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Professor de ensino religioso é investigado por importunação sexual no RS

Instituto Estadual de Educação Pedro Schneider, o Pedrinho, em São Leopoldo, cerca de 35 quilômetros de Porto Alegre - Franceli Stefani
Instituto Estadual de Educação Pedro Schneider, o Pedrinho, em São Leopoldo, cerca de 35 quilômetros de Porto Alegre Imagem: Franceli Stefani

Franceli Stefani

Colaboração para Universa

29/11/2021 15h14

Um professor de história e ensino religioso do Instituto Estadual de Educação Pedro Schneider, em São Leopoldo (RS) está sendo investigado por importunação sexual de três alunas. As jovens estão no 1º ano do Ensino Médio e têm entre 15 e 17 anos. O homem de 52 anos é suspeito de ter tocado de forma inapropriada em uma delas. A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) da cidade está investigando o caso, após a denúncia das alunas.

Segundo o boletim de ocorrência registrado pelas 3 adolescentes, o professor teria passado a mão nas nádegas de uma delas, na saída da escola. As alunas que fizeram a denúncia afirmam que a atitude não seria um fato isolado: ele teria o hábito de observar as meninas quando elas entravam e saiam dos banheiros da escola. Ainda teria mostrado as partes íntimas para uma delas e, por fim, tocado de forma inadequada a adolescente que, revoltada com a situação, gritou e pediu socorro. "Eu estava esperando para entrar no colégio quando simplesmente passou e me tocou. Não era aluna dele, mas sabia das situações que o envolviam", conta a aluna a Universa. O fato aconteceu na quarta-feira, dia 24 de novembro.

A Polícia Militar foi acionada e o suspeito localizado na estação de trem da cidade e levado à delegacia, para registro do flagrante por importunação sexual.

Porém, na tarde da quinta-feira, dia 25, o investigado foi solto. A delegada titular, Michele Arigony, informou a Universa que foi decisão do judiciário. Agora, a polícia vai ouvir testemunhas e fazer a coleta do depoimento das supostas vítimas, para entender, de forma mais detalhada, o que se passou com elas.

Professor foi afastado, mas responde em liberdade

Alunas colaram cartazes no portão da escola - reprodução - reprodução
Alunas colaram cartazes no portão da escola
Imagem: reprodução

O fato de o professor ter sido liberado da prisão gerou insegurança nas adolescentes que o denunciaram. "Fico preocupada que a situação possa se repetir. Eu pego ônibus, fico com medo dele ficar cuidando ou de voltar", afirma uma das estudantes que fizeram a denúncia.

O professor, que nega todas as acusações, foi afastado das atividades escolares. Agora, caberá à 2ª Coordenadoria Estadual de Educação (CRE) a decisão sobre o futuro do docente. Através de nota, os advogados de defesa do professor, Renan Jung e Humberto Reis, destacam que, ao longo de uma década de trabalho, não possui antecedentes ou queixas do tipo.

Em publicação oficial, o colégio diz que "repudia qualquer atitude de assédio ou discriminação". A direção da escola ainda informou que o professor começou a lecionar no local em 2020, quando as aulas ainda estavam de forma virtual, devido a pandemia do novo coronavírus. O contato presencial com os cerca de 300 escolares teve início no último mês.


"Como mulher, mãe e professora, me sinto acuada e com medo"

Fachada do Instituto Estadual de Educação Pedro Schneider - reprodução - reprodução
Fachada do Instituto Estadual de Educação Pedro Schneider
Imagem: reprodução

A mãe de uma estudante vítima do professor, que prefere não se identificar, conta que recebeu a notícia que deveria comparecer na Delegacia de Polícia com espanto. A ligação, no meio da tarde da quarta-feira, dia 24, foi feita pela direção da escola, que acompanhava a situação.

Moradores da Lomba Grande, área rural do município vizinho de Novo Hamburgo, ela conta que o colégio é um dos mais próximos de sua casa. "Eu deixei ela em frente ao portão da escola por volta das 12h30. Deste horário até as 13 horas tudo aconteceu. Ela estava com outra garota quando o professor saiu do instituto, passou a mão da minha filha e, então, houve o pedido de socorro", fala. A mãe de outro estudante teria presenciado a cena.

Outros casos envolvendo o educador já eram de conhecimento da comunidade. Uma professora havia sido chamada pelas alunas. Ela disse, então, que observaria as atitudes do colega e, então, tomaria alguma atitude. "Havia relatos de olhares maliciosos, ações não compatíveis, até mesmo que ele teria mostrado a genitália para uma menina", conta. Como ele não parou, outro educador foi acionado pelas estudantes. Dessa vez, atendeu imediatamente os pedidos, foi até a direção e passou toda situação.

Porém nenhuma atitude formal havia sido tomada pela direção do instituto até semana passada, relatam familiares das meninas envolvidas nos casos relatados. "Como mulher, mãe e professora, me sinto acuada e com medo, principalmente porque minha filha precisa ir e esperar o horário do início. Medo pelo fato dele estar solto, pela possibilidade de outros casos", diz. Ela elogia a coragem das alunas, que receberam apoio de colegas e outros pais, de terem formalizado a denúncia.

Nota da defesa do professor afirma que ele 'não tem antecedentes'

Procurados por Universa, os advogados de defesa do professor, Renan Jung e Humberto Reis, se manifestaram por uma nota oficial e destacaram que, ao longo de uma década de trabalho, não possui antecedentes ou queixas do tipo. "A defesa do professor informa que são totalmente mentirosas as alegações de importunação sexual por parte dessas alunas, para as quais o professor nunca deu aula. O professor acusado exerce a profissão de docente há dez anos, e não possui qualquer registro de antecedentes, tampouco queixas semelhantes", diz a nota.

A defesa ainda afirma que o professor estaria sendo acusado pois vem sofrendo de uma "perseguição política-ideológica por não compartilhar do mesmo ponto de vista de alguns colegas docentes, assim como de alunos".

Os advogados também questionam a falta de provas. "Na ocasião da denúncia as mães das alunas indicaram possuir vídeos do ocorrido, mas até o momento não levaram uma só prova ao inquérito, tanto que o professor foi imediatamente solto por decisão judicial".

Escola e Secretaria da Educação se manifestam

Em nota, o Instituto Estadual de Educação Pedro Schneider afirma que o professor envolvido foi afastado das atividades escolares e a 2ª Coordenadoria Estadual de Educação decidirá sobre o futuro profissional do docente. "As partes envolvidas foram ouvidas e orientadas a procurarem as autoridades policiais para que seja investigada a ocorrência de possível crime. O Instituto repudia qualquer atitude de assédio ou discriminação."

Já a Secretaria Estadual da Educação do Rio Grande do Sul afirma que está acompanhando e em contato constante com a equipe diretiva da escola e comunidade escolar para a apuração dos fatos. E reforça que "o professor em questão está afastado da escola enquanto o caso é averiguado" Segundo a Secretaria será aberto processo administrativo para análise da ocorrência e para potenciais medidas a serem tomadas, de acordo com o andamento das investigações.