVID-19 (2020). Além disso, mantém atuação em outros grupos internacionais como o consórcio de pesquisa Zika Alliance Network e o Plano de Ação Global da Organização Mundial da Saúde, entre outros
Cientista social com mestrado em ciência política, Nísia tem longa carreira como intelectual. Assim, traz um olhar fundamental na contenção de doenças infecciosas: aquele que vê a correlação entre saúde e organização social.
"Digo que a crise da pandemia é de ordem civilizacional, por sua dimensão humanitária, ambiental, social, econômica. Ela incide nos alicerces de nosso modelo de desenvolvimento e resulta de sua aceleração contínua e desordenada", diz.
Ao longo dos últimos meses, além de toda a sobrecarga inerente a um cargo de tamanha importância, Nísia teve ainda que lidar com os dramas pessoais. Perdeu colegas e amigos próximos para a covid-19.
Nesta terça-feira (23), a socióloga recebeu a homenagem hors-concours do Prêmio Inspiradoras 2021, uma parceria entre Universa e Instituto Avon. Na entrevista a seguir, ela conta sobre as perdas, os ganhos no combate à pandemia, as dificuldades e as vantagens de ser mulher e faz um alerta: "Ainda há um mundo a vacinar. A imunização é muito desigual entre as regiões do planeta e enquanto uma delas não estiver a salvo, nenhuma estará. Esse é um dos aprendizados dessa pandemia."
UNIVERSA - Vivemos um momento sem precedentes na história da humanidade: temos tecnologia e conhecimento científico para conter surtos ou epidemias e, no entanto, estamos, há quase dois anos, em pandemia. Onde falhamos?
A crise que vivemos não é apenas sanitária. É também uma crise humanitária e ambiental que põe em xeque nosso modelo de civilização. O que nos levou até a pandemia - que é a terceira epidemia grave deste quinto de século, ao lado da H1N1 e do Ebola - diz respeito a muitos elementos que estão na base de nosso modelo de desenvolvimento: adensamento urbano, modelo produtivo e de consumo predatórios, mudanças climáticas. A aceleração desses processos, que de alguma maneira são fundamentos da modernidade, propiciou o surgimento dessas epidemias. Devemos dar um passo atrás e orientar melhor os caminhos do desenvolvimento, sem essa evolução tão desordenada, preservando e focando seus aspectos positivos, como a conhecimento científico e tecnológico, e transformando os negativos.
UNIVERSA - A senhora está à frente de uma das instituições de pesquisa mais importantes do mundo, que ganhou ainda mais destaque e importância durante a pandemia. Qual o principal desafio desta tarefa? Se não for possível escolher um só, pode elencar os três mais difíceis.
Presidir a Fiocruz nesse momento de pandemia é ainda mais desafiador. Vivemos uma crise multidimensional como disse, que põe em questão o próprio modelo civilizatório, e na qual a Fiocruz, principal instituição de Ciência e Tecnologia em Saúde da América Latina, tem um papel de grande relevância. Os desafios são muitos: salvar vidas, desenvolver vacinas para garantir a cobertura de todos, fortalecer o SUS.
Os desafios que já enfrentávamos na Fiocruz na promoção da saúde pública intensificaram-se. A pandemia expôs e acentuou os problemas estruturais da sociedade brasileira, sobretudo as desigualdades, e, por isso, as respostas precisam também ser estruturais. Na Fiocruz, atuamos em diversas frentes. Desenvolvemos pesquisas, produzimos kits-diagnóstico em larga-escala, organizamos programas de assistência às populações vulnerabilizadas.
Mas posso elencar como momentos decisivos desse período o contrato de Encomenda e Transferência Tecnológica da Vacina de Oxford, por intermédio da farmacêutica AstraZeneca; a construção das Unidades de Apoio ao Diagnóstico para reforço do Sistema de Vigilância; a construção do Centro Hospitalar dedicado à Covid-19, vinculado ao Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI-Fiocruz); e o credenciamento pela OMS da Fiocruz, por meio do Laboratório de Vírus Respiratório e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), para ser um dos centros de produção de vacina por m-RNA, para fornecer vacinas à região da América Latina e Caribe, e possivelmente a outras regiões em um segundo momento.
Essas respostas à pandemia deixam um legado para uma visão de futuro, tanto no desenvolvimento de vacinas, com mais essa plataforma de m-RNA, que se soma à plataforma de adenovírus da vacina AstraZeneca; quanto em ações de preparação para possíveis novas emergências, sendo a Rede Genômica um exemplo, por se voltar para o sequenciamento do vírus covid-19 e identificação de possíveis variantes.
Como a senhora descreveria ou qualificaria seu desempenho individual na pandemia à frente da Fiocruz?
A minha atuação foi uma ação compatível com o cargo de presidente em uma instituição que tem uma gestão participativa com uma tradição de mais de 30 anos, o que torna mais forte e possível a capilaridade das ações. Meu papel foi sobretudo o de coordenar um conjunto de ações em diálogo com as esferas de governo, a sociedade e as próprias instâncias da Fiocruz. Foi o papel de alguém que promove essa organização, coordenação e diálogo. Em um trabalho como esse, que envolve uma quantidade significativa de pessoas e organizações, deve-se haver essa abertura para o trabalho em rede.
UNIVERSA - E o da sua equipe?
A equipe sempre trabalhou de forma muito colaborativa e ciente da responsabilidade que lhe cabia nesse momento histórico. Houve um esforço e sacrifício pessoal de todas e todos para assumir essa missão de salvar vidas e trabalhar a cada dia por ela. Essa é a razão de ser da Fiocruz e quem trabalha aqui de algum modo escolheu se dedicar ao cuidado. Essa predisposição comum em cuidar permitiu que o trabalho pudesse acontecer com toda a cooperação e compenetração possível.
UNIVERSA - No caso da parceria com a empresa AstraZeneca, para a produção das vacinas, qual foi o seu papel diretamente?
Eu acompanhei diretamente a prospecção que foi realizada pela equipe técnica de Bio-Manguinhos, em conjunto com a Presidência da Fiocruz, especialmente com a Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS). Acompanhei desde o início e a cada passo essa prospecção de todas as vacinas candidatas, bem como o diálogo que já vinha se estabelecendo com a farmacêutica AstraZeneca. Caminhamos nessa direção também porque vimos a possibilidade de termos o domínio dessa nova tecnologia, pelo acordo de transferência tecnológica.
Então minha atuação, que abordei anteriormente, também teve a ver com a importância que venho dando na minha gestão a um conceito que vem sendo trabalhado há cerca de 20 anos na Fiocruz, que é o conceito do Complexo Econômico da Saúde. Segundo o conceito, deve-se olhar a saúde como um fator de desenvolvimento, além de uma política social. Ele se mostrou da maior realidade e importância no contexto da pandemia, quando vivemos a carência de vários insumos de saúde, desde os mais simples, como máscaras, álcool em gel e outros equipamento de proteção individual, até os que exigem alto desenvolvimento tecnológico, como vacinas. Participei então ativamente nessa orientação de todas as etapas da discussão com o Ministério da Saúde e com o Congresso Nacional. Foi então uma atuação de prospecção, coordenação e diálogo com todos os atores envolvidos.
UNIVERSA - Ser mulher é um fator de vantagem ou desvantagem na sua posição?
Ambas as coisas. Pelo viés negativo, para alcançarem cargos diretivos, muitas mulheres, independente das profissões e dos modos de vida, precisaram lutar para conciliar a criação dos filhos, o estudo, o trabalho e a carreira. Um momento muito desafiador para mim, por exemplo, foi a época em que cursei o mestrado. Meu primeiro filho tinha um ano e ao longo do curso fiquei grávida de meu segundo filho. Precisei trabalhar muito, dando aulas no ensino médio de uma escola estadual e no nível superior. A carga de leitura era considerável, com textos complexos e em inglês.
Além de toda essa sobrecarga, uma mulher que alcança essa posição supostamente destinada aos homens ainda precisa enfrentar a desconfiança, e, por isso, exceder a média aceitável para homens. Isso é frequente em muitas situações de subalternização, não somente a das mulheres. Justamente para relatar essas experiências, desenvolvemos um projeto de memória institucional na Fiocruz, chamado "Mulheres na Fiocruz: Trajetórias". O projeto reúne vídeos com o caminho percorrido pelas nossas cientistas, seus desafios e conquistas, e mostra como essas experiências, apesar de parecerem individuais, são coletivas, dadas a sua recorrência.
Mas não só de dificuldades é feita a experiência de mulheres em posições de chefia. Características como saber escutar, não querer resolver tudo sozinha, saber trabalhar em grupo, comumente atribuídas a mulheres, são muito importantes para liderar organizações que se inserem cada vez mais em uma lógica de rede.
O Brasil viveu, durante os períodos mais críticos de pandemia, uma realidade duramente contrastante: reconhecido globalmente, nosso grande conhecimento e expertise no combate a doenças contagiosas conviveu com uma forte onda de descrença na ciência e tomadas de decisão, por parte das autoridades, que frearam o pleno exercício das nossas potências científicas. Como foi para a senhora, pessoal e profissionalmente, viver uma situação como essa?
Ao longo de toda a pandemia, procuramos nos manter concentrados na tarefa mais urgente que se apresentava, que era salvar vidas. Independente dos obstáculos que surgissem, resolvemos nos dedicar exclusivamente a aprimorar nosso serviço à sociedade, nos acordos de Encomenda e Transferência Tecnológica, na produção de vacinas e testes, na construção do Centro Hospitalar para a Pandemia de Covid-19 e no atendimento de pacientes, na pesquisa para novas vacinas, como a de m-RNA, que iremos produzir para atender a região da América Latina e Caribe, após a Fiocruz ser escolhida pela OMS para ser um dos centros dessa produção.
Conviver com as perdas é muito duro e todos conhecemos pessoas que foram vítimas da covid. Mas a tarefa de evitar novas perdas nos manteve caminhando. A sensação é a de que não podíamos deixar de seguir, porque aquilo que nos enlutava era justamente o que nos motivava a trabalhar. É evidente que não podemos nos embrutecer no processo, precisamos viver o luto. Mas a tristeza teve que conviver com a persistência, e não havia muito jeito de ser diferente. Certamente ainda precisaremos de um tempo, passada a pandemia, para estimar o saldo emocional dessa experiência. É um impacto tão grande que não ainda temos condições de mensurar, como indivíduos e sociedade.
UNIVERSA - Apesar de tudo o que passamos, parece que estamos virando o jogo: em algumas das regiões do país, a cobertura de vacinação chega perto de 100% e, nesta semana, covid deixou de ser a principal causa de morte entre os brasileiros. Já dá para comemorar?
Ainda que se tenha muito a comemorar, pelo avanço da vacinação e a redução acentuada de casos graves da doença no Brasil, não podemos nos descuidar. A pandemia não acabou. A taxa de transmissão ainda é elevada, segue em nível epidêmico no Brasil e em alcance pandêmico no mundo. Estamos aqui distantes do mínimo de 80% da população imunizada, e a vacina, apesar de ajudar a reduzir a transmissão, não a bloqueia completamente. O desgaste com esses anos de incertezas, perdas e sacrifícios é compreensível, mas precisamos manter a cautela o quanto pudermos. As medidas não farmacológicas, como uso de máscaras, higienização das mãos, distanciamento social, passaporte vacinal são e ainda serão fundamentais por um tempo.
Além de nosso contexto nacional, ainda há um mundo a vacinar. A imunização é muito desigual entre as regiões do planeta e enquanto uma delas não estiver a salvo, nenhuma estará. Esse é um dos aprendizados dessa pandemia. Estamos vendo uma nova onda na Europa, onde a covid voltou a ser a principal causa de morte. E isso mesmo em países com cobertura vacinal maior que o Brasil, como Alemanha, Áustria e Lituânia.
Apesar de ser um alento incontestável reduzirmos tanto as perdas humanas da doença, seguimos precisando diminuir o impacto do vírus. Quando chegarmos a um patamar mais seguro, precisaremos manter esse impacto baixo. Ainda temos um caminho pela frente a percorrer antes de nos vermos plenamente a salvo e até lá precisamos manter os cuidados.
UNIVERSA - A sua formação é em ciências humanas, não biológicas. No entanto, a Fiocruz está no imaginário do senso comum como um centro de pesquisas em ciências biológicas. Isso costuma causar estranhamento?
No meio científico, pode-se dizer que represento dois grupos ainda minoritários, por ser mulher e cientista social. No entanto, há uma compreensão crescente, inclusive na gestão de políticas públicas, que o conjunto dos fenômenos sociais tem grande relevância na saúde pública. Fala-se bastante, por exemplo, em determinantes sociais da saúde: em que medida a ausência de saneamento, a poluição, o emprego, a alimentação, a habitação, a violência também afetam o bem-estar e a saúde das pessoas.
Celebramos recentemente os dez anos da Declaração Política do Rio sobre Determinantes Sociais da Saúde, que resultou da Conferência Mundial realizada na cidade e teve grande protagonismo do Brasil, não apenas por ser sede. Essas discussões remontam ao início do século e entre 2005 e 2008, o Brasil teve uma Comissão Nacional para Determinantes Sociais da Saúde que apontou uma série de recomendações de políticas que incidissem nesses determinantes. Compreende-se então a saúde em seu caráter preventivo, não apenas como ausência de doença. E esses determinantes requerem os recursos explicativos das Ciências Sociais, assim como os de todas as áreas do conhecimento, em uma abordagem transdisciplinar.
A pandemia evidenciou ainda mais esse aspecto multidimensional da saúde, na medida em que se constitui como fenômeno biológico, ecológico e social. O vírus é um patógeno que se transmite pelo contato humano em escala global. É evidente que as formas de se organizar a vida na cidade, o tipo de produção econômica, as desigualdades sociais, o grau de integração mundial e até mesmo a cultura, quando pensamos no hábito de se usar a máscara contra a gripe em países do leste asiático, interferem na velocidade de circulação do vírus, nos setores sociais impactados por ele, nas pessoas que sobrevivem ou não a ele.
O pensamento científico é tradicionalmente muito segmentado, é verdade, e torna-se urgente, cada dia mais, integrar os diferentes conhecimentos, para lidar com os desafios que se apresentam em toda sua complexidade e abrangência. Em sua devida escala, o fato de uma cientista social presidir uma instituição da gestão da saúde pública com a importância da Fiocruz é um bom presságio, e espero que essa confluência das diferentes áreas do conhecimento se intensifique com o passar dos anos.
UNIVERSA - A senhora poderia explicar qual é o espaço que as ciências humanas têm dentro da Fiocruz?
A Casa de Oswaldo Cruz (COC) é a unidade que perfaz essa ligação das ciências humanas com as demais unidades da Fiocruz. Ela tem múltiplas inserções e atua desde a preservação da memória da Fiocruz até as atividades de pesquisa, ensino, documentação e divulgação da história da saúde pública e das ciências biomédicas no Brasil. Os campos que ela abrange vão da arquivologia, documentação e informação, divulgação científica, à arquitetura e urbanismo, sempre em associação com as ciências e a saúde.
Ela guarda um importante acervo sobre a história das políticas de saúde pública no Brasil e tem importante atividade editorial, com revistas e publicações de livros. Serviços importantes da Fiocruz, como a Biblioteca de História das Ciências e da Saúde e o Museu da Vida, dedicado à divulgação científica, estão sob sua organização.
UNIVERSA - E ainda: poderia falar um pouco sobre essa relação tão estreita que as duas áreas têm quando falamos de doenças contagiosas?
Muitas dinâmicas do nosso modo de organização social foram determinantes para o surgimento do vírus. É o que chamamos de gênese social das doenças infecciosas, que se dá pela cadeia de modificações que estamos promovendo no convívio do homem com o ambiente e o mundo animal. As mudanças climáticas, por alterarem a temperatura e umidade das mais diversas regiões, criam um ambiente de pressão seletiva em micro-organismos, que leva ao surgimento de patógenos emergentes, que podem ser muito danos à vida humana e animal, como o Covid-19. Uma escala de produção cada vez maior em culturas animais dificulta a garantia de condições sanitárias e é em si mesma uma aglomeração que pode favorecer a reprodução de micro-organismos e doenças, como se viu em tantas diferentes doenças que atingiram animais nas últimas décadas. Um crescimento urbano desordenado e cada vez mais concentrado nas cidades, com grandes adensamentos e sem condições sanitárias mínimas, favorecem as condições de alta transmissibilidade das doenças contagiosas. Há uma série de fenômenos que escapam das ditas ciências exatas e que, no entanto, as atingem diretamente. Por isso digo que a crise da pandemia é de ordem civilizacional, por sua dimensão humanitária, ambiental, social, econômica. Ela incide nos alicerces de nosso modelo de desenvolvimento e resulta de sua aceleração contínua e desordenada.
UNIVERSA - Ao longo dos últimos meses, muitos pesquisadores e pesquisadoras ficaram doentes enquanto trabalhavam nas várias frentes para conter a covid. Como foi para a senhora, como gestora, lidar com essa situação?
A Fiocruz atua em muitas frentes, inclusive a pesquisa. Muitos profissionais nossos se expuseram ao vírus. A categoria que mais adoeceu foi a enfermagem, pelo contato mais próximo com os pacientes. Dada a responsabilidade do desafio permanente de cuidar das pessoas nesse momento difícil, também tivemos que lidar com os desafios pessoais que decorrem da pandemia. Nesse momento de angústia e luto, manter o ânimo e o de toda a equipe não é fácil, e precisamos perseverar por todo esse tempo entre a tristeza das perdas e a força para seguir fazendo o possível para evitá-las. Presidir a Fiocruz nesse momento é uma grande responsabilidade, nesse desafio de contribuir para minorar a crise sanitária, social, humanitária e econômica, e constitui ao mesmo tempo um privilégio, por poder atuar nessa instituição em que tantas pessoas depositam esperanças e que tanto pode fazer por todos nós.
UNIVERSA - A senhora, algum parente ou amigo próximo chegou a contrair covid? Se sim, poderia me contar sobre a experiência?
Infelizmente, tive a perda de pessoas amigas, entre elas meu orientador no mestrado em Ciência Política que concluí em 1989, uma grande liderança de pesquisa, o professor Luís Antônio Machado da Silva. Perdemos também colegas muito queridos na Fiocruz. Em meio a tantos, convivi intensamente com uma uma jovem pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Juliana de Meis, e com o professor Bodo Wanke, pesquisador emérito da Fiocruz. Os dois infelizmente nos deixaram neste ano devido à Covid.
UNIVERSA - Por fim, que mulher ou quais mulheres te inspiram e por quê?
Tenho admiração por muitas mulheres que me inspiraram por me fazer sentir que seu sucesso não era apenas individual, mas coletivo, por contarem com a presença de outras mulheres e com a efetividade de políticas públicas. Senti que esse caminho árduo não precisa ser trilhado sozinha. E que, na verdade, ele nunca é trilhado sozinha. Ao se relatarem as trajetórias dessas mulheres, percebe-se que as barreiras invisibilizadas, que elas precisaram superar, são muitas vezes as mesmas para todas: salários menores, cuidado com os filhos, maior desconfiança em relação a sua capacidade. Além disso, também se observa a presença decisiva de outras mulheres que as cercaram e de algumas políticas que lhe deram suporte; a realização não se deu apenas pelo esforço e talento pessoal. Quando uma mulher se realiza, então, ela contribui para que outras mulheres acreditem na possibilidade de realização. Mas é preciso lembrar que, para além do exemplo, políticas públicas são fundamentais para tornar efetivo o empoderamento, coletivo e individual.
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