No Brasil, deputada dos EUA detida por questionar lei fala: 'marginalizada'
A deputada democrata americana Park Cannon foi presa em março deste ano ao tentar entrar na sala do governador na Assembleia do Estado da Geórgia, nos Estados Unidos, o qual representa. Ela tentava chegar ao líder estadual para questionar a sanção de uma lei que restringia o direito ao voto na região, mas acabou algemada, sendo solta na sequência.
"Sou uma mulher jovem e negra que ainda é marginalizada, econômica e politicamente", disse, durante sessão na Câmara dos Deputados, no Brasil, na manhã desta terça-feira (30) que discutia a violência contra mulheres negras.
A sessão foi promovida pela deputada federal Tia Eron (Republicanos-BA) e contou com a presença de diversos nomes femininos de destaque, como a educadora Anielle Franco, diretora do Instituto Marielle Franco, a jurista Soraia Mendes, a professora Danieli Balbi e a superintendente de prevenção à violência da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, Major Denice Santiago.
A presença de Cannon mostrou que os problemas relatados pelas mulheres brasileiras é uma realidade, também, nos Estados Unidos. Em sua fala, criticou a subrepresentação feminina na política, afirmando que a questão fere a própria democracia.
"Democracia é ter pessoas de todas as origens sentadas nas mesas decisórias. E é a única maneira de incluí-las", disse, ressaltando que, após a lei que restringe o voto em seu estado, ela e outros parlamentares solicitam com urgência a aprovação de um projeto de lei que expanda o direito.
"Não é assassinando a minha irmã que vão nos calar", diz Anielle Franco
Um dos temas mais discutidos na sessão foi a violência política contra as mulheres negras. Irmã da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, Anielle Franco falou sobre todos os obstáculos que o grupo enfrenta para ocupar os espaços de poder, mas que continuarão lutando para estar neles. "Reitero que a luta das mulheres negras nesse país é todo dia. Já fazemos política quando estamos vivas", afirmou.
Diretora do Instituto Marielle Franco, Anielle lembrou a morte da irmã, que até hoje segue como um símbolo para diversas mulheres na política. "Não é assassinando a minha irmã que vão calar as mulheres negras."
Na mesma linha, a deputada federal Vivi Reis (PSOL-PA) questiona a baixa representação no Congresso brasileiro. "Somos só 3% na política. Onde estão as mulheres negras? Ainda estão nos trabalhos domésticos, de baixa remuneração, fora dos espaços da universidade e na maioria dos alarmantes índices de violência doméstica e feminicídio", disse.
"Racismo no Brasil pesa sobre os corpos das mulheres negras que enterram seus filhos", afirma pesquisadora
Professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a pesquisadora e ativista Danieli Balbi explicou que o racismo vivido hoje em diferentes situações pela população negra ainda é resquício do passado do país.
"Estamos em um processo de escravatura que não foi concluído. O racismo no Brasil pesa sobre os corpos das mulheres negras, que enterram seus filhos. Ainda hoje são a menor parcela da população na composição social nos espaços de poder, de privilégio, de conquista de cidadania. Mas é uma história de resistência", comentou.
Entre as saídas propostas, a deputada Tia Eron sugeriu a criação de uma comissão permanente e mista para promover a igualdade racial.
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