'Após enfrentar haters, larguei a vida de influencer e hoje sou mais feliz'
"Comecei a postar no Instagram sobre minha jornada de autoaceitação corporal em 2017. Era como um diário aberto de como eu podia ser feliz e me achar bonita sem ter um corpo no padrão esperado. Passei a me enxergar como influenciadora quando recebi relatos de meninas que mudaram a visão de si mesmas a partir do que eu tinha postado. Foi ótimo, porque sempre quis ter uma comunidade e ganhar dinheiro com isso no futuro.
Fui encontrando minha narrativa e sinto que finalmente acertei falando de autoestima. Sempre tive questões com o meu corpo e medo de engordar, sofri bullying quando criança porque era gordinha e tinha cabelo crespo. Na internet pude mostrar que dava para se amar além disso e tinha a missão de inspirar os outros. Passei a ver isso com o intuito de construir uma carreira.
Eu me dediquei mais ao trabalho de influencer em 2020, porque até então o que tornava possível pagar as contas era a profissão de maquiadora, algo que ficou de lado com a pandemia.
Em 2018 e 2019, ganhei dinheiro com publicidade no Instagram, mas era algo esporádico. No início de 2021, recebi a proposta mais cara da minha carreira, cheguei a receber em libras, foi muito bacana. Ganhei um dinheiro, mas não era suficiente para me sustentar, até pela instabilidade, mesmo com 15 mil seguidores.
Tiveram alguns acontecimentos que me deixaram com medo do próprio movimento de aceitação. As pessoas são muito reativas e julgam muito quem não teve ainda o 'clique' sobre o assunto. Às vezes, uma blogueira trata alguém sem respeito e isso me assustou muito por não saber de tudo e estar no campo de desconstrução, empoderamento feminino e militância.
Tinha medo de ser julgada, dar close errado, isso ficou chato demais. Vim com toda aquela empolgação e puxei o freio em 2019 com muito receio de ser cancelada. Vejo um lado muito cansativo, que afeta também as próprias lutas e militâncias.
Senti vontade de deixar o título de influenciadora esse ano por dois motivos principais. No início de 2021, troquei de profissão e comecei a atuar como social media de outros clientes, faço estratégias para as redes sociais deles e estou por trás de alguns perfis do Instagram sem o meu rosto, o que me aliviou.
Estava cansada de trabalhar com a minha própria imagem, é algo que satura e não é para todo mundo. Dá para ganhar dinheiro como influencer, mas não necessariamente de forma mensal ou estável, é uma gangorra.
O segundo motivo é que sentia pressão e angústia nesse trabalho, principalmente nos últimos tempos.
'As pessoas falam de seres humanos como objetos'
Sempre achei meu público educado e maduro. Quando uma foto minha ia parar em outra página com uma audiência diferente, via comentários diversos, de pessoas falando de seres humanos como se fossem objetos só porque eles estão em um objeto, que é o celular.
A partir de um ponto, parece que a dose de empatia já foi dada. Uma vez, fiz um vídeo de Halloween que narrava uma menina pirando vendo a Kylie Jenner e ela virava uma zumbi das plásticas, aí vieram pessoas falando que eu estava fazendo brincadeira com quem sofreu fazendo plástica, sendo que era uma crítica.
As pessoas têm urgência de estarem certas e se sentirem superiores, protegidas do cancelamento, e você, do outro lado, ganha uma autoridade profunda quando há medo de ser cancelada. A gente quer saber, no nosso nicho, o que as grandes criadoras estão ditando, em termos de tendências.
Eu esperava uma autorização sobre o jeito certo de agir, vindo dessas pessoas que parecem autoridades.
Mas meu conteúdo mais viral foi super espontâneo e é um vídeo interpretando o que a cultura da dieta diria se fosse uma pessoa. Essa espontaneidade era boa, mas minha rotina em 2020, sem a maquiagem e no ápice da minha profissão de influenciadora, era sem agenda fixa ou hora para acordar, dormir e produzir. Tinha bastante dificuldade para gravar, tirar foto, fazer legendas e uma série de coisas da profissão.
Recentemente, ensaiei voltar como influenciadora, mas já vi que é algo que não vai perdurar de forma saudável para mim. O nicho de autoestima flerta muito com assuntos políticos e estamos em um momento extremamente delicado. A gota d'água foi chegar na minha comunidade e dizer que não pensava mais como antes, as pessoas podem concordar ou não, desde que não faltem com respeito e deem unfollow de forma tranquila.
Cuidando da rede social dos meus clientes hoje —por mais que eu não faça contenção de crise, se alguém for cancelado gosto de poder ajudar—, sou mil vezes mais racional, sei lidar. Se fosse comigo, teria zero condições.
'Minha vida é low profile'
Tenho arrependimento de ter me exposto tanto emocionalmente e ter falado da minha família, porque nem sempre o que a gente conta é recebido por alguém com boas intenções.
Arquivei alguns posts no Instagram que mostravam mais o meu corpo, já que eu mudei, a fase da minha vida mudou e eu era ingênua. Até hoje tem dias em que sonho que estou pelada na rua, isso te deixa se sentindo muito vulnerável.
Do lado bom, ano passado eu saí de uma depressão e, com meu público, foi um momento em que realmente vivi, ainda mais porque estávamos muito online em 2020, fiz lives e me realizei, bati metas que sempre tive.
Juntando tudo são dores e delícias. Meu perfil agora é privado, minha vida é low profile e tem sido muito gostoso, foi uma libertação entender que não estava acorrentada ou desperdiçando algo só por ter seguidores.
Estou em um trabalho muito mais palpável. Quando gravo um vídeo ou tiro uma foto fico feliz de deixar só no rolo da câmera, sem aquela necessidade de postar tudo e o tempo todo.
Se sou mais feliz? Sim, é a resposta mais curta. Hoje é doce, leve e enxergo o que está na minha cara há muito tempo: é o fim de um ciclo." Isa Carrad, 26 anos, social media, de Porto Alegre (RS)
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