1ª mulher trans a ser madrinha do Carnaval do Rio: 'Abre portas para nós'
Pela primeira vez, o Carnaval do Rio de Janeiro terá uma mulher trans como madrinha de uma escola de samba —quem ocupa esse posto na Unidos da Ponte, de São João de Meriti, é a empresária Marcela Porto, 46 anos. Além da carreira na Sapucaí, ela tem uma longa trajetória no funk, como a Mulher Abacaxi do Furacão 2000.
"Esse é um papel muito importante, porque abre portas para nós, mulheres trans. A gente já abriu um pouco as portas com algumas musas, atrizes em novelas no horário nobre, agora madrinha de escola de samba. Tá ficando show", diz, em entrevista por telefone a Universa.
Marcela já foi musa da Belford Roxo, em 2017, e agora volta ao Carnaval no posto inédito para mulheres trans —no começo, quando entrou em contato com a agremiação pela primeira vez, teve medo de não ser aceita como madrinha por transfobia, o que não aconteceu.
Ela acredita que seu papel como madrinha da escola é dar mais visibilidade à causa trans:
É o Brasil todo vendo, a Globo filmando, vai ter trans na Sapucaí, sim.
No próximo Carnaval, a Unidos da Ponte, que pertence ao grupo de acesso, vai homenagear a santa brasileira Irmã Dulce.
"Estou um pouco nervosa, enferrujada depois da pandemia, mas vou começar a ensaiar em janeiro e também fazer algumas aulas de samba", conta.
Pioneira no Carnaval, no funk e na estrada
A trajetória de Marcela é longa e ela está acostumada a ser pioneira nos espaços que ocupa: há duas décadas, foi uma das primeiras mulheres trans a fazer sucesso no funk carioca, integrando a gravadora Furacão 2000, conhecida como Mulher Abacaxi. Anos depois, com o fim da carreira artística, se tornou a primeira transexual a tirar a carteira de motorista na categoria E, a mais alta, para dirigir carretas, e hoje comanda uma empresa de transporte de minérios.
"Como funkeira, eu cantava, fazia shows, fotos, até capa de revista. Quando fazia fotos para capas de CD, não colocavam meu nome, Mulher Abacaxi, para as pessoas não saberem que era uma mulher trans ali. O preconceito era enorme, se soubessem, não ia vender, então eu posava como se fosse qualquer outra modelo da internet", lembra.
"Mas, mesmo durante o auge da carreira artística, nunca deixei meu caminhão de lado. Fazia as duas coisas ao mesmo tempo. Virava a noite em show, ia para casa, tomava banho e ia para o areial cheia de brilho porque aquele glitter não saía por nada. O caminhão é meu porto seguro, é de lá que tiro meu sustento, porque o mundo artístico é muito ingrato."
Hoje, Marcela chefia 10 funcionários na transportadora, todos homens.
Trabalho no meio de um monte de homem aqui na empresa. Levo pão, tomo café aqui com os meninos e não tenho hora para voltar. Se um funcionário falta, eu ajudo a carregar o caminhão. Às vezes, os meninos precisam ir a um lugar de ruas estreitas, que tem manobras difíceis para fazer, eu vou junto. Afinal, se fizer alguma besteira, é o meu caminhão.
"Eu tinha medo, fiz minha transição já velha, com 30 e poucos anos, porque eu temia não ser aceita pelos outros caminhoneiros, de perder clientes. Mas não me lembro de ter sofrido transfobia. Se eu disser que sofri, estarei mentindo. Nunca fui humilhada e nem me trataram mal."
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