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Professor pergunta se aluna levaria lubrificante a estupro e gera revolta

Luciana Cavalcante

Colaboração para Universa, em Belém

26/11/2021 16h09

Um professor do curso de medicina do Unifamaz (Centro Universitário Metropolitano da Amazônia) está sendo investigado pela conduta com uma aluna, após ser filmado durante uma aula ironizado se ela levaria lubrificante a uma hipotética cena de estupro ou se seria "no seco". O caso gerou protesto contra a cultura do estupro na frente da faculdade, hoje, em Belém. Na tarde de hoje, a faculdade particular anunciou a demissão do docente.

Segundo testemunhas, o vídeo foi gravado no dia 17 de novembro, durante uma aula prática de procedimentos cirúrgicos, na turma do quinto semestre do curso de medicina. A aluna registrou ocorrência policial contra o docente por importunação sexual. O professor da universidade particular também faz parte do corpo docente da UFPA (Universidade Federal do Pará).

A declaração é feita no momento em que a aluna estava se preparando para fazer a simulação de um procedimento de intubação. O professor repreende a aluna, que não estaria lubrificando o tubo corretamente:

Tá lubrificado esse produto? (...) Eu acho que não está coisa nenhuma. Quando a senhora for ser estuprada, quero ver se a senhora vai levar o tubinho de KY ou se vai ser no seco mesmo.

Uma das alunas que estava na sala e presenciou o fato contou a Universa que a vítima ficou sem ação no momento e que o comentário deixou a turma, cuja maioria era formada de mulheres, constrangida.

"Ao invés de corrigi-la, ele fez esse comentário e todas ficamos assustadas. Quando acabou, ela foi chorar no banheiro e fomos acudi-la", disse a aluna, que preferiu não se identificar, por medo de represálias.

A jovem informou ainda que a vítima procurou a direção da universidade no mesmo dia para pedir providências, mas que nada foi feito na ocasião.

Uma semana depois, ele passou por ela e fez sinal com a cabeça em tom ameaçador. Ainda deu aula na nossa turma de novo e a universidade não fez nada.

Ainda segundo a estudante, no mesmo dia em que o professor voltou a ministrar aula na turma, a vítima voltou à coordenação, desta vez com advogados, para cobrar providências. "Foi aí que eles soltaram só uma nota de esclarecimento". Sem solução, ela registrou ocorrência na polícia por importunação sexual.

Alunos da universidade contaram a Universa que professor continuava a dar aula nas turmas de medicina até ontem e que hoje teria faltado ao trabalho. No meio da tarde, a reitoria do Unifamaz anunciou a demissão do professor.

Protestos

Universitários de cursos de medicina de Belém protestaram hoje na porta do Unifamaz, pedindo a expulsão do professor. Nas faixas e cartazes, os estudantes reforçavam o repúdio a casos como esse e à cultura do estupro. Com gritos de "Não é Normal", "Unifamaz não passa o pano" e "Educação sim, estupro não", os alunos exigiram providências da universidade.

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Um protesto foi realizado contra o médico que citou estupro em aula de medicina, em Belém
Imagem: Luciana Cavalcante/UOL

Até então o caso estava sendo mantido em sigilo, mas ontem quando o vídeo vazou e a gente teve proporção do que tinha sido o ato, não conseguimos não nos mobilizar porque temos formação para não aceitar esse tipo de abuso. Não podemos aceitar isso dentro do nosso ambiente de ensino
Verena Bezerra, universitária

A Comissão de Mulheres da OAB/Pará foi acionada pelo grupo de estudantes e está acompanhando o caso. "Estamos à disposição para eventuais cobranças, porque esse não é um caso isolado, para que as instituições de ensino comecem a fazer ações de conscientização e combate à cultura do estupro, à importunação sexual, ao assédio sexual, mas sobretudo criem espaços que garantam a proteção da dignidade sexual, psicológica, moral de mulheres estudantes", disse Natasha Vasconcellos, presidente da comissão.

Faculdades se pronunciam

A Unifamaz divulgou em suas redes sociais uma nota de esclarecimento, em que afirma que logo que tomou conhecimento do ocorrido adotou "todas as providências cabíveis e procedimentos administrativos para apurar os fatos, por meio do Comitê de Ética Disciplinar".

A nota diz ainda que a instituição "repudia veemente qualquer prática inadequada na relação acadêmica professor-aluno".

A Famed (Faculdade de Medicina da UFPA) também emitiu nota se solidarizando com a aluna e informando que acompanha o caso, ocorrido em outra instituição de ensino superior. A Famed declarou que "repudia toda e qualquer forma de violência, e que a posição da instituição é pautada pelo respeito, ética e promoção da diversidade e cultura de paz".

Em um comunicado em suas redes sociais, a Universidade Federal do Pará, disse que tomou conhecimento de ato de assédio praticado por docente do Curso de Medicina, por ocasião de atividade realizada em outra instituição de ensino superior, e solicitou à Procuradoria-Geral a análise das providências cabíveis no âmbito da UFPA. A Universidade também se posicionou repudiando veementemente a conduta do docente e se solidarizou com as alunas atingidas.

A Polícia Civil do Pará confirmou que o caso de importunação sexual foi registrado e que segue sob investigação da Divisão Especializada no Atendimento à Mulher.